Bem o “sapinho” depois de tantas reclamações lá se recompôs, lavou a cara e conseguiu mais uma vez baralhar os bloguistas!
Demorei um tempo a perceber como é que se faz a migração, o problema é que os links e os amigos não vêm com ela, o que vai dar um trabalhão! Também vou ter que apreender todo o sistema para tornar a colocar isto tudo no lugar, para além disso estava a pensar mudar a apresentação e esbarrei com dificuldades técnicas…
Se vale a pena?
Sinceramente não sei! Vamos deixar isto solidificar e depois respondo!
Majeure cinquième (do Bridge)
O convite foi deixado na entrada, devidamente fechado e com a expressa ordem para me ser entregue em mão. A letra era inconfundível, não tinha qualquer razão plausível para o recusar, para além disso quem o assinava, dificilmente mandava convites: dava ordens.
Lá se tinham gorado os planos para um sábado mais ou menos morno, entremeado por umas idas ao café, um almoço em frente ao mar e uma sesta tardia.
Telefonei a combinar o local de encontro. A recepção seria ao meio-dia pelo que combinei com a minha "boleia" que o melhor era chegarmos um pouco mais cedo, pelo menos teríamos o direito de inaugurar o bar.
Do lado de lá um grunhido de satisfação e aquiescência. Depois um risinho surdo e uma pergunta cínica:
- Estavas a pensar dar uma desculpa para não ir?
- Sabes muito bem que assinou o convite! Se fosses tu tinha uma dúzia delas para te dar!
- Olha, não precisas de ir de fato. Só lá vai estar a família.
Bem pelo menos salvava-se isso, detestava os sábados em que me obrigavam a andar dentro de uma camisa com colarinho apertado, gravata, a suar às estopinhas, sem falar das conversas enfadonhas entre aperitivos e bebidas.
Acordei cedo, fiz a barba, escolhi descuidado a roupa: uma camisa azul, desportiva, um blazer azul, umas calças de sarja, sapatos pretos. Tomei um duche rápido, fiz a barba entre uma ária de fim-de-semana e uma voz de falsete estremunhada. Meti o roupão que tinha pedido emprestado ao Sheraton e resolutamente se tinha recusado a deixar a minha bagagem. Depois do Paco Rabbane e do after shave, entre uns impropérios trocados entredentes, fui para cozinha. O aroma do café e das torradas deixaram-me por fim, mais bem-humorado e sem os últimos resquícios de sono.
Vesti-me calmamente pela casa, verifiquei se tinha tudo arrumado, descobri uma garrafa de um ano de Dão excepcional, que embrulhei resolutamente. Cheirava-me que ia beber cerveja e acabar em vodka. Ficava-me sempre bem alegrar o espírito do Yuri nem que fosse para ele guardar religiosamente aquele invólucro cheio de vinho para festejar um dia na sua terra, o de definitivamente ter-se livre da minha sombra.
Apanhou-me no local combinado, depois de eu ter passado por um pequeno centro comercial para comprar uma pequena lembrança para a personalidade que me tinha convidado.
O vermelho vivo, a alta cilindrada do carro, contrastavam com o mau gosto do Yuri pelas gravatas.
- Eu pensava que era informal! Vou ter ir comprar uma gravata?
- Se for preciso empresto-te uma das minhas.
A minha cara não lhe deixou muitas alternativas, não voltou a falar em gravatas e aceitou com um sorriso enorme o embrulho que lhe entregava. Levantou apenas uma pontinha para ver o que lhe tinha oferecido.
- Descansa, eu só vim assim porque tive que ir de urgência à Embaixada.
Más notícias, certamente as mesmas que me tinham evitado o despertador. Mantivemo-nos em silêncio o resto do trajecto.
Entrou com o carro pela garagem, arrumou-o e dirigimo-nos para elevador. Meteu as chaves, carregou para a subida.
Os dois gorilas como sempre no hall de entrada, a filtrar supostos penetras.
- Um dia destes devias substituir estes dois por duas hospedeiras de mini-saia!
Eles sorriram muito, como se lhes acabasse de mandar uns bons piropos.
- Isso queria eu, mas sabes o que é que me acontecia nesse dia, não sabes?
- Pois! As mesmas razões que me levaram a aceitar o convite.
Entramos. Mal acabávamos de ultrapassar as portas envidraçadas fui apertado num abraço e presenteado com um sonoro par de beijos.
- Sempre vieste! O Yuri disse-me que ainda não sabia se vinhas!?!
- Sabes que ele é um brincalhão Maminska - aproveitou para receber o embrulho que lhe dava.
- Ainda bem, tenho uma surpresa para ti! Mas vão tomar umas bebidas, o almoço é só à uma.
- Da! Nós vamos até ao bar.
Reparei que as jarras repletas de cravos brancos raiados de encarnado vivo, traziam na lembrança o cheiro de revoluções à muito concluídas.
- Não o deixes maçar-te com trabalho! Só pensa nisso. Já me vou juntar a vocês.
Viramos à esquerda, o corredor desembocava numa sala onde um criado vestido de branco, e por trás de um bar, se esforçava por mostrar trabalho numa sala vazia.
- O que bebes?
- Um martini on rocks! Diz-lhe que pode ser igual aos que o 007 pedia, e pode lá afogar também uma azeitona!
- Não consigo traduzir isso e ele não vai compreender a piada.
- Vê lá se começas a arranjar alguém que fale português, estou farto deste público que não se ri das minhas indirectas.
- Já sabes o que se passou?
A pergunta não precisava de qualquer resposta, ele conseguia ler nos meus olhos.
- Perdemos um parceiro para o bridge! Para além disso contava umas piadas racistas muito boas.
Ergui o meu martini contra o dele, rezamos uma prece e um elogio fúnebre sobre uma carreira prematuramente cerceada.
- Foi estúpido. Ninguém cometia aqueles erros todos. E agora quem é que convidamos?
- Podes sempre convidar o teu amigo, o da cor do teu carro, até dava jeito Yuri! Pelo menos ficávamos descansados quanto a possíveis armadilhas:
- Não devem te sido só eles, os da "casa azul" é que devem ter preparado isto!
- Olha com a confusão que vai lá para baixo, já não meto as mãos ao fogo por ninguém, nem mesmo pelos meus Yuri!
- Eu não tenho nada a ver com isso e agora perdemos um parceiro! Os outros dois que sugeriste, são "persona no grata" por estes lados.
- Tens razão! Depois do que fizeram na tua terra. E esquecia-me do pormenor, o teu filho morreu a combater pelo exército deles.
- Vamos tomar mais um! Estás a abrir velhas feridas.
- Desculpa! Fala com o "Mac" ele que convide o "Bife" ou o "Eiffel", em último caso podes sempre convidar um neutro.
Mais uma rodada, desta vez o criado "surdo-mudo" abusou na vodka. Mais um bater de cristal.
- Quem? Mas quem podemos convidar?
- Olha o do "Barbudo" - sugeri. Esquecemo-nos dele, com a porrada que andam a levar por lá. Para além disso as armas que o outro ia comprar eram para os tipos que os estão a combater. Portanto se somarmos dois mais dois?!
- Já me tinha esquecido desses, sempre imprevisíveis! Tens razão, só podem ter sido eles, mas muita gente fechou os olhos.
A conversa esmoreceu, Maminska Rosae acabava de entrar de braço dado com uma das mulheres mais lindas que eu já tinha visto em toda a minha vida.
(continua)
Finais de oitenta, o Muro acabaria por ruir, o monstruoso estrondo da sua queda, desafiaria a imaginação de qualquer um. O "Glanost" já estava em marcha à muito, a oriente.
Um telefonema rápido da embaixada, transmitido por uma secretária zelosa, marcava um almoço num local público, em que dois "inimigos" de longa data teriam direito a uma última refeição, juntos.
Pedi ao meu condutor que me deixasse na cidade, propositadamente longe, o ponto onde me apeei dar-me-ia espaço e tempo para perscrutar o ambiente. Tinha havido armadilhas montadas bem menos evidentes e velhos hábitos nunca se perdiam.
O dia estava soalheiro, os pombos na baixa esvoaçavam, alimentando-se pelas mãos de uma velha sentada num banco, alguns deles, já empanturrados e cheios de calor, entravam sem temor na fonte que decorava a estátua ou nas poças de água que bebedouros mal fechados deixavam entornar.
Aquela maldita gravata estava a tornar-se um incómodo, mas tirá-la daria um aspecto mais desmazelado do que eu pretendia.
Olhei o relógio, distraidamente, ainda faltavam uns bons dez minutos para a hora do encontro.
Entraríamos os dois ao mesmo tempo, fazia parte da boa educação, demonstraria que ninguém estava à espera de ninguém. Que não tinha havido tempo de armadilhar o local.
Alinhei na calçada propositadamente do lado esquerdo, teoricamente ele apareceria por uma das ruelas transversais.
Na primeira nada, um garoto apenas a correr. Um homem com umas malas mais ao fundo.
A próxima seria a evidente, larga com esplanadas laterais, dar-me-ia tempo para tudo.
Ele apareceu, sorridente, cabelos brancos, mais alquebrado do que o habitual, o levantar do braço, serviu para nos reunirmos e simultaneamente dispensar os dois gorilas que o seguiam. Pensei com os meus botões o Yuri estava a perder faculdades, há muito que lhe conseguia adivinhar os passos. Enquanto dávamos um aperto de mão caloroso e demorado, ele sabia que eu detestava beijos, os dois brutamontes acabaram por se sumir à direita, pelo passeio que torneava a praça.
Entramos no restaurante, como dois amigos que fossem comemorar um velho acontecimento.
Menos frugal que o habitual, mais eufórico encomendou lagosta e champanhe. Eu aceitei a sugestão.
A meio da refeição, ocupávamos uma mesa discreta mas onde poderíamos vigiar as entradas, ambos demos conta de um estranho personagem. Ao princípio nem se dava por ele, depois com uma rapidez enorme, saca de uma máquina fotográfica e começou por tirar fotografias pelas mesas. Sempre o mesmo ritual, uma foto, a entrega de um cartão e muitos salamaleques!
Quando se aproximou da nossa, o Yuri nem pestanejou, aceitou prontamente que lhe pedissem para sorrir e fez-me sinal para eu fazer o mesmo. Depois quando o fotógrafo se aproximou para lhe dar o cartão, pegou numa nota de mil escudos, sacou de um cartão da embaixada e pediu que o homem lhe enviasse duas cópias.
Confesso que o incidente me deixou sem apetite e declinei com ar de poucos amigos a sobremesa.
Enquanto não vinham os cafés, o Yuri desconcertou-me com uma enorme gargalhada.
- Estás preocupado com o quê? Fica descansado eu sei que não foste tu que o mandaste vir cá! Mas garanto-te também que não fui eu!
- Meu caro Coronel - eu gostava de o tratar assim quando o queria irritar - eu não fui, disso tenho a certeza. Mas qual foi a ideia de lhe dar um cartão com a sua identificação e mil escudos?
Aí o sorriso do meu velho "inimigo" rasgou-se quase num engasgo e rematou:
- Está descansado, a mensagem foi passada: a nota de mil era falsa...
Confesso que não recusei o digestivo bem aviado, que me puseram à frente quando o meu parceiro de almoço o encomendou ao ver a minha cara.
In memória de um velho espião que veio do leste e se perdeu nas brumas da "Guerra Fria".
Normalmente gosto de utilizar o que vou dedilhando para matar pequenos momentos de amargura. De vez enquando encontramos palavras que queriamos que fossem nossas. Deparei com um texto na minha amiga LADRA DO BEM que nos faz reflectir.
"Explicitamente roubado de DIÁRIO EVOLUTIVO
METADES DA LARANJA?
Não há almas gêmeas. O que há é um esforço imenso para manter-se em par, de mãos dadas e olhando, muitas vezes, em direções opostas. O que há é um que sorri dali e outro que chora de cá ou vice-versa. O que há é suor e amor abnegado, predisposição para negar-se até um certo ponto, de fingir-se até um certo ponto, de criar um personagem e esperar que um dia ele se torne real. Almas gêmeas são para as novelas, onde há um escritor todo poderoso e absoluto que escala um elenco e lhe dá as falas. As nossas fala, aqui no mundo de fora, nunca podem ser escritas nem sequer ensaiadas. Não deixo de acreditar no amor e na felicidade por não acreditar nas almas gêmeas. Muito pelo contrário. Nunca acreditei no que é fácil demais, e encontrar uma alma gêmea seria muito fácil. Dá a impressão de um todo pronto, acabado e arrematado. A única diferença entre uma mercadoria qualquer e uma alma gêmea seria o valor monetário que a última não possui, pois encontra-la-iamos, se existisse, de graça e ao acaso. Pois veja: existem almas afins, como essas nossas almas que se uniram e estão assim há séculos, mas só afins, que ninguém é pedaço de ninguém, e nem tão pouco somos seres que vagam na incompletude em busca da peça que, encaixando-se em nós, nos trará a felicidade eterna. Deixemos essas fábulas para os filmes e novelas. Vamos, sim, fazer valer esse amor que se tem nas mãos ou, para os que não têm, em breve chegará. Esse "fazer valer" de que eu falo é trabalhar o aperto de uma mão na outra, os olhares que tantas vezes divergem, mas cujas diferenças são sempre o sal a mais para o crescimento mútuo.
Nada, nada mesmo se consegue sem esforços. Romance de graça - ou quase -, só mesmo na novela das seis."
Bem o meu roubo não seria perfeito sem uma frase da minha parceira do crime:
"Se você não encontrar a sua metade da laranja, não desanime...encontre a metade do limão, adicione açúcar, pinga e gelo e seja feliz!!!!!"
Afinal até ela tem algo de útil para ser roubado!
Capítulo II
Ninguém é perfeito. Nem Deus, quando criou o homem!
- Olhai - gritou Clarence vedes aqueles muros dizem que foram neles que acabaram aqueles dois loucos. Quase tão loucos como aqueles que agora nos governam. Maldita raça de nobres sem qualquer sentido do dever, demasiado orgulhosos e cegos para verem o sofrimento do povo que lhes obedece.
- Vamos que passar no meio deles? Um bom local para uma emboscada
- É verdade Senhor, mas dificilmente os poderemos evitar! Mas depois de os passarmos estaremos a meio de sair deste deserto.
Adiantaram-se e começaram a passar entre duas grandes paredes que submergiam daquela árida terra. Ainda se notavam algumas torres desfeitas, aparadas pelos ventos, de tempos a tempos desenhavam estranhas figuras como se algum escultor mais paciente, durante uma vida inteira, se entretivesse a lapidar cada centímetro de pedra sobreposta. Nem sinal de vivalma, das ameias e das seteiras sobressaíam os lampejares dos raios de sol que os atravessavam e desenhavam entre si pequenos desenhos fulgentes por entre a poeira do caminho. Em vez de se tornar mais ameno, aqueles muros aumentavam e armazenavam o calor, tornando quase insuportável cada metro.
Nem o burro, nem os dois homens estugaram os seus passos, nem mesmo quando passaram em frente às duas grandes aberturas onde ainda se mantinham pregadas algumas correntes, velhos e grandes gonzos, bem gastos e ferrugentos que deveriam segurar enormes portas de madeira à muito apodrecidas.
Não houve comentários, a grandeza e o lúgubre aspecto daquele local, davam uma sensação pesada e insuportável.
De repente o cavaleiro juntou-se o mais perto que pode do bufarinheiro e entredentes sussurrou:
- Estamos a ser seguidos, alguém está dentro daqueles muros! Acho que vi um vulto a mexer-se Não olhes, nem mostres que o percebeste.
- Deveis ter visto mal! Algum fantasma talvez? Rematou Clarence com um nó na garganta.
- Existe mais alguma abertura nestes muros, Clarence?
- Vários, existem várias aberturas, o tempo foi corroendo os alicerces e de vez enquando abrem-se algumas brechas.
- Julgo que nenhum fantasma arrasta pó nem se esconde. Sabes se a próxima brecha à nossa esquerda fica longe?
- Mais uma boa centena de metros à nossa frente, porque?
- Vais adiantar o burro quando estivermos perto e nós ficaremos bem atrás à espera do nosso fantasma.
- E se ele estiver armado, Senhor?
- Teremos que lutar pelas nossas vidas com as nossas mãos Clarence!
O dono do burro visivelmente preocupado, começou a tentar perscrutar mais longe algum indício do vulto que o cavaleiro dizia ter visto. Ninguém se atrevia a pisar durante muito tempo aqueles terrenos, não sem uma razão muito forte. Ou era um fugitivo ou então um assaltante errático, que decerteza absoluta não sabia das desgraças que acarretava andar por sítios amaldiçoados como aquele.
- Estamos a aproximar-nos devem faltar umas dezenas de metros!
- Faz o que eu te disse Clarence! Faz com o Pedro se adiante mais um bom bocado, ficaremos à espera que alguém apareça
O burro estranhou o toque num dos quartos dado pelo seu dono, mas como animal obediente, alargou o passo e começou um trote mais rápido. Se tivesse olhado para trás ainda mais preocupado tinha ficado, os seus dois seguidores tinham abrandado e tinham propositadamente deixado que ele alargasse a distância entre eles.
- O menino mais uma vez anda a roubar o leite à chiba
- Mãe não fui eu foi o Zé António.
- Deixe-se de conversas, o meu filho não fazia uma coisa dessas, eu vou fazer queixa à sua Mãezinha. Peça à Laida que lhe tire o leite da cabra
- Ela não sabe tirar Sabe melhor assim.
- Olhe que a cabra um dia destes manda-lhe uma marrada
- Não manda ela, já mandaram os cabritos.
Num gesto repentino afasto a melena e mostro o galo já amarelecido.
- Zé vai buscar azeite. O João tem um grande galo.
- Não é preciso, Mãe, olha vou ao Sr. Moura! Ainda me falta a broa e o presunto para ficar com o pequeno almoço completo.
- Ó menino, isso é mesmo abusar! Todos os dias a mesma coisa o que é que a sua Mãezinha vai dizer, que eu não lhe dou comida?
Nem lhe dei tempo, subi as escadas, passei a ponte para o lado de lá da eira, virei costas e pelo caneiro fui-me alojar na casa do Sr. Moura.
- D. Maria Adelaide, Ó Tia Adelaide
- Diz Porfírio?
- O fedelho tornou-me a roubar o burro. Esse miúdo é entronchado no Diabo! Se o apanho deixo-lhe o rabo negro.
Enquanto apressadamente se baralhava no sinal da cruz.
-Raisparta a peste do miúdo. Ó Joaozinho, venha cá
- Diz Mãe?
Surgi sem me fazer notar nas dobras do vestido.
- Ouça lá o menino tornou a roubar o burro do Porfírio?
- Eu mãe? Eu era lá capaz de fazer uma dessas? Se calhar foram os ciganos! Eu nunca roubei o burro ao Porfírio.
- Atão não? Da última vez até o trouxe todo molhado! O pobre estava a tiritar de frio. Mais, doutra que eu saiba, o Zé Cigano é que se veio queixar que você lhe tinha roubado o cavalo
- Achado não é roubado! Andavas tu a roubar cerejas no lameiro do Domingos e deixaste o animal sozinho! Eu pensei que se tinha perdido. Para além disso o animal até estava a precisar de um banho! Já agora quando é que tu tomas um? E o Zé Cigano estava na venda do Manel e que eu me lembre foi para casa com uma bebedeira e só deu falta dele no dia seguinte
O Porfírio estrebuchava de raiva. Estava a ver que lhe dava uma coisinha por ali.
- Mas o menino roubou o burro ou não?
- Mãe já te disse, que não, esse mentiroso já foi ver à loja se lá tem o animal?
Começou a correr caneiro abaixo, dobrou a esquina e passado minutos voltou com um sorriso nos lábios.
- Desculpe a chatice Tia Adelaide, mas eu tinha a certeza que o burro tava no lameiro. Para além disso os burros não trancam portas.
Sacana que não ias ficar sem resposta.
- Tás a ver ó Porfírio tens um burro mais inteligente do que tu!
- O menino esteja calado!
- Ouça lá ó Tia Adelaide, mas que idade tem o mafarrico?
- Tem cinco Senhor e numa prece com os olhos virados para o Céu tem cinco! Vê lá se ele aos cinco já nos põe os cabelos em pé daqui a um ou dois como será?
- Eu cá não sei Mãe, mas pelo andar da carruagem, o Porfírio daqui a dois anos já não tem cabelos, a puxá-los dessa maneira
Capítulo II
Se algum dia me perguntarem onde estou:
Aqui, por aqui, ali, mais além, umas vezes em Marte, outras vezes na Lua
Outras vezes à procura do que nunca vou encontrar!
O caminho por entre os arbustos e árvores esparsas, levaram-nos até aos cedros, durante todo o percurso, os viajantes olhavam de vez enquando por cima dos ombros, no entanto não trocaram qualquer palavra.
Quando se aproximaram, rapidamente se aperceberam que estavam no caminho certo:
- Cavaleiro, se ainda me quiserdes seguir, dentro de três horas e um pouco de sorte, estaremos a entrar na minha aldeia.
- Clarence, eu sei que não fui muito cortês com a tua fé. Mas continuo a aceitar a tua generosa oferta. Desculpa a minhas palavras sobre a tua gente. Mas acredita que do mundo de onde venho, alguns insensatos colocaram a sua fé ao serviço dos seus interesses e não deu bom resultado!
- Compreendo, mas eu fui educado nestes moldes! Os meus antepassados também e digo-vos que se não acreditarmos em alguma coisa nos tempos que correm
O caminho, tornou-se claro, tinha sido calcorreado por uma quantidade de gente com muita pressa. Os sinais da passagem da turba eram evidentes, aqui e ali o repisar das ervas e as pegadas que o pejavam, davam a entender a velocidade de quem o tinha tomado.
- Iam com pressa, provavelmente nem nos tinham visto!
- Oxalá a minha aldeia tenha escapado à investida destes filhos dos demónios. Não estou a gostar nada disto, se não vos importardes, apressaremos o nosso passo.
Enquanto dizia isto o bufarinheiro, incitou o burro a andar um pouco mais depressa, o cavaleiro acompanhou-os, sem comentários.
Os temores do dono do burro eram por demais evidentes, o seu sobrolho franzido demonstrava bem o seu pavor.
- Bom homem tentou de um modo apaziguador Está descansado, eles provavelmente eram um pequeno grupo que não se atreveria a enfrentar uma aldeia inteira, para além disso, deve ser com tu dizes, nós nem estávamos nos seus planos!
- Provavelmente tendes razão, mas não estou minimamente descansado!
A aridez do local foi-se tornando evidente, a quantidade de árvores e pequenos arbustos foi rareando.
-Vamos entrar num pequeno deserto, vedes ali aqueles pequenos morros, a partir daquele local teremos uma hora ou mais um pouco onde só veremos cardos secos e pó. Nada demais, mas estaremos durante esse tempo todo a descoberto. Depois entraremos outra vez em terreno fértil
- E como se chama este pequeno deserto? Perguntou o cavaleiro.
- Bem nós chamamos-lhe o deserto das Duas Muralhas. Dizem que aqui se deram duras batalhas. De tempos a tempos o vento deixa a descoberto algumas construções. Segundo a lenda, havia dois reis que quiseram dominar este lugar. Mas para o guarnecerem tiveram que trazer pedras e homens de muito longe. Foram tantas as dificuldades que no final só restaram as muralhas e os dois reis que as mandaram construir. Um de cada lado e assim acabaram os seus dias a vaguear e a comandar ataques de fantasmas. Não é caminho que eu aconselhe à noite, muito menos a desconhecidos. No entanto é a única maneira de não perdermos um bom par de horas a torneá-lo e a chegar mais depressa à minha aldeia.
- Bem pelo menos temos a certeza que não passaram por aqui! Vê Clarence, as pegadas dos nossos inimigos não vêm do deserto!
- Tendes razão, mas não me diz de onde eles vieram! Podem ter vindo de lá, este caminho é o mais rápido mas nem todos o conhecem.
Entraram definitivamente naquele ermo, a terra transformada em pó, não dificultava a passada. O ocre levantado por pequenos redemoinhos foi-se entranhando nas roupas e nas peles. Aos poucos as cores das vestes deixaram de se notar, os dois homens e o burro tingidos pela mesma cor pareciam figuras erráticas no meio do nada.
O esforço dos homens era apenas vincado pelo suor que empastava as frontes e lhes dava um ar estranho. O burro também incomodado, apressava-se a tentar sair daquele lugar. Ninguém falava, poupavam literalmente as forças para que aquela penosa jornada parecesse mais curta.
Capítulo II
Quem nunca se guiou pelas estrelas é porque nunca andou perdido.
A estranha sensação da viagem ainda se fazia sentir. Desembocaram todos por ordem de entrada, numa espaçosa clareira. A saída daquele passeio forçado não foi das melhores, excepto para Domart e Galomit, que pareciam habituados a utilizar estes métodos para as suas deslocações. O burro, o dono e o cavaleiro apresentavam ar de incredulidade, lentamente foram-se recompondo. A passagem por aquele vórtice deixou a sensação de terem viajado no meio de uma tempestade, onde nem sequer controlavam os sentidos.
A aterragem foi atenuada pelas ervas que cresciam descuidadas. Para além da cruz, algumas ruínas de construções antigas, ladeavam o local.
Dormat quase nem deu tempo para se aperceberem onde tinham desembocado:
- Meus amigos, vou guiá-los rapidamente por um trilho para que retomem o vosso caminho. Lamento ter que ser assim, mas já vou ter que justificar a intrusão de estranhos nas nossas terras e ainda explicar a vossa viagem. As leis dos antigos são para se cumprir.
- Teus superiores? - perguntou o cavaleiro Julgava que eram só vocês que habitavam estes bosques!
- Senhor continuou Dormat não me obrigues a falar sobre o que não posso. Eles estão a observar os nossos passos neste momento e é melhor que a vossa viagem prossiga
O cavaleiro e o bufarinheiro olharam em volta a tentar vislumbrar mais alguma presença que ainda não se tivesse manifestado.
- Não vale a pena! Eles não se deixam ver no entanto vêem-nos explicou Galomit com um pouco de temor na voz.
- Estranhos hábitos, não quero interferir nos vossos assuntos, mas vocês limitaram-se a salvar-nos a vida! Isso é digno de louvor e ficaremos agradecidos por isso para o resto das nossas vidas. Podemos atestar isso junto deles se quiserdes.
- Agradecemos, eu e Galomit, agradecemos a vossa defesa, mas por agora pedimos apenas que nos sigam. É mais seguro tanto para nós como para vós. E é tão estranho como o hábito que tendes de acariciar essa adaga que escondeis debaixo da capa
Sem dar tempo para réplicas, indicou um trilho que acabava bem junto das árvores e começou apressadamente a segui-lo.
Tomaram esse caminho e entraram do bosque quase cerrado. Apenas uma pessoa que conhecesse bem aquelas paragens se poderia orientar no meio daquele labirinto onde mal chegava claridade.
Foram rodopiando como se estivessem perdidos, sempre em fila e quando deram conta estavam mesmo junto à orla daquele imenso matagal.
- Eu sei que não é a melhor maneira de os deixarmos, mas as circunstâncias assim o exigem. Os meus respeitos a vós cavaleiro e a ti bom homem. Obrigado pela refeição que nos proporcionaste. Quanto à tua adaga não leves a mal ter reparado nela, os símbolos que cobrem a sua bainha são nossos conhecidos. Decerteza que nos encontraremos no futuro. Ide, o caminho é junto aqueles cedros que estão além bem juntos apontando bem para o limite do horizonte.
Quando se aperceberam do local onde teriam que se dirigir e se voltaram para trás, o cavaleiro e o bufarinheiro deram conta que os dois homens que os haviam guiado até aí se haviam esfumado.
Ouviram apenas um riso bem baixo, longínquo e o som das árvores a entrelaçar os ramos.
O cavaleiro e Clarence, olharam-se nos olhos numa pergunta sem resposta.
- Bem cavaleiro, estamos a ficar atrasados. O melhor é mesmo por outra vez as nossas pernas no caminho certo! O bufarinheiro pegou na corda que prendia o burro e começou a tomar a direcção que lhes haviam indicado.
- Estranha gente esta, Clarence.
- Porque Senhor? Só temos que agradecer os seus bons préstimos. Neste momento estávamos a dar de comer aos corvos e aos abutres. Dizem que aqueles bárbaros não tem pejo nenhum em tirar vidas humanas. Eu sei que os vossos costumes são outros, mas por aqui não costumávamos questionar as vontades destes bons homens.
Num trejeito de encolher de ombros, que acabava a discussão, McClaymore começou a seguir o burro e o dono.
Capítulo I
A verdade é apenas aquilo que os nossos olhos querem ver
Alguém consegue explicá-lo a um cego?
Os dois druidas, entreolharam-se e começaram por intentar desculpas que não saíram, o cavaleiro não lhes deu tempo para pensarem:
- Então? É a nossa vida que também está em causa, decidam-se depressa se nos querem ajudar, aqueles que aí vêm não vão esperar pelas vossas indecisões, Dormat!
- Que os deuses me perdoem por utilizar os seus conhecimentos a favor dos humanos, bem isto é um caso excepcional, vamos
Virando-se os dois andrajosos clérigos, começaram a aumentar a passada, o bufarinheiro a puxar o seu burro renitente e o cavaleiro, seguiram-nos.
Percorreram um caminho quase invisível que torneava o bosque, olhando uma outra vez para ver se os vultos ao longe faziam tenções de os perseguirem.
A forma arredondada do bosque por uns tempos deixava antever que a turba longínqua os iria a qualquer momento deixar de ver.
Os guias estugaram os passos e dirigiram-se para um velho castanheiro que se destacava por entre a vegetação mais rasteira e espinhosa que protegia as bordas do bosque.
Aproximaram-se e ostensivamente, Dormat fez sinal aos seus seguidores que parassem, continuou depois passando para lá da grande árvore. Ouviram-se uns estranhos dizeres, cantarolados de uma forma rude mas ritmada.
Clarence sussurrou ao cavaleiro:
- É a linguagem dos antigos! Deve estar a fazer alguma feitiçaria para nos proteger dos nossos inimigos!
Passados uns segundos, Dormat assomou ao lado do castanheiro e fez então sinal para o seguirem.
Galomit, McClaymore, Clarence e Pedro passaram pelos arbustos, rodearam o castanheiro e desembocaram numa clareira.
No meio dela, uma cruz, igual às que tinham visto no seu caminho e dentro dos muros monumentais.
Da cruz uma luz, filtrada, de um tom azulado que se transformava num espelho, suspenso em estranha forma, ou como se fosse um bocado de água ondulante a cair ininterruptamente na vertical. Criava formas, embalava e reflectia imagens do bosque à sua volta. Hipnotizados os dois caminhantes aproximaram-se, Dormat fez-lhes sinal para entrarem naquela espécie de lagoa que se mantinha no ar como por magia.
O cavaleiro, embora sem temor, perguntou:
- Bom homem, desconfio que nos quer pregar alguma partida? Ou talvez nos queiras afogar?
- Rápido não tenho tempo para vos dar explicações sobre isto! Entrai rapidamente, Galomit, faz as honras, os nossos amigos assim deverão confiar nos nossos poderes, eu serei o último para fechar o portal. Entrem, estão perto
O clérigo entrou, sem temor e desapareceu naquela parede que parecia engoli-lo lentamente. Desvaneceu-se como um fantasma no limbo.
Ainda com dúvidas quanto ao seu destino, o bufarinheiro, o asno e o cavaleiro seguiram-no, um a um.
Restou apenas Dormat que enquanto entrava entoava novamente um ladainha célere.
A parede como por magia, desapareceu, no seu lugar apenas a cruz, que deixava cair agora, na clareira a sua sombra, esvaziada de qualquer rasto.
Capítulo I
Um Rei perdido, cheio de fome, entrou na casa de um pobre moleiro, este ofereceu ao Rei pão com mel para se alimentar. Depositou em frente ao Rei um pequeno cesto de pão acabado de cozer. O Rei faminto comeu todo o pão que estava à sua frente. Depois de ter mitigado a sua fome perguntou ao moleiro:
Onde está o mel?.
O homem sabiamente respondeu:
Saiba Vossa Senhoria que o mel era a vossa fome que acompanhava o pão.
De um conto lido em qualquer lado.
Ao entrarem no edifício, o cavaleiro e Clarence sobressaltaram-se com as palavras desconhecidas que os seus dois esfomeados seguidores, pronunciaram numa língua estranha. Lentamente o bufarinheiro, voltou-se e para espanto de McClaymore, respeitosamente, baixou ligeiramente a cabeça e disse em direcção a Galomit e Dormat:
-Desculpai a minha falta, mas sereis sempre bem vindos à minha casa e a minha modesta refeição, reconforte os vossos estômagos!
O dobrar das sobrancelhas do cavaleiro, seguiu-se um silêncio embaraçoso, cortado prontamente pela voz de Dormat:
- Pensei que nos tivessem convidado para uma refeição?
- Perdoai a minha falta de cortesia disse numa voz de reverência o dono do Pedro Aproximai-vos por favor enquanto eu corto este pão e uns bocados de presunto
Enquanto preparava as vitualhas, o bufarinheiro foi-se aproximado do cavaleiro e numa voz baixa quase sussurrante disse:
- São antigos ocupantes destas paredes! Compreendi-o quando eles à entrada fizeram uma pequena prece na língua dos antigos!
- Mas será possível? - perguntou o cavaleiro Não disseste que isto está abandonado?
- Já sei, já sei! - disse Dormat, enquanto ensaiava um trejeito mal conseguido Quem somos nós? O que fazemos aqui?
Debaixo ainda do olhar inquisidor dos outros dois, enquanto sem cerimónias começava por tirar um grande naco de pão e de presunto, secundado por Galomit, o homem continuou:
- Somos apenas dois pobres seguidores dos deuses que através das nossas rezas e oferendas habitavam estes lugares! Depois fomos sucumbindo à velhice, os homens deixaram de acreditar, de ter fé e aos poucos os nossos companheiros desapareceram. Fomos os últimos a envergar as vestes brancas, mas também nós enquanto enjeitava um suspiro amargo até nós estamos condenados a desaparecer e connosco os últimos que poderão dar continuidade à nossa crença.
- E onde vos escondeis? Perguntou Clarence.
- Por aí, por ali! Respondeu Dormat.
- De vez em quando no bosque em frente Galomit entremeou com um engasgo do pão que abocanhava enquanto falava.
- Mas, mas -gaguejou o bufarinheiro não é proibido?
- Pois é!
Afirmou o desbocado, logo de imediato corrigido pelo seu companheiro:
- Na verdade bom homem, era proibido para os leigos, mas a nós sempre foi permitido. Para além disso onde nos esconderíamos nós dos perigos que atormentam estas terras? Sim porque infelizmente até já aqui chegaram os ataques das hordas. Há bem poucos dias passaram por aqui e invadiram momentaneamente estas ruínas.
- E ainda param por aqui? Perguntou McClaymore.
- Não sabemos, no entanto nada é seguro, aconselho-vos a deixar estes sítios o mais depressa possível. Eu e o meu companheiro faremos o mesmo mal acabemos de festejar com a vossa comida o nosso encontro.
Galomit empanturrava-se com um bocado de presunto enquanto abanava auiescente com a cabeça.
O silêncio que se abateu, era desconfortante, rapidamente, cada um ensombrado pelos seus temores pensava unicamente em deixar aquele lugar propício a emboscadas.
Sem cerimónias, o bufarinheiro foi buscar o atarantado burro que ainda trazia umas ervas presas aos beiços e asperamente começou a emparelhar o burro e a carregá-lo, debaixo dos olhares dos outros que nem tiveram tempo para o ajudarem. Em uníssono, como se estivessem todos a pensar o mesmo, os quatros dirigiram-se para o pátio onde a fonte brotava. Refrescaram-se, quase sem estugarem os seus passos e começaram a percorrer o caminho que os levaria à saída.
O burro sempre à frente, conhecedor daqueles terrenos, parecia compreender a apreensão dos homens que o seguiam eficazmente.
Aproximaram-se do largo portão da entrada, que desembocava na estrada que os levaria para os seus destinos.
Em frente foram-se destacando as primeiras árvores, velhos castanheiros e zimbros, entremeados aqui e ali por algumas espécies pouco conhecidas. Antigas, seculares como se fossem sentinelas que nunca abandonaram o seu posto. Hirsutas, selvagens que tinham crescido com o propósito conseguido de esconder dos olhos dos homens, segredos bem guardados. Alguns bem mais antigos do que elas.
Quando se aproximaram um pouco mais, via-se que o caminho que as bordejava, seguia em direcção ao infinito, ao semi descampado que levaria o cavaleiro e Clarence até à pequena aldeia que seria o seu destino.
De repente ao longe, sem aviso, começaram a desenhar-se algumas figuras que aumentavam de tamanho enquanto se aproximavam.
O burro, estugou o passo ao pressentir o perigo, o cavaleiro e o bufarinheiro quase em simultâneo, formularam a mesma pergunta, a voz de Clarence tolhida pelo medo morreu-lhe na garganta, apenas McClaymore se fez ouvir:
- Estamos perdidos, sem armas e montadas, dificilmente conseguiremos escapar daqueles que se aproximam. Dizei-nos bons homens, não há outro caminho ou esconderijo por onde poderemos furtar-nos a este encontro?
You never try to take the happiness, always to find it in the hell!
The Black List of The Great Wizard.
Capítulo I
De repente sem aviso, começaram a ecoar vozes no vasto pátio, sem tempo de se esconderem ou o burro que pacatamente pastava entre as enormes paredes do amplo átrio.
- Eu bem te dizia - ressoava a voz - temos aqui comida para mais de um mês!
- Mas o burro deve ter dono! dizia a outra voz.
- Como tem dono? Quem é que se atrevia a deixar aqui esta comida toda?
O cavaleiro e o bufarinheiro levantaram-se rapidamente, mas nem tiveram tempo de se aproximarem da saída, quando ouviram por entre interjeições de raiva e alguns impropérios, o burro a zurrar afincadamente.
Como um raio, transpuseram a ogiva que dava para o pátio e a cena com que se depararam era no mínimo caricata: dois vultos com as roupas rasgadas, que antigamente deveriam ter sido brancas, ou perto disso, jogavam às escondidas com o pobre Pedro, que os perseguia à volta da fonte que se encontrava no centro.
As vozes perdidas no fôlego da perseguição, apenas se interpunham com alguns esgares e caretas de puro medo, descompassadas pelo resfolgar do burro.
Este, mostrava os dentes como se fosse um leão, enquanto ensaiava alguns coices no ar. As duas figuras acabaram por ser literalmente empurradas para o meio tanque que rodeava a fonte, ferozmente guardadas pelo quadrúpede.
O cavaleiro não pode deixar de soltar um sonoro riso ao apreciar o quadro, o dono do burro, preocupadíssimo com a saúde do asno, correu precipitadamente para o animal que não deixava sair as duas tristes e molhadas figuras da água.
Ao sentir que Clarence se aproximava, o burro, baixou as orelhas em sinal de submissão e gratidão, mas sem tirar os olhos dos intrusos e ao mesmo tempo que soprava um zurrar triunfal.
- Bons homens, tirai essa besta da nossa presença! Esse animal tentou comer-nos
A voz de raiva do dono do burro deixava transparecer toda a sua vontade de dar uma lição, aqueles dois que lhe tentaram roubar o companheiro.
Afagou carinhosamente o animal que de imediato se acalmou, o cavaleiro ainda a esboçar um sorriso nos lábios, aproximou-se também, lentamente da fonte.
Os dois tratantes, transidos de medo e ensopados até aos ossos mantinham-se firmemente lá dentro, sem quaisquer vontade de enfrentar a fúria do burro ou a do dono.
O seu medo ainda aumentou mais, ao repararem a figura tétrica do cavaleiro. No entanto não intentaram qualquer fuga, preferiram, trémulos, continuar com a água acima dos joelhos.
- Vão ter que explicar muita coisa! A revolta do bufarinheiro era bem patente, escolheu bem o ritmo das palavras e o semblante para as acompanhar, o tom era verdadeiramente ameaçador.
- Tendes razão retorquiu um dos esfarrapados Nos apenas queríamos comer o vosso burro
- Bem na verdade retorquiu o outro o que o estúpido do meu companheiro queria dizer, era que nós não o queríamos comer.
- Não? Mas eu pensava que
O resto foi literalmente abafado pelo segundo, que de imediato, temendo a confissão apressada do seu sequaz, se apressou a tapar-lhe a boca com uma das mãos, para que não aumentasse a animosidade do bufarinheiro ou a do cavaleiro.
- Para ser franco continuou - nós apenas queríamos apanhar o burro para fugirmos o mais rapidamente deste lugar
- Decidam-se! Retorquiu o bufarinheiro. Afinal queriam ou não comer o meu Pedro? Enquanto brandia nas mãos uma vara grossa apanhada ao acaso no chão, demonstrando uma vontade inabalável de castigar os dois intrusos.
O olhar de súplica que levaram ao cavaleiro, fez com que este interviesse. Agarrou fortemente o ombro do bufarinheiro e cochichou leves palavras no seu ouvido.
Clarence, mostrando um ar inconformado, baixou a guarda e num súbito lampejo de boa vontade convidou:
- Afinal têm fome ou não? É que se têm fome, ainda tenho ali umas migalhas do meu pão para repartir com ladrões de burros
E num tom sibilino continuou:
- Nos velhos tempos só o pensamento de roubarem uma montada era pago com a morte, fosse ela qual fosse! Mas estes tempos já não são o que eram infelizmente Além disso continuou com prazer, virando-se para Sir McClaymore, enquanto piscava levemente o olho direito, num sinal de cumplicidade não vejo nenhuma árvore que aguentasse o peso destes dois pendurados numa corda
O esgar de puro prazer que tinham nos lábios com a oferta de comida, morreu, e num gesto instintivo, as duas cómicas figuras, plantadas no meio da fonte, levaram ambos as mãos aos seus esguios pescoços.
Lentamente e com a dignidade possível saíram da fonte, pelo lado oposto ao do burro, que ainda desconfiado, os observava.
Deslocaram-se até junto de Clarence e do cavaleiro e numa vénia teatral, o que parecia o chefe, apresentou-se:
- Dormat e Galomit apontando para o seu companheiro ao vosso inteiro dispor, cavalheiros
O cavaleiro ainda sorridente observava com atenção os dois personagens que pareciam tirados de um baú velho e bafiento.
O Que se intitulou de Dormat, mais alto que o companheiro, um pouco mais bem nutrido, apresentava umas rugas bem marcadas e umas cãs, que encimavam uma cabeça com um tamanho maior que o habitual. Debaixo daqueles trapos, deixava ainda ver umas pernas secas e pouco dadas a corridas, o outro a quem o companheiro chamou de Galomit, resplandecia-lhe uma nobre careca que ele tentava sem sucesso disfarçar, mais magro, enfiava-se dentro da túnica como se esta nunca lhe tivesse servido.
- Bem Dormat e Galomit, acompanhem-nos até ao edifício, Clarence vai tentar arranjar qualquer coisa para lhes matar a fome. O meu nome é McClaymore o do meu companheiro, já o sabem.
O cavaleiro e o bufarinheiro, seguidos dos dois andrajosos, dirigiram-se para a porta do templo. O burro, mais calmo e sem entender aquele estranho comportamento dos humanos, retirou-se outra vez para o meio das ervas que continuou lestamente a degustar.
Meus caros amigos, por razões de força maior (melhor salário, direito a férias e outras benesses sociais), fui obrigado a mudar de poiso, a partir deste momento, vou abrilhantar o espaço Teoria da Conspiração, gratos por toda a atenção que me dispensaram, podem continuar a enviar as vossas cartas para esse local, serão respondidas certamente com o profissionalismo a que sempre vos habituei
Ass: o Provedor dos Leitores
Lamento a saída extemporânea deste efémero colaborador, este blog estava a transformar-se num pasquim político e entrava em conflito com as directrizes do presidente e do editor (neste caso de moi même, tipo dois em um), o dito provedor também já não aguentava a pressão constante e já nem conseguia abrir as cartas que lhe eram enviadas. Por esses motivos alegou razões do foro mental e ainda justa causa para se por na alheta. Consultados os departamentos jurídicos e de gestão de pessoal, não se vislumbraram motivos suficientes para o manter no posto de trabalho. Para além disso o autor do blog (três em um), já o havia ameaçado fisicamente, pelo que o ambiente nesta casa se estava nitidamente a detiorar.
Ass: McClaymore
Capítulo I
As sombras do passado perseguem-nos até ao fim dos nossos dias.
O cavaleiro dirigiu-se lentamente para a fonte, a pedra era diferente da dos restantes edifícios. A sua alvura resplandecia e quase cegava em contraste com o tom ocre dos muros e das paredes. Encostado à ombreira da cornija da entrada do edifício onde iam tomar as refeições, Sir McClaymore, perscrutou o largo pátio para lá da fonte, deteve os olhos de vez em quando nos muretes, nas cimalhas e nos adobes carcomidos que se viam pelas frestas das janelas desgarradas. Aquele lugar não lhe agradava, era demasiado dentro dos muros, bem fundo e sem qualquer lugar de fuga. No entanto, conjecturou que dificilmente alguém se atreveria a entrar afoitamente dentro daquele labirinto, só se o conhece bem.
Dirigiu-se à fonte, desapertou um lenço negro que lhe envolvia o pescoço, molhou-o no tanque com movimentos rápidos, depois de o ter comprimido para lhe tirar a água em excesso, limpou cuidadosamente a fronte e o pescoço, desbotou o gibão em pele, primeiro os botões depois as fivelas laterais. Mirou-se nas águas que reflectiam a sua imagem, de vez em quando desfocada pelo caudal intermitente da fonte, a barba e os cabelos hirsutos, foram depois repassados também descuidadamente apenas para retirar algum pó do caminho que precisava urgentemente de ser limpo. Imaginou como seria bom tomar um bom banho para retirar a restante sujidade, mas isso teria que ficar para depois.
Preso nestes pensamentos foi acordado pelo seu companheiro que trazia uma braçada de madeiras velhas de portadas, soalhos ou janelas e alguns ramos e ervas secas.
- Como é que faziam os druidas desta casa para cozinharem e se aquecerem? Uma das coisas em que reparei, Clarence, é que não existem quaisquer árvores ou arbustos que sejam dignos de ser queimados dentro desta paredes.
- Pois não. Existiam algumas, mas foram destruídas pela seca e pelos homens que precisavam de queimar algumas coisas, mas eram pequenas e serviam apenas para dar alguma beleza ao lugar. Os monges iam buscar a lenha que queriam à mata em frente.
- Mas tu não disseste que era proibido entrar nela?
- Para nós mortais, senhor, os druidas entravam nela sempre que precisavam, inclusive diz-se que algumas das cerimónias e sacrifícios aos deuses eram lá feitos. Apenas eles se atreviam a entrar lá, segundo as leis deles se alguém fosse por eles apanhado a violar essa proibição, era banido e esconjurado, e podia mesmo receber um castigo exemplar. Nunca me lembro de tal, mas contava-se a história de um rei que um dia lá tentou entrar e que nunca mais voltou, o meu pai sabia o nome desse rei, mas eu já não sei essa parte da história. Talvez na minha aldeia haja ainda algum velho que se lembre.
Enquanto falava, Clarence foi-se aproximando de uma parede, deitou sem parcimónias o que levava nos braços e metodicamente de umas acendalhas que trazia numa bolsa a tiracolo, começou a fazer pequenas faíscas sobre a erva seca que tinha arrumado. Aos poucos e com um pouco de fumo começaram a surgir pequenas labaredas que ele com um sopro tratava de animar, quando elas se expandiram, pegou com ambas as mãos nesse montinho de erva e colocou-o debaixo das madeiras que tinha empilhado. Ateou-se lentamente uma pequena fogueira, quase sem fumo, a madeira estava bem seca por sinal. Depois, rebuscou nas tralhas que tinha retirado do burro e pegou num farnel embrulhado num trapo branco e numa caixa de madeira gordurosa. Do pano sacou um bom naco de pão, de côdea bem tostada e da caixa um naco de presunto avermelhado. Limpou o presunto do sal, pousou-o juntamente com o pão sobre o trapo, numa laje, que fazia de mesa. Depois desembaraçou-se do atilho do odre sobre o ombro e colocou-o ao lado das viandas.
- Eu sei que é pouca coisa, mas é partilhado com gratidão Senhor, pegai na vossa adaga e fazei as honras. Podeis repassar umas fatias deste presunto pelas brasas, ficará mais saboroso e libertará um pouco da gordura.
- Obrigado amigo, mas declino a primazia, divide tu a comida, a minha adaga tem outros fins, terás que utilizar a tua faca.
As sombras que caíram com aquele olhar demonstraram bem a pouca vontade daquela lâmina de se separar da sua bainha. A conversa esmoreceu e o bufarinheiro, começou a dividir rapidamente a refeição sem sequer levantar os olhos.
Cortou uns bons nacos de pão e sobre ele, umas fatias de presunto que metodicamente colocava no pano estendido. Deixou que o seu convidado se servisse.
O cavaleiro não se fez rogado, retirou um naco de pão coberto por um bom bife de presunto, começou logo a comê-lo, o bufarinheiro num gesto amável, entregou o odre já aberto ao cavaleiro, que sem cerimónias o levou à boca que depois de um ou dois goles o devolveu. Passou a mão pela boca, instintivamente para limpar um pingo mais teimoso.
- Bom néctar Clarence, tinhas razão, reconforta o espírito e vai ter o condão de nos animar para prosseguirmos a nossa viagem.
Capítulo I
Os Deuses habitam no coração dos homens enquanto estes se lembrarem que precisam Deles
Entraram num edifício enorme que certamente era o centro daquele enorme templo. As paredes conservavam as cornijas e aqui e ali pequenas inscrições. A abobada, aqui em pedra, recortava sombras nos pilares por aberturas altas e arredondadas, acentuava as gárgulas e imprimiam uma atmosfera de reflexão. Bem no centro uma ara de pedra tosca e fria, mostravam que ali se reuniam pessoas para cerimónias e ritos, se o local não estivesse tão frio e sem vivalma, poderíamos facilmente imaginar uma centena de vultos compenetrados a tentar salvar almas e a pedir as benesses dos deuses. Mais atrás, encostado às grossas paredes umas quantas cruzes em pedra iguais à que tinham encontrado junto à encruzilhada da ponte. Aqui o tempo parecia que não tinha passado por elas as inscrições e os símbolos estavam decalcados pelo cinzel, como se tivessem sido acabadas de esculpir e não deixavam quaisquer dúvidas, se é que restassem, na santidade do lugar.
Num canto, sem cerimónia viam-se algumas cinzas de fogueiras mal apagadas e algum lixo, que demonstrava que aquele lugar já havia servido mais do que uma vez para refeições e paragens de viajantes que ainda se a aventuravam por aquelas terras.
- Chega cá Pedro chamou o bufarinheiro deixa que e alivie da carga, depois podes ir até lá fora, petiscar umas quantas ervas, à falta de melhor jardineiro
O burro sentindo que o iam aliviar do fardo, manteve-se firma enquanto as mãos rápidas e experientes do homem, desfaziam os nós das cordas, tiravam as mercadorias e desembaraçavam destramente a cilha. Depois de tirá-la, retirou ainda a corda do cabresto e com uma palmada sólida empurrou o asno pela portada, para o largo pátio.
O asno cheio de alívio desatou às cangochas e aos coices, rodopiou de alegria e espojou-se, repisando a erva e coçando-se com alegria. Mais calmo e pacificado por esta liberdade precária, começou a pastar calmamente, depois de passar junto à fonte e beber fugazmente no tanque onde a água ia desaguar.
O dono não deixou de esboçar um sorriso ténue e imaginar que o pequeno quadrúpede lhe fazia lembrar os cavalos selvagens que de vez em quando apareciam a galopar no horizonte das suas viagens.
A pergunta do cavaleiro trouxe rapidamente Clarence para a realidade:
- A água é boa?
A resposta do mercador demonstrou alguma preocupação, depois, de pensar uns segundos respondeu:
- Dificilmente alguém a consegue envenenar a fonte, a sua água provem de uma mina, bem profunda e ninguém conhece onde ela fica, e se alguém o sabia, seriam os druidas que aqui habitavam e esse segredo, morreu com eles. Podiam outro sim, envenenar o tanque. Mas julgo que não o fizeram, a estas horas, o meu pobre burro já cá não estava para o contar.
- Espero bem que não bom homem. Lamento ter-te dado essa preocupação, mas nestes tempos os incautos infelizmente vivem muito pouco tempo.
- Compreendo, mas pelos vistos ainda ninguém se lembrou de tal barbaridade, ter que começar a ter mais cuidado para as próximas vezes que vier por este lados. Agora se não vos importardes de partilhar comigo a minha modesta comida e a minha bebida, convido-vos para uma refeição
- Pensava que não perguntavas, morro de fome meu amigo, qualquer comida e bebida serão bem vindas
- Vou começar à procura de ervas secas e alguma madeira velha que vai caindo por aí dos antigos sobrados e das empenas que ainda restam, demoro pouco, enquanto isso aproveitai para vos refrescardes um pouco Sir McClaymore.
Capítulo I
Outros são como fantasmas a vaguear na imensidão do limbo, a percorrer espaço e tempo à procura de um infinito que nunca alcançarão
Os dois homens e os animais apressaram o passo, o sol agora mais quente, fazia correr gotas pelas faces dos viajantes e a pele do burro brilhava com o esforço. As ruínas, magestáticas, enormes pedras decalcadas e amontoadas pelos homens, imprimiam um tom de solenidade no meio do descampado que se estendia ao longe, entrecortado aqui e ali por pequenas arvores não maiores que um homem. À direita, a contrastar com esse semi deserto, um aglomerado cerrado de árvores velhas estendia o seu perímetro bem demarcado, como se de um forte se tratasse.
- Clarence, aquele mato ali não será mais conveniente para o nosso descanso, pelo menos será mais difícil de sermos surpreendidos ou encurralados do que dentro de quatro paredes.
O bufarinheiro empalideceu, murmurou uma prece surda e um pouco incomodado tartamudeou sussurrante:
- Senhor, não me é permitido frequentar esse bosque. Já no tempo dos que visitavam este lugar lhe era vedado entrar nos segredos desse denso matagal
Antes que o cavaleiro tivesse tempo sequer de esboçar qualquer pergunta, o homem ainda trémulo informou:
- Os druidas proibiram qualquer homem de atravessar para além do perímetro de terra onde ele começa. Dizem que está protegido por magia muito forte e por estranhas criaturas que não temem ninguém. O meu velho pai contou-me que alguns mais afoitos o quiseram fazer e que nunca mais foram vistos. Eu não quero sofrer da mesma sorte e aconselho que façais o mesmo
- Caro companheiro de viagem, forçado, mas mesmo assim meu companheiro. Não duvido das tuas palavras e não leves a mal a minha pergunta, apenas a curiosidade me levou a fazê-la. Mas deixemos o bosque em paz e os teus temores e alcancemos as ruínas, a minha fome é neste momento, bem pior do que os monstros que habitam aquelas árvores
Dirigiram-se apressados para as sombras dos edifícios, o caminho aqui tinha sido tratado, e se bem que não estivesse habitado, por entre as perseverantes ervas que já enxameavam o local, estas dificilmente se desenvolviam no empedrado bem polido e bem assente que agora começavam a percorrer.
O musgo e algumas daninhas parasitas já começavam a tomar conta do lugar. As estruturas em madeira que sustentavam os telhados, que já não estavam lá, estavam carcomidas pelo sol e pela água da chuva.
Passaram uma estrutura enorme e sólida que se abria para um pátio interior. Os edifícios eram grandes e notava-se o cuidado na sua construção, fora feitas para enganar o tempo e lembrar aos homens a sua curta vida por entre estas vestutas paredes.
Aqui e ali ouviam-se os trinados das aves e os seus voos rápidos para apanhar algum insecto mais incauto.
O tapete de ervas não abafava o som ritmado do burro que rapidamente começou a percorrer aquelas lajes como se conhecesse o caminho de cor. Os dois homens acompanharam-no, ladeando paredes e passando por entre arcadas e pilares que separavam edifícios e algumas praças menores. De tempos a tempos uma aberura ainda com as portas de madeira, velhas, entreabertas e descaídas, davam um ar fantasmagórico e surreal aos espaços que percorriam, era como se ainda se sentisse o respirar dos monges que habitaram aquelas casas. O chiar das dos gonzos enferrujados das portadas, acentuava o tom lúgubre e imaginário daquelas pedras.
- O meu Pedro, já conhece estes lugares como ninguém. Quando ele parar, vou aliviá-lo da carga. Depois poderemos descansar uns minutos, beber e comer um pouco para retemperarmos as nossas forças. Ele sabe que mais no interior há uma fonte de água fresca. Será por aí que ficaremos, é abrigado e um local onde dificilmente seremos surpreendidos.
Capítulo I
Do conhecimento, todo o humano descobrirá que não é eterno.
Mais uma cruz, os mesmos símbolos rúnicos, bem antigos e ilegíveis, mas desta vez em pedra, muito velha, aqui e ali, o musgo verde cobria algumas fendas intemporais. Marcava uma encruzilhada que se bifurcava para este, por um caminho forrado por ervas altas e pelo matagal denso que o cobria, bem pouco concorrido, o trilho mal se vislumbrava. Em frente a continuação do que calcorreavam neste momento, a oeste, bem perto, a ponte.
A entrada, os dois pilares em pedra, com engastes em ferro, enferrujados pelas intempéries e pelo tempo. Um passadiço cujas lajes estavam polidas pelos cascos e pelo passajar das gentes. As ripas pareciam seguras, gastas, mas seguras.
- Mestre Clarence, acho que tinhas razão. Ao longe engana bem. Mas as amuradas precisam de uns bons reparos.
- Tendes razão, há muito tempo que ninguém se digna a pregar uma tábua nesta pobre ponte. Quando ela acabar o meu caminho vai ficar mais longo e bem mais perigoso. Se tivéssemos que ir em frente, teríamos que percorrer mais caminho, chegaríamos bem à noite à minha aldeia, as gentes e os senhores desta terra esqueceram-se ou não têm tempo para a reparar pontes. Para além disso esta é pouco usada. A insegurança, obriga a que cada vez menos as aldeias façam trocas entre si. Eu vou arriscando, é o meu sustento, mas muitas das vezes penso em abandonar a profissão, os perigos não compensam o lucro e ainda dou algum valor à minha vida.
O bater dos cascos do burro nas madeiras desgastadas, ecoava no rio, de tempos a tempos, nas velhas travessas que serviam de protecção, entrecortadas pelos apoios dos pilares, pousavam pequenas aves, ou guarda rios, que de um mergulho só, apanhavam pequenos peixes e levantavam voo a rasar as águas. O rio, de um azul averdiscado, deixava ver o fundo, e de quando em quando um peixe mais lustroso a reflectir o sol nas escamas, que de um pulo, apanhava um pequeno insecto descuidado, e em seguida num ápice, escondia-se temeroso no meio das pedras, quando as sombras dos homens e do burro se esbatiam no lodo.
- Se tivesse trazido uma cana e um anzol, aproveitávamos para fazer uma valente pescaria, vamos ter que nos contentar com carne seca, algum pão, algumas maças Clarence bateu no odre que trazia a tiracolo e se não tiverdes nojo de mim, bebereis um pouco deste vinho, dar-nos-á um pouco de alegria. De qualquer das maneiras, seria difícil cozinhar estes peixes, não é conveniente atear uma fogueira por estes lados. Se bem que o cheiro a queimado se entranhe por todo o lado, qualquer chama, ou pequeno fumo, serão vistos bem longe. Não precisamos de atrair mais convidados para a nossa refeição, para além disso, devemos sempre desconfiar das intenções de alguns Claro que não estou a referir-me a vós Senhor.
- Tendes razão, e descansa que não me ofendi. Mas por falares nisso, o meu pobre estômago já fala comigo há um bom par de minutos. Com o meu encontro tive que adiar o meu pequeno almoço, é como tu dizes, alguns convidados, estragam qualquer refeição.
- Mais um pouco, no final da ponte, veremos umas ruínas em pedra, tentaremos fazer lá uma paragem, aproveito para aliviar o meu Pedro da carga por uns instantes e para ele se refastelar com a erva que cresce por aqueles lados, também tem direito à sua refeição.
- Ruínas? E que ruínas são essas, Clarence?
- São de um velho templo e de alguns casebres abandonados, eram dos druidas que habitavam estas terras. Há muitas eras atrás foram abandonadas, eram eles também que mantinham a ponte reparada. Um dia pura e simplesmente desaparecem, ninguém sabe como ou porquê. Dizem que foram mortos pelas hordas e que alguns dos seus fantasmas ainda vagueiam por aí.
Capítulo I
Da incompreensão, quem descobriu que o mundo era redondo, devia-o ter guardado para si. Alguns na sua infinita ignorância julgam que o percorreram, quando se limitaram a ficar no mesmo lugar. A única coisa que se moveu foi a sua sombra e nem por isso eles deram conta, enquanto estavam a olhar para o próprio umbigo.
Forma aproximando-se do rio, o burro, ignorando as ordens do dono precipitou-se para a água. Os homens não se fizeram rogados e aproveitaram a sede do burro para também usufruírem um pouco da frescura das margens. Beberam também, rápidamente, sempre de soslaio. Nos tempos que corriam, voltar as costas ao perigo era uma atitude insensata, mesmo em campo aberto.
Depois de refreada a secura, retomaram rapidamente o caminho. O burro agora mais satisfeito nem precisa de ser admoestado. O caminho tortuoso e duro, aproximava-se lentamente da ponte. Podiam agora ver-se mais nitidamente os bocados das anteparas, soltas e mal mantidas, a madeira podre deixava trespassar a luz por alguns buracos, oxalá as ripas que iam suportar o peso dos dois homens e o do burro, estivessem em melhores condições.
O bufarinheiro aproveitou para continuar a sua narrativa:
- Como eu ia dizendo Senhor, depois dos antigos desaparecerem, as suas terras foram divididas por cavaleiros e senhores que tomaram o poder à força ou por astúcia. Alguns dizem que se aproveitaram mesmo das hordas para levarem em frente os seus desígnios. Estas terras foram divididas e retalhadas, nem sempre com as melhores das intenções. Laertum, o reino onde pertence a minha pobre aldeia, outrora já dominou mais de um terço do mundo do lado de cá da montanha, mas o último Senhor, Lord Monteld, não tem a vontade suficiente para se impor. O seu espírito guerreiro também não é famoso, aos poucos foi trocando as armas pela harpa. Infelizmente isso não enche a barriga a ninguém e os conflitos nas nossas fronteiras são cada vez mais frequentes. Para agravar a nossa situação, não tem herdeiros directos, os dois filhos varões morreram em escaramuças sem sentido ao irem em socorro de interesses de primos distantes. Na corte perfilam-se vários candidatos, mas nenhum deles com muitos direitos. A única filha casou com um filho de Lord Jovick, senhor dos Ostram. Se o futuro rei não for nomeado rapidamente, antes da morte do velho Lord, teremos mais uma guerra entre nações. Os Ostram tentarão fazer valer os direitos de Milady Guern e se tal vier a acontecer, os nobres de Laertum, dividirão as suas forças dos que apoiam a nossa integração no reino de Lord Jovick e aqueles que não aceitarão que sejamos governados por outro povo. O futuro deste pobre reino está entregue à sorte, e a nossa não se apresenta risonha. Para ajudar à confusão corre a lenda de que um homem, estrangeiro, virá para reclamar o trono vazio, mas que trará com ele também guerra para unificar as Nações para lutar contra os Saurcans. Nós só pedimos que nos deixem levar a nossa simples vida, trabalhar as nossas terras e que os nossos filhos possam brincar em paz. Desculpai Senhor o meu desabafo, mas as nossas vidas não são fáceis
- Hummm, o teu sentimento de revolta é natural. O teu Senhor poderia ter em conta os vossos anseios. Deveria ser melhor aconselhado, ou talvez nomear um bom sucessor. Compreendo a tua preocupação. Mas deverá ser a nossa de chegar inteiros à tua aldeia, não achas? A ponte que vamos atravessar é segura?
- A ponte é velha, mas suas madeiras são duras, a solidez das suas fundações também, não olhes para o aspecto geral. Ela vai decerteza puder connosco. Quanto à tua preocupação de chegarmos vivos à aldeia, tens razão, ainda nos falta isso, desculpai, as preocupações deste pobre bufarinheiro. Depois de atravessarmos a ponte, continuarei a minha história, pelo menos terá o condão de aliviar o meu temor.
A ponte aproximava-se a passos largos, os choupos e os plátanos aumentavam, o vento fazia balançar, sem muita força, os seus ramos que esbracejavam indolentes. O sol ainda mais alto batia forte, a paisagem soberba e a perfeição do quadro, apenas era obscurecida pela coluna de fumo que aumentava bem longe no horizonte, juntamente com os pensamentos e temores destes companheiros forçados de viagem.
Amizade.
Sinceramente, começa a preocupar-me o discurso do Jorge Coelho nos comícios do Carrilho:
é para dizer à minha amiga Bárbara que eu gosto dela
Estes sentimentos ficam-lhe bem, mas se fosse ao seu amigo Carrilho, começava a ficar profundamente preocupado. Amiga!?!
Com amigos destes quem precisa de inimigos.
E continuou alegremente o Jorge Coelho:
e o PS gosta dela
Convenhamos, quem é que não gosta? Sr. Doutor Jorge Coelho, alguém, mas alguém no seu perfeito juízo não gosta da Bárbara?
Já agora a candidatura é da Bárbara ou do Carrilho? Por favor decida-se, os lisboetas estão a ficar baralhados com tanta confusão.
Solidariedade.
Aproveito para deixar a minha solidariedade para com os Bailarinos (é em letra grande de propósito) da gulbenkian (em letra pequena, também é de propósito), e linkar o blog deles ao meu. O Senhor 3% deve estar pouco descansado na sua tumba, e cada vez mais preocupado com aqueles que se arrogam a administrar o seu legado. A cultura deste País, está de luto. Os tecnocratas que administram os bens da Fundação, também não: as suas reformas principescas estão a salvo, bastou deixar no desemprego uma centena de bons bailarinos.
Já sei, já sei o link do blog: Ballet Gulbenkian.
Pessoal do limbo, vamos até lá dar uma palavra de apreço e solidariedade. Evitem, como alguns, deixar apenas o fel exteriorizado pela falta de humanidade que grassa nos tempos que correm.
Toca a blogar
Eu tinha prometido a mim mesmo que a minha veia cínica ficava parada durante uns tempos. É difícil aguentar calado, quando a coberto de situações consideradas fundamentais, se consigam tomar medidas extravagantes e com objectivos obscuros.
Quem leu os livrinhos como eu li nas épocas de 80 sobre os perigos infindáveis que já se adivinhavam sobre o fundamentalismo que nessa altura se estava a formar, teria que começar a perguntar aos senhores que nos governam, quais as medidas que foram tomadas para minimizar os efeitos que já se previam e faziam sentir.
Os manuais da OTAN, já nessas décadas, falavam do perigo da tomada por grupos islâmicos radicais de governos até então considerados, do ponto de vista ocidental, de moderados.
Se leram ainda os manuais do Pacto de Varsóvia, verão neste momento no terreno que os bons alunos, tomaram o lugar dos mestres: Mais vale um homem atrás da linha do inimigo, do mil à frente dele.
Estas palavras são o culminar do que se está a passar na Europa. Os islamistas radicais mais não fazem do que por em prática as lições que receberam durante a guerra fria, tanto dadas pelos senhores da CIA, como do KGB.
Descuramos as nossas defesas ao não darmos a devida importância ao vazio de poder que se instalou depois da caída da URSS.
O terrorismo é a via fácil daqueles que a coberto de princípios, que só advogam para os outros, se escondem nas sombras.
O pior é o aproveitamento fácil dos governos ocidentais, que sob a capa de um pretenso poder que lhes foi confiado, quererem impor pela via legal, mecanismos de controlo até aqui considerados ilegais.
O controlo da Internet, das chamadas telefónicas e todo o tipo de comunicações, já era feito. O Dr. António Costa, durante a sua passagem por Bruxelas, fazia parte da Comissão instaladora. Ficou apenas como ele disse e muito bem apenas adormecida, os ataques terroristas servem apenas, mais uma vez para que os sistemas passem da obscuridade latente para a legalidade.
Aqui resta apenas uma pergunta, afinal quem são os terroristas?
São aqueles que deflagram as bombas ou aqueles que a coberto da morte de inocentes nos querem impor outras formas de terror?
Sim, porque o obvio está para acontecer, quem garante que a correspondência entre pessoas não vai ser violada posteriormente?
Quem me garante que aquilo que eu digo não vai ser revelado, mesmo com uma desculpa, de uma pretensa violação de segurança sem sentido?
Um caso mais estranho passou-se nos EUA, a coberto dessas mesmas normas de segurança, uma Agência Federal queria ter acesso ao código fonte de um programa que encriptava mensagens. O caso foi a tribunal e sobre as alegações da modesta Agência, fica apenas o registo: de que iam demorar muito tempo a descodificar as mensagens que fossem codificadas por aquele método, mas que não era para as lerem.
A resposta do Juiz, neste caso foi justa e imparcial, nem ele se acreditou na inocência da petição: não havia motivos para que a Agência tivesse acesso ao código fonte do programa, visto que se as mensagens não eram para ler, não havia nenhum motivo razoável para que ele lhes fosse facultado.
Resumindo, o caricato da situação era apenas o tempo que eles iriam perder a tentar arranjar um método para ler as mensagens, até um estúpido compreenderia isso.
Já agora vão guardar todas as mensagens e conversações que os cidadãos têm?
Porquê? Para quê? Quem as guarda? Quem tem acesso a elas?
E por fim, quando as apagam? E seu pedir o acesso a elas?
Já experimentaram como eu fiz, de pedir o registo das vossas chamadas a uma operadora?
Eu já o fiz, e não obstante elas admitirem publicamente que guardam esse registo, a operadora em questão, negou que o fizesse, e adiantou, mesmo que o fizesse eles não tinham autorização de as facultar, acho que isto chegaria para qualquer um começar a desconfiar das boas intenções das medidas que agora foram aprovadas.
Capítulo I
Da procura, nem sempre encontramos aquilo que queremos, é tudo uma questão de paciência, até que a solução nos venha para às mãos.
- Ninguém sabe como começou, mas ainda nos tempos dos antigos, quando eles mandavam por estas terras, começaram a chegar notícias sobre o que se passava para além das montanhas de Idich. Ao princípio eram notícias sobre um grupo de guerreiros nómadas que eram comandados por um chefe feroz. Por onde passavam, queimavam, pilhavam e violavam. As terras que iam conquistando eram logo tomadas pelos que os seguiam. Para cá das montanhas, nenhum senhor lhes deu a devida importância. Para conseguirem passar para o lado de cá ainda deveriam levar muitas eras, pensavam eles. O tamanho das montanhas e os seus abismos, também deveria ser um obstáculo e só quem soubesse o segredo da passagem é que se poderia atrever a percorrer os seus segredos. Não sabemos como, nem quem. Uns dizem que foi traição, outros que foi arrancada debaixo de tortura. Mas em suma, coisa é certa, à cerca de um ano, foram aparecendo grupos de guerreiros que se embrenham nas florestas, assaltam os viajantes e só uma boa escolta garante a segurança. Alguém ensinou o caminho aos Saurcans e aos poucos foram invadido estas terras. Dizem que são a guarda avançada dos que os esperam do lado de lá das montanhas e que só estão à espreita de uma boa oportunidade para se instalarem definitivamente. Por cá os grandes senhores não se entendem, continuam firmemente a guerrear-se entre eles, sem se importarem com o que se passa do lado de lá. A guarda avançada dos guerreiros tem feito muitos estragos, mas acho que os maiores são feitos pelos senhores que se guerreiam entre eles. A minha aldeia está nas terras do Senhor de Laertum, pagamos os nossos impostos, mas ele não nos garante as nossas vidas. Já não sei se é melhor viver sobre o jugo de estrangeiros do que viver a pagar com os nossos melhores homens, os nossos cereais, as nossas espadas e lanças. Muitos já se perguntam, se não seria preferível que os que aguardam do lado de lá para nos invadir, que o fizessem já. É terrível viver nesta situação. Os nossos recursos são cada vez mais escassos, o sal que levo no meu burro, seria bem mais barato e de melhor qualidade. Agora pagamos dez vezes mais do que pagaríamos à meses atrás.
O caminho foi-se alargando, a alameda frondosa foi substituída aos poucos por arvores mais baixas e mais esparsas, entravam agora num vale amplo cortado apenas ao longe por uma ponta de um rio que aparecia de vez em quando batido pelos raios de sol, que abrasavam cada vez mais. O caminho agora mais largo, era mais irregular e bem mais duro. Aos poucos, quando se aproximavam do rio, iam-se ouvido o grasnar dos patos. A paisagem expandia-se pelo horizonte, os sons dos sinos aos poucos foi ficando cada vez mais para trás, cada vez mais distantes.
- Clarence, sabes dizer-me porque repicavam os sinos com tanta intensidade?
- Não sei dizer Senhor, as gentes da ultima aldeia por onde passei, estavam agitadas e com ar de poucos amigos. Mesmo sendo uma visita regular, agora os senhores que a governam, os de Cahir, são inimigos de Laertum, pelo que mesmo eu, um inofensivo bufarinheiro sou considerado inimigo. Mas não é difícil de adivinhar a causa de tanta agitação, deveriam estar à espera de algum mensageiro e de recrutadores para os exércitos. Aqueles soldados que nos iam surpreendendo, deveriam pertencer à escolta. Estavam decerteza a vasculhar as redondezas para se certificarem que nenhum homem válido escapa aos seus deveres. Se nos tivessem encontrado certamente agora estávamos a fazer o caminho em direcção à aldeia e mesmo contra a nossa vontade iríamos preencher as fileiras de Cahir. Ainda não vos agradeci por isso. Mas aceitai as minhas sinceras desculpas e a minha gratidão. Os meus filhos e a minha mulher dificilmente me veriam tão depressa.
- Não precisas de me agradecer. Eu estaria nas mesma situação do que tu. A minha pele teria tanto valor do que a tua. A tua refeição e a tua ajuda a chegar á tua aldeia, são recompensas suficientes.
- Vou dizer ao Mestre Ollin para vos arranjar um cavalo e uma espada, pelo menos serão de melhor qualidade do que aquelas que ele normalmente vende a incautos.
- Obrigado, e o resto da tua história?
- Eu continuo, deixai-me tomar um pouco de fôlego. Estamos a aproximarmo-nos da curva do rio de onde poderemos ver a ponte que temos que atravessar, é já ali adiante, mesmo junto aqueles choupos.
Foram encurtando a distância, aos poucos sentia-se a humidade do rio e nas suas margens, começava-se a ouvir cantar das rãs que se escondiam no lodo e nos canaviais espessos. Uma garça, voava rente à água e fazia calar as rãs, ouvia-se o murmurar do rio, de vez em quando um tronco, tombado seguia na esteira da corrente, os ramos flácidos pareciam braços num último esforço para não serem submersos.
Lá ao longe a muita distância uma coluna de fumo, escura, eleva-se em espirais negras.
- Sarilhos ou desgraças comentou Clarence.
- Sabes de onde vem, aquele fumo?
- Além só pode ser nas terras de Celtius, provavelmente um ataque de uma horda de Saurcans, por ali fica a aldeia de Marginus, mau prenúncio, mas fica longe da minha. Costumava ir lá com os meus pais. Começaram aí os meus dias de bufarinheiro. Quando chegarmos à minha aldeia, teremos notícias decerteza.
O ar ainda mais preocupado de Clarence, não de molde a deixar o cavaleiro descansado. Dificilmente se fossem atacados teriam com que se defender, a coragem, ou a falta dela, do homem do burro também não seriam de grande ajuda. A adaga, não serviria de grande coisa contra machados e espadas. Alargou o passo, ultrapassando o homem e o burro. Da trilha, por entre os choupos começava a vislumbrar-se a ponte, aquela distância parecia intacta. As traves de madeira que se entronavam no rio pelo menos assim pareciam. O restante, tirando aqui e ali uma falha, também parecia em bom estado. No entanto, parecia um bom sítio para se montar uma emboscada. Teriam que se aproximar com cuidado e arriscar. Mas antes o melhor seria fazer um reconhecimento prévio. Estava farto de surpresas desagradáveis.
Capítulo I
Das provações, o caminho mais longo é sempre aquele que leva mais tempo a percorrer, muitas vezes é o mais curto.
Começava o dia a clarear, bem no alto junto ao cume, um raio de sol trespassava a neve que teimosamente ainda se mantinha debaixo do calor estival.
As árvores frondosas da alameda, sussurrantes e plácidas, argumentavam com o barulho da cascata que se ouvia intermitente. O caminho, de terra batida, ainda húmida dos últimos invernos, enxameava-se de verde rasteiro, pontilhado aqui ou ali por pequenas flores que teimosamente desabrochavam.
O trote do burro, ressoava oco e pesado, abafado pelos sons dos poucos pássaros que já começavam a constituir a sua prole.
O homem que seguia o burro, acicatava-o de vez em quando pelo espanejar de uma pequena vara apanhada sem escolha à beira do caminho. O suor que lhe escorria das têmporas indicava que se encontrava à muito a percorrer aquele trilho. De vez em quando por cima do ombro, mandava uma remirada rápida, para trás, aproveitava para azougar o burro novamente, como se fosse seguido por almas de outro mundo.
Lá ao longe retiniam sinos de alarme, trazidos no meio de um turbilhão que adivinhavam desgraças. O nosso homem, tez retesada pelo medo, alargava o passo e obrigava o animal que o procedia a fazer o mesmo.
Desembocaram numa clareira larga, onde o caminho se entrecortava com outros três, no meio, uma velha cruz celta de madeira, entalhada a ferro, cheia de símbolos rúnicos de protecção aos viajantes, encimava um montículo, mesmo no meio do cruzamento. Junto à cruz um vulto baixo e atarracado, vestes escuras e esfarrapadas, um capuz mal posto que descobria uns cabelos negros e brilhantes.
Um cinto largo de pele curtida e dura, enxameado de pequenos anéis brilhantes, serviam de aconchego a uma adaga larga e de lâmina dupla. Quando o homem do burro se aproximou, o vulto levantou-se sem pressas, mais alto, agora que o nosso homem do burro, que refreou o passo e aumentou o semblante ríspido.
O acenar do estrangeiro, e o sorriso que lhe elevou no rosto, acalmou a tensão, os bons dias dados em gaélico pelo estrangeiro e gesto universal de paz, descansaram finalmente o dono do burro que respondeu mais cordial.
- Bom dia estrangeiro
- Bom dia bom homem, desculpa se te assustei
- Nestes tempos de escuridão, somos desconfiados. Nestas estradas acontecem coisas terríveis. Eu apenas transporto mantimentos para a minha pobre aldeia
- Bem sei, mais uma vez as minhas sinceras desculpas, mas fiquei sem montada -apontou em direcção a poente o meu cavalo foi abatido por covardes
Sem pressas, mostrou a sela arrancada ao animal, e bem cravada no couro ainda uma flecha, escura e rematadas com penas de corvo.
O calar dos pássaros e o esgar de horror que se entranhava no seu rosto foi apenas cortado pelo som abafado de cascos que se ouviam, nem tiveram tempo para apresentações.
Rapidamente, sem lhe dar tempo para se recompor, o cavaleiro, agarrou na sela, empurrou o bufarinheiro sem cerimónias, puxou o burro pela arreata para fora do caminho.
Aproveitou uns arbustos que ladeavam a clareira para se esconder juntamente com os seus actuais companheiros. Apenas se preocupou com o burro, tapo-lhe os olhos com um bocado da sua capa e com a outra mão as narinas do quadrúpede, não queria que ele começasse a emitir sons ao sentir o cheiro de alguns primos. O dono do burro, inerte, quase imóvel, dificilmente se manifestaria.
Esperaram pouco tempo e por entre uma fresta dos arbustos, viu seis cavaleiros, de cotas brilhantes e espadas embainhadas, a desembocar na clareira. Não traziam estandartes, os cavalos, foram espicaçados sem cerimónia e como se já de antemão soubessem as suas direcções, dividiram-se em três grupos de dois e sairam à desfilada, pelos outros caminhos da bifurcação.
Quando já não se ouviam os sons dos cascos, o bufarinheiro, mais senhor de si, comentou:
- Pareciam que vinham com uma missão. Pouco vi, mas pareciam cavaleiros de Lord Almerdamm. Cavaleiro
A ponta de interrogação, e o tom cerimonioso do bufarinheiro, trouxeram à realidade a falta de apresentações, tão abruptamente interrompidas:
- O meu nome é McClaymore, e o teu, bom homem?
- Bufarinheiro Clarence, ao seu serviço Senhor. O vosso nome é estranho por estas paragens, lamento a vossa montada. Quereis colocar a vossa sela em cima do meu pobre Pedro? Ou o vosso caminho é diferente do meu?
- Não Clarence, vou aproveitar a tua nobre oferta e acompanhar-te à tua aldeia. Espero que por lá haja algum cavalo disponível?
- Não sei Senhor. Antes de partir há duas semanas, havia alguns. Tereis que perguntar ao forjador, ele é que normalmente tem alguns, que troca ou vende, conforme a s necessidades. Também precisais de outra arma, essa adaga é pouca coisa para enfrentar alguns perigos destas estradas.
O gesto brusco do cavaleiro e o seu semblante pesado, enquanto acariciava o cabo da arma, assustou mais uma vez Clarence. O cavaleiro, apercebeu-se, deixou cair uma ponta da andrajosa capa sobre a adaga e murmurou num tom ameaçador:
- Sim esta já tem dono
E numa voz mais clara, retorquiu:
- Tens toda a razão, bem preciso de uma. Mas preocupemo-nos agora em chegar à tua aldeia. O sol já passou o cume da montanha, espero que não fique longe.
- Ainda é longe, se apressarmos o passo e se o Pedro não se importar de levar mais a vossa sela, quando o sol já não estiver tão alto, deveremos estar a chegar. Faremos apenas uma pequena pausa para comermos, se não vos importardes de partilhar a minha pobre refeição?
- Obrigado bom homem, o meu bornal ficou pelo caminho e num rasgado sorriso, acrescentou também já não tinha muita coisa por onde escolher.
Aproveitando a deixa o bufarinheiro, depois de verificar se a sela estava bem acondicionada, retomou o caminho, o burro à frente, ele atrás, o cavaleiro a um passo.
- Julgo que ainda não me disseste porque ficaste tão aterrorizado com a flecha da minha sela, Clarence?
Enquanto admoestava o passo do burro, e alargava o seu, como se pressentisse perigo, o bufarinheiro respondeu, num tom mais baixo que o habitual:
- É uma história longa Senhor, e algumas partes nem eu sei se são verdadeiras
- O caminho é longo, vamos ter tempo de a ouvir.
- Como quiserdes. Eu vou tentar ser claro. E se por acaso ficardes confuso, tentarei explicar as partes que não compreenderes.
Esta missiva foi recebida em mão, continuamos a não divulgar as identidades dos nossos leitores por motivos de força maior, esta vem apenas com as iniciais OMO:
Exmos. Srs.,
Lamentamos que se refiram à nossa concorrência, sem querer entrar pela via do contraditório, informamos apenas que vamos intervir mais activamente na vida política portuguesa, especialmente na promoção dos glutões.
Resposta do Provedor:
Agradecemos que mantenham a vossa campanha no espírito do «lava mais branco», glutões já nos temos em quantidade suficiente no país.
Carta de um leitor identificado como Skip:
Caríssimo,
Aceitamos desde já as vossas sugestões, vamos ampliar a nossa campanha e tentar que a Barbara se submeta aos diversos testes que os nossos directores de campanha estão a idealizar. Se por acaso não ganharmos a eleições será com bastante pena, mas nunca assumiremos que a falta de ideias foi nossa.
Resposta do Provedor:
Falem menos e dispam a Barbara, vão ver que a campanha desce mais um bocadinho de nível mas sobe para níveis de interesse nunca vistos. Obrigado pelas amostras.
Outra carta do MMC:
Sr. Provedor,
Fui abandonado, de uma maneira cruel e humilhante, para além disso o meu maior apoiante, veio com um fato sem marca e amarrotado ao meu evento.
Resposta do Provedor:
Pois, pois, nós já o tínhamos avisado. E você continua a querer fazer disto um consultório sentimental. Quanto ao seu amigo, diga-lhe para mudar de alfaiate e de assessor, ou então do local onde faz a limpeza a seco. Em último caso submeta tudo isso ao «choque tecnológico» que ele andou a prometer noutras campanhas. Outro conselho, e este é de graça: mude rapidamente de marca de detergente, acho que o que está a dar são os glutões.
Uma carta do Largo do Rato:
Exmo. Sr.,
Já que não conseguimos nada do Presidente agradecemos que despeça o Provocador. Os seus bons serviços são um empecilho nefasto para o partido e quando o nomeamos não esperávamos a sua total independência.
Resposta do Provedor:
Isto não é o local ideal para discutirmos estes assuntos. Você queria dizer era Procurador, não é? Sinceramente essa competência extravasa as minhas modestas funções. Para além disso já tenho problemas que cheguem com as chefias da casa que me passam a vida a apontar a porta da rua. Aconselho-o para a próxima, ver se arranja um que seja mais manobrável. Mas depois de ter um Presidente, uma maioria, não acha que dava nas vistas, ter também um Procurador?
Notas do Provedor:
Não me pagam para isto. Definitivamente ainda me despeço por justa causa, esta coluna está a perder o fim a que se propunha. Para além disso, soube agora que os nossos amigos do Gato Fedorento, cortaram as relações com a SIC, fico triste.
Notas do McClaymore:
Eu nunca disse que o cargo que V. Exa. se comprometeu a assumir era fácil. Isto não é como as campanhas políticas, promessas que não se cumprem aqui não têm qualquer cabimento. Agradeço o pedido de vermos todos a Barbara em lingerie. Quanto ao Gato Fedorento, vou apenas dedicar-lhes uma prosa do tio Olavo do Edson Athayde: Existem mil maneiras de se esfolar um gato. Mas só uma dá prazer ao gato.
Acho que vou convidar o tio do Edson para Provedor, pelo menos tem mais piada que o gajo actual.
Ia eu a pensar que já tinha visto de tudo e eis senão quando, numa esquina duma montra envidraçada, qual miragem no deserto, reparo que o Skip anda de maus dadas com a política.
Aquele símbolo não enganava ninguém, e pela quantidade de pessoas, julgava eu, estavam a distribuir amostras grátis do detergente.
Mas não, afinal, era apenas o Manuel Maria Carrilho que estava em campanha, eu ainda pensei que ele ia despejar um bocado de azeite e tinta no vestido da Barbara, para depois fazer o teste de limpeza, tal qual como no anúncio, mas a rapariga envergonhada nem lhe deu tempo para isso.
Perdeu-se um momento histórico, apenas conseguido quando o nosso Primeiro Ministro com o fatinho amarrotado, botou discurso.
Depois de despedirem o Edson Athayde, os momentos de publicidade do Skip nunca mais foram o mesmo (desculpem os anúncios do Carrilho), se fosse com ele, decerteza absoluta teríamos visto a Barbara em lingerie e o fato do Primeiro bem engomado.
Se eu fosse detergente, começava a ficar preocupado com a minha má imagem. O truque de dizer que vai gastar menos em marketing, para distribuir pelos idosos e crianças, é bonito, mas depois deste pequeno incidente, eu como detergente, deixava era de financiar a campanha.
A não ser que aproveitem e como diz o título do post, roubado hoje do DN da página 12, para acrescentar:
Carrilho corta Marketing para distribuir aos idosos umas amostras de detergente durante os próximas quatro anos.
P.S.: Tenho mesmo que vender esta ao detergente, o que não se consegue com publicidade indirecta. O problema é que se a moda pega, o actual governo, ainda começa a pensar em campanhas similares e passa a pagar as grandes amostras dos ordenados dos deputados em amostras verdadeiras ou verdadeiras amostras, como preferirem.
Um comentário ao meu post: LINUX VS MICROSOFT, obriga-me a fazer publicidade ao Olha o Elefante, o título do post é um bocado violento, pelo que deixo apenas o texto:
Theo de Raadt, um dos pioneiros em defesa do software livre e fundador de projectos como OpenBSD e OpenSSH, fez umas declarações polémicas á revista Forbes nas quais assegura que «toda a gente está a usar o Linux e ninguém se apercebe do mau que é», acrescentando que os seus partidários o defendem em vez de dizerem: «Isto é lixo e deveríamos arranjá-lo».
Nestas declarações, citadas pelo DiárioTI, De Raadt refere-se de maneira muito dura ao Linux, sistema rival do OpenBDS, do qual ele é um dos principais mentores.
Segundo Theo de Raadt, ao contrário do Linux, «que é um clone do Unix», o Open BSD baseia-se numa variante do Linux chamada Berkeley Software Distribution, relacionado com um dos melhores sistemas operativos do mundo, Solaris de Sun e OS X da Apple.
Raadt assegura que o Linux não aspira a ser um sistema de qualidade, e que o seu desenvolvimento se baseia no ódio à Microsoft.
A pesquisa, no Google levou-me a um artigo do Daniel Lyons da Forbes, o link está aí. Para quem não se quer chatear a segui-lo, deixo depois o artigo completo.
06.16.05, 6:00 PM ET
NEW YORK - Theo de Raadt is a pioneer of the open source software movement and a huge proponent of free software. But he is no fan of the open source Linux operating system.
"It's terrible," De Raadt says. "Everyone is using it, and they don't realize how bad it is. And the Linux people will just stick with it and add to it rather than stepping back and saying, this is garbage and we should fix it.'"
De Raadt makes a rival open source operating system called OpenBSD. Unlike Linux, which is a clone of Unix, OpenBSD is based on an actual Unix variant called Berkeley Software Distribution. BSD powers two of the best operating systems in the world--Solaris from Sun Microsystems (nasdaq: SUNW -news - people ) and OS X from Apple Computer (nasdaq:AAPL -news - people ).
There are three open source flavors of BSD--FreeBSD, NetBSD and OpenBSD, the one De Raadt develops, which is best-known for its security features. In a sort of hacker equivalent of the Ford-versus-Chevy rivalry, BSD guys make fun of Linux on message boards and Web sites, the gist being that BSD guys are a lot like Linux guys, except they have kissed girls.
Sour grapes? Maybe. Linux is immensely more popular than all of the open source BSD versions.
De Raadt says that's partly because Linux gets support from big hardware makers like Hewlett-Packard (nasdaq: HPQ -news - people ) and IBM (nyse: IBM -news - people ), which he says have turned Linux hackers into an unpaid workforce.
"These companies used to have to pay to develop Unix. They had in-house engineers who wrote new features when customers wanted them. Now they just allow the user community to do their own little hacks and features, trying to get to the same functionality level, and they're just putting pennies into it," De Raadt says.
De Raadt says his crack 60-person team of programmers, working in a tightly focused fashion and starting with a core of tried-and-true Unix, puts out better code than the slapdash Linux movement.
"I think our code quality is higher, just because that's really a big focus for us," De Raadt says. "Linux has never been about quality. There are so many parts of the system that are just these cheap little hacks, and it happens to run." As for Linus Torvalds, who created Linux and oversees development, De Raadt says, "I don't know what his focus is at all anymore, but it isn't quality."
Torvalds, via e-mail, says De Raadt is "difficult" and declined to comment further.
De Raadt blames Linux's development structure, in which thousands of coders feed bits of code to "maintainers," who in turn pass pieces to Torvalds and a handful of top lieutenants.
The involvement of big companies also creates problems, De Raadt says, since companies push their own agendas and end up squabbling--as happened recently when a Red Hat (nasdaq: RHAT -news - people ) coder published an essay criticizing IBM's Linux programmers.
There's also a difference in motivation. "Linux people do what they do because they hate Microsoft. We do what we do because we love Unix," De Raadt says. The irony, however, is that while noisy Linux fanatics make a great deal out of their hatred for Microsoft (nasdaq: MSFT -news - people ), De Raadt says their beloved program is starting to look a lot like what Microsoft puts out. "They have the same rapid development cycle, which leads to crap," he says.
De Raadt says BSD could have become the world's most popular open source operating system, except that a lawsuit over BSD scared away developers, who went off to work on Linux and stayed there even after BSD was deemed legal. "It's really very sad," he says. "It is taking a long time for the Linux code base to get where BSD was ten years ago."
Lok Technologies, a San Jose, Calif.-based maker of networking gear, started out using Linux in its equipment but switched to OpenBSD four years ago after company founder Simon Lok, who holds a doctorate in computer science, took a close look at the Linux source code.
"You know what I found? Right in the kernel, in the heart of the operating system, I found a developer's comment that said, 'Does this belong here?' "Lok says "What kind of confidence does that inspire? Right then I knew it was time to switch."
Recebemos uma carta bastante interessante assinada por um nosso leitor que se intitula de MMC:
Exmo. Sr.,
lamento indubitavelmente o facto de V. Exa. nunca fazer referência aos meus dotes neste blog.
Resposta do Provedor:
Desde que o vi a atravessar a Av. da República, em direcção à Versalles com uma mochila Louis Vuitton à tiracolo, fiquei em dúvidas de todas as suas capacidades. O seu gosto por camisas cor de rosa também não ajuda convenhamos, nem o seu ar de pura afectação.
Para além disso após aquele casamento barbaramente pago, pelas revistas cor de rosa, levam-me a concluir que você está como aquela actriz que quer confundir esta redacção com a da revista Maria.
Eu já lhe disse que não publicamos fotos de quem não gostamos, muito menos contribuímos para campanhas de marketing de gosto duvidoso.
Aconselhamos a prolongar o seu período de reflexão para além das eleições autárquicas. E para além disso com o mulherão que tem em casa o melhor é começar mesmo a dar-lhe mais atenção.
Por favor deixe de insistir no facto de ter andado no mesmo colégio do McClaymore, ele fica um bocadinho incomodado pelo facto e gostaria de ver essa parte da sua vida riscada da sua biografia (da dele).
Notas do Provedor:
Aceito notas de Euro de qualquer valor, tenho um carinho especial por molhos cintados, bem chorudos e compactos. Aqui a corrupção não tem cabimento. Não prometo nada, mas esses molhinhos podem ajudar, podem ser dos mesmos que enviou à Bárbara para pagar uns programazitos que você lhe encomendou quando era Ministro da Cultura.
Notas do McClaymore:
Eu despedia este tipo, mas fui ameaçado de que se o fizesse, me obrigavam a ver durante dois dias seguidos o filme da campanha do MMC, para além disso depois de terem destituído o Edson Athayde das funções que lhe tinham sido confiadas, não ponho quaisquer objecções às indirectas do gajo lá de cima. Quanto às fotografias só publico as da Bárbara.
Quando me apercebi que a onda rosa se ia instalar neste País, com a sua petulância arrogante, limitei-me a comentar com um amigo:
A nossa sorte é que ao contrário do que aconteceu anteriormente, quando os governos do PS ganham, o finado governo do PSD, não deixou nenhum dinheiro para gastar.
Retiro o que disse, depois de ler o Deficiente Orçamento Rectificativo, julgo que afinal o Santana Lopes poupou mais do que devia.
E continuo a achar que o papel do Presidente da República, devia ser bem menos benévolo do que está a ser, deve-nos isso.
Este governo ainda não compreendeu uma coisa: ninguém está contra a tomada de medidas, mesmo drásticas, apenas precisamos que nãos nos continuem a tratar como deficientes, e que nos expliquem como e quais as medidas que vão tomar em definitivo.
Mais, chamem as coisas pelos nomes, dizer que uns erros crassos são umas deficiências, é insultar quem não se pode defender.
Agradecemos que assumam as vossas próprias limitações e por favor não continuem a achar que debaixo desta capa de benigna candura, não temos direito à revolta.
Esta coluna, fica à disposição dos leitores que se sintam ofendidos pelo matraquear silencioso do McClaymore, será um local de reflexão sobre a interpretação de algumas palavras menos conseguidas, servirá de moderador entre os leitores mais persistentes e as convicções políticas e sempre polémicas do autor do blog.
Destina-se ainda a responder às cartas dos nossos leitores, que mesmo sendo remetidas na capa do anonimato, serão lidas, transcritos os trechos mais relevantes e dadas as explicações necessárias.
Recebemos uma crítica profunda de um leitor assíduo, que assinou como JS, ao princípio, julgamos tratar-se do nosso Primeiro Ministro, mas como vinha com a tarjeta dos correios do Rato, ficaram as nossas dúvidas por resolver:
Caro Sr. Provedor,
Li com atenção o vosso post, em que utilizavam repetidamente a palavra embuste. Caso não tenham reparado é um termo que dignifica apenas as campanhas extraordinárias que são feitas em prole e do exacerbo da Nação. Como tal agradecemos a parcimónia da sua utilização.
Resposta do provedor:
Caríssimo JS, a utilização do termo tem direitos de autor, foi usada veemente pelo Exmo. Sr. Presidente da República, eu sei que é fácil utilizar a onda e continuar a insistir na mesma tecla, no entanto peça urgentemente aos seus assessores para mudarem um bocadinho o seu discurso, começa a ser chato e os portugueses já lhe tiraram as medidas. Para além disso só era admitido a um político, a repetição dos mesmos discursos passados 20 anos, infelizmente já morreu, veria que tinha muita coisa a aprender com ele.
A segunda é dum leitor que se identifica como JC:
Sr. Provedor,
Quero notificá-lo que nunca utilizei a palavra embustou, em qualquer dos meus discursos ou comícios. Agradeço que rectifique as suas palavras senão os portugueses ainda ádem saber das suas malévolas intenções.
Resposta do Provedor:
Meu amigo, continua a dar as suas calinadas em português, as do McClaymore são apenas fruto do acaso. Reconheço que ele utilizou mal a palavra embustou, o que ele queria mesmo dizer é que o Primeiro Ministro embestou os portugueses. Apenas mais uma critica, quando atacar os outros comentadores, mesmo que desportivos, reveja-se na triste figura que faz na Quadratura do Circulo, e reconheça que sua apetência era mesmo o de ser árbitro de futebol.
A terceira carta vem identificada, mas com o pedido expresso para não ser revelada a identidade da autora:
Exmo. Sr.,
Vou casar grávida e vou viver para Madrid, agradeço que não continue com os ataques à minha vida pessoal.
Resposta do Provedor:
Minha cara Senhora, a vida pessoal de cada um, diz apenas respeito ao próprio. Case com quem quiser e no estado que quiser. Emigre para onde quiser, continue a fazer o teatro que quiser, mas por favor, deixe de enviar cartas a pensar que esta redacção é a da revista Maria.
A última carta veio de um autor que se identifica apenas como Banca:
Sr. Provedor,
Agradecemos que seja corrigido o post, onde referencia que fazemos anúncios de actrizes e porcos mealheiros a fazer nudismo.
Resposta do Provedor:
Lamento profundamente que as palavras do McClaymore tenham dado azo a tão extensa confusão, ele efectivamente esqueceu-se da vírgula. Apenas e apenas se queria referir aos porquinhos mealheiros, claro que depois de meia hora de extensa e acesa discussão, ele admitiu que o que ele queria mesmo era ver as miúdas dos anúncios a fazer os spots, apenas com a roupinha com que vieram ao mundo, admite também que passava logo a subscrever todas as porcarias que vocês promovem, desde faqueiros até copos de cristal. Ficam as minhas sinceras desculpas e as correcções serão feitas logo que possível.
Notas do Provedor:
Não vai servir para nada, eventualmente continuar esta coluna. O seu perene desaparecimento, deverá ser preenchido por outra personagem, que acompanhe e equilibre o parecer tendencioso do blog. Convidamos o António Vitorino que humildemente recusou, porque vai assumir as suas novas funções de contraditório ao comentador Marcelo Rebelo de Sousa.
Notas do McClaymore:
Se este gajo continua assim, pior que um censor do antigo regime, ainda o despeço por justa causa. Lamento profundamente que o tenham que aturar, mas por motivos de força maior, e porque foi instituída a Santa Inquisição, tenho que o manter, até mudarem de governo.
Embuste I
A Sofia Alves foi ameaçada por uma senhora que se levasse ao palco a peça onde é protagonista, ainda lhe ia acontecer alguma coisa
Parabéns Sofia Alves, a campanha publicitária para a estreia da sua peça foi mesmo muito boa
Quanto é que pagaram à senhora das ameaças? Ou a senhora nunca existiu?
Pelo menos vai conseguir que a plateia encha mais um bocadinho, mais os polícias que lhe vão fazer a segurança, esses estão garantidos...
O pessoal do marketing anda mesmo a esforçar-se
Embuste II
O Presidente da República acusou a banca portuguesa de embuste.
Grande admiração, um sector que domina o capital e as companhias de seguro, alguma vez poderá ser acusado de embuste?
Embuste III
O Presidente da República, numa fábrica de chapéus, deu a mão à palmatória e rectificou o significado da palavra embuste.
Afinal o que ele queria dizer é que a banca não arrisca
Bem, afinal para quê?
Um sector que tem cerca de 40% de lucro a vender a imagem de actrizes e porquinhos mealheiros a fazer nudismo, porque tem que arriscar?
O lucro que tiram a fazer spots publicitários e sem sair do lugar já não é suficiente?
Estão mesmo a ver os rapazinhos a investir no capital de risco? Então não queriam mais nada?
É já a seguir, é que é já a seguir
Embuste IV
O Jorge Coelho conseguiu transformar um programa de grande nível, Quadratura do Circulo, num grande circo.
Os dotes dele são de sobeja conhecidos:
A única coisinha sem importância, em que o Primeiro Ministro embustou o País, foi no aumento do IVA
Aconselho vivamente, que ele leia as entrevistas do Primeiro Ministro antes de nos brindar com essas baboseiras todas.
Embuste V
O Gabinete de Imprensa da Assembleia da República, inaugurou uma linha directa para atender reclamações:
Agradecemos o seu contacto, marque o número no seu telefone que mais lhe convier
Se quiser saber o ordenado e as reformas dos políticos, marque 1, a sua chamada ficará em espera durante as próximas semanas
Se pretender as razões que levaram o Presidente da República a mandar o Governo do Santana Lopes para a rua, marque 2, a sua chamada será de imediato reencaminhada directamente para o telemóvel do Dr. Jorge Sampaio. Caso a sua chamada demore mais de 3 meses a ser atendida, aconselhamos a ligar directamente para a sede do PS, no Largo do Rato.
Se pretender saber as razões porque este governo ainda se mantém em exercício, marque 2009, esperará exactamente o tempo necessário para que haja novas eleições. Aconselhamos ainda que para a outra vez se não quiser fazer figura de parvo, que veja bem onde põe a cruzinha.
Caso ainda insista em utilizar a opção anterior, desligue marque 4 e vá tentando até às próximas eleições presidências. Acompanhe o seu telefonema por algumas preces ao Santo Cavaco Silva e espere um milagre para ser atendido
O custo por minuto será calculado baseado no pró ratio, relativo às suas declarações fiscais, em caso de dúvidas, utilizaremos as informações das suas contas bancárias para calcular a taxa que lhe iremos cobrar.
A taxa cobrada reverterá para a ANPE (Associação Nacional dos Políticos Empobrecidos), e será aplicada em fundos para a complementaridade das reformas dos mesmos.
Obrigado por contribuir
Não tenho um amor especial por ideologias que usurpam as vontades e as iniciativas dos outros ao abrigo de uma repartição de benesses que para alguns, mesmo com as oportunidades que lhes dão, não as querem agarrar
Nas mentes desses eu sou um perigoso reaccionário, sempre fui, nunca escondi que para mim a equitatividade, é a repartição de trabalho, não de riqueza, ao contrário do que muitos defendem.
Por essas e por outras é que nunca acreditei em comunismos nem em pseudo partidos cuja finalidade era dar aos pobres, de espírito, aquilo que eles não conseguiam roubar de outra maneira.
A colectivização cheira-me a desajustes de libido ou de problemas de consciência mal resolvidos. A homogeneidade gregária tem como contraponto os direitos individuais de cada um, pelo que os partidos que defendem o comunismo, entram em contradição quando se arrogam os únicos defensores de uma liberdade que nunca abdicarão de controlar.
Vimos isso acontecer neste País, a tentativa de arrebanhar todos os direitos dos cidadãos e infelizmente continua.
Em 1975, num frente a frente entre o Dr. Mário Soares e o Dr. Álvaro Cunhal, defendia o ultimo que o PPD do Dr. Sá Carneiro, não podia estar representado no Governo. Enquanto que o Dr. Mário Soares contrapunha que sendo esse partido ainda mais votado do que o do Dr. Álvaro Cunhal, como seria possível exclui-lo da sua representatividade.
Dois dos defensores do paradigmático caminho para o socialismo deixaram-nos: o General Vasco Gonçalves e o Dr. Álvaro Cunhal.
Cada um deles à sua maneira defendia aquilo em que acreditava. Não é sem razão que o Dr. Marcelo Caetano elogiava o Dr. Álvaro Cunhal considerando-o o único político coerente deste País.
Nunca privei com o Dr. Álvaro Cunhal e apenas tenho na memória um episódio que ainda hoje me faz rir.
Princípios de 90, um dia daqueles que apetece que comece de novo. Tudo estava correr mal. Desde o colega a avisar que estava doente e que não poderia acompanhar-me à auditoria, até ao taxista que não sabia as ruas de Lisboa. Decididamente deveria ter ficado em casa também. Para cúmulo, a empresa era uma comparticipada da multinacional para quem eu trabalhava e tinha-se mudado para um edifício ainda em acabamentos.
A rua ainda poeirenta, começava num largo e nem se via vivalma. Deixei o taxista atarantado, a resmungar pela falta de gorjeta, e saí apressado, a contar os minutos de atraso. Olhei para o post-it que a minha secretária me tinha escrito e meio confuso dirigi-me para uma porta envidraçada de onde alguns vultos se aproximavam para sair.
Ao primeiro que apanhei, mesmo à entrada, soletrei as letras escritas no amarelo e perguntei ansioso:
- Boa tarde, por acaso não sabe dizer-me onde fica o Edifício América?
A figura cinicamente sorridente, respondeu:
- Infelizmente não lhe posso dar essa informação
Depois fui literalmente afastado do senhor, por dois gorilas de má cara, não liguei, o meu relógio indicava que já passava nitidamente da hora
Fui percorrendo a galeria e encontrei o maldito edifício, as letras douradas sobre a porta não enganavam ninguém.
Enquanto o segurança me preenchia um papelito de entrada, fez-se luz! E comecei a rir-me desalmadamente: tinha à minutos atrás, perguntado ao Álvaro Cunhal, em carne e osso, onde ficava o Edifício América. Daí o sorriso cínico e a pressa dos gorilas em afastar-me. Depois deste encontro, deveria ter mesmo anulado a maldita auditoria, Deus tinha-me enviado um sinal
In memória dos que lutam por aquilo em que acreditam.
A crispação dos portugueses só é mesmo atenuada, pela toada constante de anedotas, uma das melhores que conheço é referente à política e esta, perdoem o plágio e os sacros ouvidos de alguns leitores, é bem velhinha, mas sempre actual e não poderei deixar de a colocar aqui:
Certo dia, foi solicitado a um miúdo uma dissertação sobre política, traduzindo para a linguagem actual, um TPC (trabalho para casa). Confrontado com este invulgar pedido por parte do professor, pediu os bons favores do pai, homem esclarecido e sempre bem informado...
O pai pacientemente foi explicando ao filho:
-Bem na política temos o Governo, que como exemplo, aqui em casa pode ser a tua mãe, porque é ela que administra isto tudo. Eu posso ser o Capital, sou eu que trago dinheiro para casa A Maria, a ama do teu irmãozinho pode ser a Classe Trabalhadora. Tu és o Povo e o teu irmão pequeno, é onde nós todos depositamos esperanças, portanto pode ser o Futuro da Nação
-Pai agradeço imenso a tua explicação, mas ainda não compreendi nada de política.
-Olha meu filho, está na hora de te deitares, amanhã podemos falar melhor sobre o assunto.
Decorria a noite sem sobressaltos quando o nosso herói foi acordado pelo choro insistente do irmão mais novo.
Estremunhado, entrou no quarto do irmão, o cheiro que este exalava, não deixava muitas dúvidas sobre os queixumes do miúdo.
Ainda mal refeito daquele acordar intempestivo dirigiu-se para o quarto dos pais onde encontrou a mãe, sozinha e os ecos de um ressonar despreocupado.
Sem solução dirigiu-se para o quarto da ama do irmão. Aí encontrou um quadro que o deixou muito incomodado, o pai e a ama em altas cavalarias enrolados nos lençóis. De fininho sem se mostrar, reflectiu sobre a atitude a tomar e depois de uns minutos, decidiu-se a ir de novo para a sua cama.
Acordou, na sala já se tomava o pequeno almoço, o pai, como havia prometido, voltou à carga:
-Bem meu filho podemos outra vez falar sobre a Política?
-Já não é preciso pai. Ontem à noite tive um sonho que me deu a solução sobre aquilo que eu queria saber?
-E podemos saber então qual?
-Claro pai, então lá vai: enquanto o Governo dorme profundamente, o Capital fode a Classe Trabalhadora. O Povo é completamente ignorado e o Futuro da Nação está na merda
Há muitos anos atrás ouvi uma história sobre uma mulher que muito me intrigou. Essa mulher ao defender o património que lhe foi confiado, neste caso algumas jóias da coroa portuguesa, foi presa e maltratada pelas autoridades, num aeroporto brasileiro. Salva no último minuto, porque foi reconhecida numa fotografia de um jornal, junto ao Presidente Brasileiro, mas que não lhe evitaram umas quantas nódoas negras e algumas equimoses. Foram passando os anos e devido a um dos muitos cargos que ocupei, tive a honra de a conhecer.
Frontal, como aquela franja branca que lhe adornava a frente da cabeleira, política quanto baste, sempre assumiu as funções com uma coragem e uma determinação que conheço a poucos.
Mesmo não militando na mesma esfera política tenho que lhe reconhecer o valor, a atitude e a garra.
Um pequeno episódio demonstra bem a sua grande capacidade e espaço de manobra.
Depois de um almoço em que a comunidade feminina se encontrava em minoria, por acaso onde ela era a única representante, sentados no sofá de couro, na vetusta sala onde tomávamos o café e que pomposamente chamávamos de bar de Oficias, o General, empolgado pela assistência, começou a contar um episodio ainda recente e que lhe tinha deixado algumas marcas:
-Estava eu a andar calmamente pela avenida, quando aquele filho da puta
O silêncio sepulcral refreou o General, nós, os outros oficias, que seguíamos atentamente a conversa, constrangidos, olhamos de soslaio para a figura feminina, que num trejeito banal, compôs a rebelde madeixa branca e sem perder o fio à meada, retorquiu no meio de um sorriso sincero:
-Mulheres sérias não têm ouvidos
O General reanimado por tão corajosa assistência e por palavras de manifesta cortesia, depois de beberricar mais uma gota de café, continuou:
- e como eu ia dizendo, aquele cabrão
Aqui só nos restou assobiar para o ar e rezar para que a conversa não ultrapassasse as baias da linguagem até aqui utilizada
Felizmente correu bem, dentro dos limites da decência, de vez em quando pontilhadas por algumas frases de caserna. A figura feminina ganhou pontos e granjeou a nossa admiração e estima.
Soube agora que a Dra. Simonetta Luz Afonso está a dirigir o Instituto Camões, mulher corajosa, sabendo de antemão as dificuldades sérias que esse marco da cultura está a passar por falta de apoio das nossas autoridades. E também porque, não obstante isso, foi o escolhido para receber um dos máximos galardões que os espanhóis têm para oferecer na área da cultura: o Prémio Príncipe das Astúrias. Mais ainda, quando estavam a ombrear com ele, outros seis e entre eles um que defende a cultura e a língua espanholas: o Cervantes.
A reacção da Simonetta mais uma vez demonstra bem porque é que ela está sempre nos lugares onde a peleja é mais dura: Mais do que o dinheiro, é o reconhecimento da importância da língua portuguesa.
Fazem falta muitas Simonettas, a este país onde a cultura não passa de uma palavra oca e onde ainda, já restam poucas vontades para lutar contra a inércia.
É o título que Francisco Sarsfield Cabral deu à coluna Tentar perceber, do DN, a interrogação é minha
Ao analisar a diferença entre o antes e após euro (), o autor compara e muito bem os benefícios entre o termos um tecto europeu onde nos inserimos e os mecanismos antes da adesão: a desvalorização da moeda e o aumento das taxas de juro.
Numa primeira leitura somos efectivamente levados a concordar com ele, as taxas de juro altas e os custos efectivos na conjuntura ante euro eram os mecanismos hipócritas que diminuam consideravelmente o poder de compra, diminuíam a inflação e regulavam as importações.
Num país que compra quase tudo fora e em que apenas produz o que transforma e pouco mais, a economia terá sobretudo apoio numa cultura de mão de obra barata, mas especializada.
Não foi isso que aconteceu e como ele volta a referir, o tecido empresarial português deu provas do seu grau de despotismo iluminado, apostou no mais fácil, e a especialização ficou pelo caminho.
Mas para além desta falta de visão mercantil, teríamos no governo um regulador que dentro de normas bem definidas, poderia e teve a oportunidade de virar essa tendência.
Não o fez, bem pelo contrário, incentivou, com os maus exemplos que deu, na compra de carrões, em vez de obrigar esses pseudo empresários a investir em modernização, formação e ao pagamento de impostos, mesmo quando ao abrigo de várias iniciativas comunitárias, houvesse verbas para tal.
As verbas entraram, mas serviram apenas para comprar mais Ferraris e alimentar egos, viagens de luxo e clientelismo fácil.
Dos empresários, posso falar, ouço com atenção histórias caricatas relativamente ao factor empreendedor que os norteia, para exemplificar conto um episódio que ouvi um dia, e garanto-vos que não é inventado, um empresário para começar a fazer negócio onde já estava instalado um concorrente resumiu a sua proposta às seguintes linhas:
Exmo. Sr. Fulano de Tal,
Venho por este meio propor a Vossa Excelência que sobre os preços da empresa que opera actualmente convosco, eu faço 10% de desconto sobre todos os preços que eles vos levam.
Atentamente,
Zé Empresário
Isto não é anedota, nem ficção, mas este exemplo de roleta russa, demonstra bem como se fazem negócios sem se saber se se ganha ou perde dinheiro.
Quem recebeu a proposta nunca disse os preços que lhe estavam a ser cobrados e teve o bom senso de arquivá-la, não sei se todos reagem da mesma maneira, mas acho que fica aqui um bom exemplo de como muitas empresas são geridas.
O problema maior é que esse mesmo estado que deveria dar o exemplo se transformou numa vaca gorda, que continua a consumir recursos sem objectivos. Os estudos não mentem, mais de metade dos serviços que o estado tem, são consumidos pelo próprio estado.
Os chamados parceiros sociais, os sindicatos, não estão isentos de culpas em vez de exigirem que se investisse na formação, escolheram a bandeira das remunerações, mais uma vez uma aposta no cavalo errado.
Deveriam, antes de se começarem a queixar das deslocalizações, para os países de leste, pegar no exemplo que eles nos deram. Precisaram de menos de 10 anos para se adaptar aos novos desafios e muitos deles já nos ultrapassaram em todos os campos. Portanto, lamento, mas caro Sarsfield Cabral, aqui não é uma questão de exercício de pura comparação, os mecanismos e as realidades eram bem piores que as nossas, a única diferença foi que os dirigentes, a classe empresarial, os trabalhadores e os sindicatos, desses países, compreenderam que na Europa, para mau exemplo chegava o nosso
Estes versos foram retirados da música God shuffled his feet, do álbum com o mesmo nome, de 1993, dos Crash Test Dummies:
After seven days
He was quite tired, so God said:
Let there be a day
Just for picnics, with wine and bread
He gathered up some people he had made
Created blankets and laid back in the shade
The people sipped their wine
And what with God there, they asked him questions
Like: do you have to eat
Or get your hair cut in heaven?
And if your eye got poked in this life
Would it be waiting up heaven with your wife?
God shuffled his feet and glanced around of them:
The people cleared their throats and stared right back at him
So he said: Once there was a boy
Who woke up with blue hair
To him it was a joy
Until he ran out into the warm air
He thought of how his friends would come to see;
And would they laugh, or had he got some strange disease?
God shuffled his feet and glanced around of them:
The people cleared their throats and stared right back at him
The people sat waiting
Out on their blankets in the garden
But God said nothing
So someone asked him, I beg your pardon:
Im not quite clear about what you just spoke
Was that a parable, or a very subtle joke?
God shuffled his feet and glanced around of them:
The people cleared their throats and stared right back at him."
Já me perguntaram muitas vezes porque é que dei um nome tão mórbido ao meu blog: qualquer macho latino que se preze, na procura da realização suprema, deverá plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
As duas primeiras metas já as cumpri, falta-me a última.
Ainda não o fiz por uma questão de puro egoísmo, um livro é sempre alguma coisa que extravasa todos os limites, é uma sombra que devemos deixar para distribuir com parcimónia, é também um legado sem testamento, mas que normalmente pode e deve influenciar muitas vidas.
Depois temos o tema, ficção, realidade ou pura paranóia, sinceramente eu prefiro não catalogar nada, as comparações épicas causam-me sempre constrangimento.
Não tenho também nenhum modelo a seguir, gosto de escrever sem sentido, o bom senso é um tempero que não deve ser utilizado na escrita.
Não gosto de redenções, gosto mais de remissões, de abjectas parábolas, de sonhos que um dia queremos cumprir.
Um livro é sempre alguma coisa que demonstra que alguns ainda conseguem perseguir ilusões, rirem-se das suas imagens no espelho e sentirem na pele o terror e a atracção pelos abismos.
O meu fiel cinismo também não se permite a criticas, portanto vou continuando lentamente a formar as palavras, depois as frases, cada capítulo e o epílogo, obras inacabadas e sem um fim convincente não me seduzem.
Entretanto e como é uma promessa que assumi, vou tentando arrumar ideias e ideais, inventar um título, rebuscar nos locais mais inóspitos da gaveta das recordações, os pequenos nadas que me vão ajudar na minha cruzada, pacientemente, sem pressas e sem amanhã, isto porque em qualquer momento ou acaso eu vou começar a retintar algumas páginas, qualquer dia antes de morrer
P.S.: E se continuarem a insistir na pergunta porque é que dei este estúpido nome a um blog, leiam com atenção a justificação que o Pinto da Costa deu para dar aquele título ao livro dele
Os portugueses têm um sentido de humor negro, surpreendente e uma data de provérbios para impolutamente se resignarem, uma espécie de acto de contrição sem razão de culpa, na verdade devemos ser o povo mais masoquista da Europa.
Surpreendentemente, vejo o aparecimento de um blog, o Aperta o cinto, onde alguns descontentes vão expressando a sua opinião.
Depois de analisar profundamente todas as queixas dos portugueses que por lá passam cheguei à seguinte conclusão: o Engº Sócrates nunca fez parte do Governo do saudoso e benemérito Engº Guterres, isto porque ninguém no seu perfeito juízo elegeria um tipo que já tinha revelado o seu lado mais negro, para além disso foi apoiado pelo Jorge Coelho, que também nunca lá esteve
Como tal, nunca saberiam do valor do défice pois nunca, mas em tempo algum imaginariam o descalabro a que este País tinha chegado.
Bem eu sei que para governar este canto não é preciso muita competência, mas já deveríamos achar estranho votar num tipo que só depois de lá estar é que descobre o que o espera, e aqui fica uma pergunta ou é cego, coisa que não se nota, ou na verdade é de uma incompetência total.
Para terminar, relembro aqui a minha costela alentejana, e a história do meu conterrâneo, lá da Merdaleja que ao ser confrontado com uma rusga, numa casa de meninas e vendo que nenhuma delas se acusava, rematou a jeito de desculpa: Querem ver que a única puta que aqui está sou eu, e ninguém me dizia nada?
Bem, depois de analisar ainda mais profundamente o blog em questão, eu estou absolutamente crente que:
Querem ver que ninguém votou no Sócrates?
Eu não votei nele, por uma questão de princípio, não acredito em tipos que pertenceram a um governo que a única coisa que nos deixou foi uma tanga
Na verdade eu não tenho nada contra tangas, pelo contrário acho que ficam muito bem em muitos traseiros femininos, não propriamente nos do Guterres, Sócrates, Coelhos e Companhia.
A minha costela transmontana também tem alguma coisa a dizer, lá para cima temos uma frase que resume tudo e todos quando nos tentam enganar:
Cá para mim estás a dar-me uma grande tanga
Tenho pena de não ter uma costela de ribatejano, porque nesta altura, estava era com uns grande par de cornos ou com duas bandarilhas na cernelha.
Se fosse em Espanha acabavam-me com o sofrimento e davam-me a estocada final, como sou português, continuo alegremente a ser "toureado"...
A SIC tinha já avançado a notícia em primeira mão, ao início da tarde. Guterres está no Médio Oriente, numa reunião da Internacional Socialista, organização que ainda preside, e só deve regressar esta noite a Portugal. (Porque é que é sempre a SIC?!?).
Em conferência de imprensa, o ministro dos Negócios Estrangeiros o sublinhou o reconhecimento do prestígio internacional do ex-chefe de Governo português. "António Guterres está de parabéns, porque foram as suas qualidades intelectuais profissionais e humanas que o fizeram sobressair de entre os outros candidatos", disse Freitas do Amaral. (Riam-se lá um bocadinho comigo).
Da lista de candidatos ao cargo das Nações Unidas, anunciada em Março, faziam parte seis europeus, um australiano e um do Norte de África.
Entretanto, o nome do antigo primeiro-ministro português foi um dos cinco que passaram para a segunda fase da candidatura, processo que culminou com a sua selecção pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
O anterior Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, o holandês Ruud Lubbers demitiu-se no início deste ano, depois de meses envolvido numa polémica gerada por uma queixa de assédio sexual.
Com esta nomeação, fica afastada a hipótese de candidatura de Guterres à Presidência da República portuguesa. (Grande jogada ao melhor nível do Pinto da Costa).
Decerteza absoluta que não colocou no curriculum vitae que foi 1º Ministro em Portugal Nem como deixou as finanças portuguesas quando fugiu a sete pés
A única vantagem mesmo, é que os portugueses, pelo continuar do estado da Nação, sempre lhe podem ir bater à porta como refugiados claro, pode ser que ele arranje algum país decente onde nos colocar
Deveriam também ter colocado uma etiqueta no Engª Guterres com os seguintes dizeres:
Expressamente para o Dr. Kofi Annam - Não aceitamos devoluções depois de terem provado o artigo Made in PS, Portugal.
A notícia em questão foi retirada do site da SIC online, mas os comentários são da minha autoria
Fica a ligação caso queiram matar saudades da fotografia do Engenheiro
Como é possível não explicarem bem aos portugueses que o défice que tanto proclamam é o que vão deixar para o ano de 2006 e não o que encontraram?
Das duas uma ou este governo faz futurologia, o que é grave, porque tem os instrumentos todos para governar: maioria absoluta e orçamento rectificativo
Ou então está a pensar não governar o que é bem mais grave.
A ideia que o PS transmite e que a comissão do Banco de Portugal afirma, é que é esse o valor que está em cima da mesa se não forem levadas a cabo medidas correctivas durante o ano de 2005
No meio disto tudo, para além do silêncio do Presidente da República, do 1º Ministro, da nossa Comunicação Social, e da dita Oposição, está o silêncio dos portugueses
Depois temos a vernácula inteligência do Francisco Louça a funcionar: O aumento do IVA vai levar a que a competitividade da indústria portuguesa diminua em virtude de aumentar os preços para a exportação
Mas que grande economista, deveriam explicar a este senhor que se eu aumentar o IVA de 12% para 19%, sobre a restauração, a única coisa que pode acontecer é o número de portugueses a almoçar em restaurantes, diminuir, hábito generalizado em maior parte dos países europeus poucos se dão ao luxo de tomar refeições fora
Para além disso, nas exportações não é cobrado IVA
Fiquei sem saber o que ele queria dizer como sempre, deveria ter estado calado e não dizer asneiras.
Mas as situações estranhas não ficam por aqui
O Banco de Portugal a extrapolar o valor do défice? Onde já se viu isto?
Mas o mais estranho é ainda o número: 6,83%, porque não 6,84 ou mesmo 6,82%? E onde estão as contas?!?!?
Eu não as vi, viram-nas vocês?
E para finalizar, quando confrontado sobre as dívidas das autarquias, que deveriam ser incluídas neste bonito número, a resposta do Dr. Victor Constâncio é ainda mais misteriosa: Na verdade deveríamos ter em conta que essas dívidas fazem parte do défice, mas não tivemos tempo nem mecanismos para as apurar.
Então Sr. Dr. O que é que andou a fazer? Afinal em que é que ficamos? Vamos ter mais surpresas ainda?
Ou não interessa chatear agora os autarcas porque as eleições para esses cargos estão aí à porta?
Deveriam ainda ter reparado em três situações caricatas, o excelente economista que se encontrava entre o Eduardo Catroga e o Bagão Félix, deu-nos as pistas e aumentou os nossos temores:
Quando confrontado com a ideia de que o Engº Guterres não me ia deixar avançar com as reformas, demiti-me
Para além de achar estranho ser o Banco de Portugal a dar o valor do défice, já que existem outros para o fazerem, como por exemplo o Tribunal de Contas Como é que chegaram um número que inclui decimas?
Sempre se soube que o défice eram os 6 virgula qualquer coisa, bastava fazer as contas e não incluir os itens que o governo anterior se serviu para garantir o Pacto de Estabilidade Estava tudo lá, ninguém que estivesse ligado à economia poderia deixar isso em claro
Se este carapuço serve a alguém Talvez, ao admirado Jorge Coelho, que esqueceu muito rapidamente que fez parte do governo do Engº António Guterres e agora qual dama ofendida vem ao terreiro dizer que os outros é que são os culpados...
P.S.: Por na lista do Pai Natal: 1 máquina de calcular para o Dr. Victor Constâncio sem decimais. 1 máquina de calcular para o Jorge Coelho com decimais. 1 máquina de calcular para o 1º Ministro científica.
O pesaroso e incrédulo Jorge Coelho que após lhe ter sido comunicado que o défice é de 6,83%, é o mesmo que no dia anterior num comício no Algarve gritava em plenos pulmões que o défice, que ele espantosamente desconhecia no dia seguinte, era de 7%, que não ia haver pagamento de portagens nas SCUTs e que não ia haver aumento de impostos?
Será que não era o Jorge Coelho, seria um clone dele? Ou os dirigentes do PS andam todos a ver filmes de ficção a mais?
Se era ele então devia estar com um ar mais alegre, ele disse no dia 22 que o défice era de 7%, no dia 23 diminuiu, pouco eu sei, de 7% para uns espantosos 6,83%, portanto bem menos do que ele havia estipulado como meta para o Governo tomar medidas extremas
Ouvi atentamente o programa da Judite de Sousa, se como eu ouviram o que aqueles senhores disseram, ficam apenas estas perguntas:
Votaram neles, não votaram? Deram-lhes a maioria absoluta, não deram? Não estão arrependidos, pois não?
Eu se tivesse votado neles, estava, e pelas seguintes razões:
Estamos desde que tomaram posse à espera que se tomem decisões e das tomadas, ainda nenhuma reflecte vontade política de conseguir endireitar isto, bem pelo contrário, as implementadas, são puramente demagógicas e populistas, uma delas, a saber é a que deixa de controlar novamente a atribuição do famigerado rendimento mínimo
Nada como pagarmos todos para alguns não fazerem nada, também já pagamos a uma data de pessoal que está a trabalhar na função pública (ressalvo aqui alguns que fazem alguma coisa, quando os deixam), portanto nada, também, que efectivamente nos incomode, pagamos ainda os ordenados do governo que também ainda não fez nada e já lá está à 3 meses
A comunicação social continua a fazer o seu papel, de uma maneira isenta e eficiente. Pena agora não estar lá um ministro com o nome de Santana Lopes porque depois de 3 meses sem fazer nada e com Secretários de Estado a desautorizarem Ministros, teríamos não um Presidente da República e um do Banco de Portugal a fazerem o triste papel do Governo de nos anunciar possíveis medidas impopulares, razões mais do que suficientes para dissolver uma Assembleia da República, mas quem é que já se lembra disso, não é verdade?
Desculpem o vincar de ideias, já as havia explanado nos dois post anteriores, mas nunca é demais relembrar, nós portugueses, infelizmente temos uma memória muito curta e um sentido moral de justiça muito pouco convicente.
Estes senhores continuam a pensar que somos iletrados e analfabetos?
Analisemos o gráfico que nos quiseram impingir:
4,4% de défice público no tempo do Guterres
4,2% até 5,2% no tempo do Barroso e do Santana
Como puderam ver o Barroso até conseguiu estancá-lo e diminui-lo, no entanto desde o tempo do Guterres até à actualidade o aumento, sem as engenharias financeiras foi de 0,8%.
Agora em apenas 3 meses admitem que vai ser de 7%?!?!?!?
Depois de um Orçamento rectificativo?
O que mudou???????
Ou é mais uma desculpa para os gastos sem controlo que admitem que vão fazer?
Ou apenas porque não sabem fazer contas? E o porquê do gráfico e nada de explicações sobre os 7% avançados? Quais as despesas que vão aumentar?
Afinal mudamos o Governo para quê?
Se bem me lembro uma das razões para que fossem para lá, foi para combater esse défice ou não?
Então como é que explicam que em 3 anos o aumento desse défice seja de 0,8% e conseguem que ele aumente em apenas 3 meses de 1,8%?
Mas que merda de povo somos nós que nem sequer nos interrogamos sobre isto?
Mais ainda, onde está o 1º ministro para explicar isto tudo?
E o mais interessante é que os números são os dados pelo Presidente do Banco Central, vulgo Banco de Portugal, e a pedido do Presidente da República. Ninguém acha estranho? Afinal quem governa este País?
Decididamente tenho que deixar de ver televisão, continuo a ver mensagens subliminares onde mais ninguém as vê ou os portugueses estão todos cegos?
O badalado Presidente do Banco Central (antigamente chamado de Banco de Portugal), repararam bem na subtileza da transformação
Veio à televisão dar conta do recado que ia transmitir ao Presidente da República, sobre o alinhamento do défice, reparem bem na subtileza da manobra
Pormenor intercalar sem importância nenhuma: o 1º Ministro não confirma nem (des)mente
Deixam sub-repticiamente o número 7 (sete), presumivelmente o número do défice actual, escapar timorato entre as informações retumbantes de uma calamidade pública, reparem bem no pormenor de dar uma notícia sem a dar
Pormenor secundário: o 1º Ministro encontra-se de licença sabática (Eu disse sabática, não sambática, portanto ele ainda se encontra em Portugal e não no Brasil )
Finalmente chegam à brilhante conclusão, dada por um gráfico engalanado, que:
O défice actual é de 2,9 % e tem sido assim nos últimos anos e que se não fossem as vendas de activos, um deles o ouro que o Presidente tem aferrolhado nas catacumbas e de que ele é o nosso fiel depositário, (não, não o Presidente da República, é o do agora chamado de Banco Central ), teríamos um défice de 5,2%...
Reparem bem agora na triste conclusão, este ano o défice, valha-nos a santa transparência será de 7%...
Pormenor de somenos importância: o 1º Ministro quer emigrar para outro País depois de um conselho de ministros, onde foi instigado a aumentar o IVA, o IRS, a cobrar portagens nas SCUT´s, congelar os ordenados da função pública e cobrar as dívidas aos clubes de futebol.
Resumindo os reparos todos:
O nosso 1º Ministro nunca será responsável pelo aumento dos impostos como ele tão veementemente tinha prometido na sua campanha eleitoral
A culpa é do Presidente do Banco de Portugal (e do Presidente da República a quem deram o recado), que só agora deu conta que se terá de tomar tão impopular medida
Os clubes de futebol nunca mais vão pagar os impostos que nos devem (pormenor inquietante).
Agora depois destes tão refulgentes pormenores reparem noutro e que demonstra bem como houve pequenas notícias que nos deram sem nos quererem incomodar:
Os impostos vão aumentar, a culpa é do outro: do tipo que nos deu a notícia, o Presidente do Banco Central, que já cá não vai cá estar para lhe apontarmos o dedo (a mudança de Banco de Portugal, para Banco Central é obvia), e indica claramente que o próximo Presidente do Banco Central Europeu, será o Dr. Victor Constâncio Aproveito desde já para lhe dar os meus parabéns, a guia de marcha está passada, não sei bem é como vai ser a coabitação com o Barroso, mas também quem se importa?
Continuamos à espera que o 1º Ministro diga qualquer coisinha e que nos conte pormenorizadamente, o futuro tétrico que nos espera
E agora, finalmente, o que me tem incomodado profundamente e é um pormenor demasiado importante para eu não deixar de reparar nele: o pessoal do Gato Fedorento está a perder a piada (Força, estamos todos à espera que nos continuem a fazer rir, eu sei que é difícil sem os cromos de antigamente, mas sinceramente, os cromos só mudaram de nome).
Eu devia mesmo ter ficado em Espanha, mas os tipos deram-me mesmo como castigo voltar a Portugal
Nem umas 24 horitas me deram de férias. Eu insisti, mas eles disseram que era impossível depois aturar a Comunicação Social portuguesa.
Quando cá chego apanho tudo numa grande confusão:
O Dr. Luís Nobre Guedes é constituído arguido. A historieta toda a gente a sabe, dizia um comentador que não se acredita que seja uma vingançazita por causa da história do célebre Freeport, onde aparece o nome do nosso actual Primeiro Ministro, vá lá a gente acreditar nisso.
Já viram bem a lista de implicados? Os seus negócios? As suas filiações partidárias?
Depois chamam para comentar o Dr. João Soares. Lembram-se dele?
Foi o mesmo que deixou um buraco na Câmara de Lisboa e que o nosso amigo Pedro tratou de aumentar.
Fiquei perplexo, deviam ter mais cuidado com os comentadores que chamam aos estúdios. O Dr. João Soares não foi o mesmo que atribuiu uma data de Euros para a Fundação Mário Soares, bem como outras benesses a nível imobiliário à mesma? Já agora para que serve a Fundação? E os terrenos onde está implantado o El Corte Inglês, já alguém descobriu como é que foram vendidos? E a que preço? E porque é que uma das senhoras que pertencia aos quadros camarários aparecia tão ligada ao mesmo El Corte Inglês, até lá fazia uma perninha?
Só mais uma coisita, e a pergunta foi feita por um deputado do PSD na qualidade de comentador, como é que a SIC chega primeiro à notícia, também é coincidência?
Finalmente um alívio: o Ivo Ferreira que depois de ter apresentado vestígios de droga no sangue, quando apenas pegou num charro e nunca o fumou, foi libertado, a Comunicação Social fez história, mas pelas palavrinhas que se lêem nas entrelinhas aconselho vivamente que nenhum jornalista português vá até aquelas paragens nos próximos tempos, são considerados persona non grata por lá.
Só mais duas noticiazitas (e são tão pequeninas que quase ninguém as vai ler hoje no DN), uma sobre uns alegados favores que o Major fez ao pai do Dr. Marques Mendes, e tem o título de Só pode ser revanche de Valentim Loureiro, uma história muito picante sobre o tráfego de influencias e onde o pai do líder do Partido Laranja diz que não se recorda de ter enviado duas cartas a meter uma cunha ao Major e ainda que isto não passa de uma vingança do mesmo, já que o filho não o quer como candidato à edilidade de Gondomar. Esclarecedor?!?
A outra ainda mais pequenina, no mesmo jornal: Chipre Português detido por posse de droga, um cidadão português com um charro de 4 quilos. A sorte dele foi ter caído nas mãos dos gregos, porque se tivesse sido apanhado pelas autoridades turcas, o caso seria bem mais grave.
Já repararam que a Comunicação Social funciona por modas?
Agora está na moda dar notícias sobre portugueses que andam no estrangeiro a ser presos por posse de droga, já adivinharam qual vai ser a próxima?
Agora uma de cultural, o homem forte da Revolução dos Cravos: Otelo Saraiva de Carvalho, vai escrever um livro sobre o papel dele na dita. Aproveito para lhe pedir que ele me explique um epitáfio com que um camarada de armas (dele) o brindou: Tiveste a faca e o queijo nas mãos, enganaste-te e cortaste as mãos . (Louros a quem lho dedicou, eu nunca me lembraria de um tão bom).
Depois de ler todas as notícias que chegam sobre o português Ivo Ferreira, o cineasta que foi preso no Dubai, fica apenas uma pergunta:
O Ivo Ferreira estava no Dubai a que título e pago por quem?
Resta saber se não foi à custa de um qualquer subsídio estatal, para tornar a história mais picaresca. Poderá alegar que para realizar o seu trabalho utiliza meios psicotrópicos e pedir uma indemnização à Segurança Social
Ainda bem que não foi na Tailândia, se se provasse que era traficante, para além de consumidor enfrentava agora uma condenação muito séria: a pena de morte.
Mas o que deixa mais apreensivo, é efectivamente a ingenuidade de toda esta notícia e todo o folhetim à volta dela.
Lembram-se daquela jornalista portuguesa que foi baleada no Iraque em serviço?
E do avião disponibilizado pelo governo português para a ir buscar?
O que é que estas duas pessoas têm em comum?
Espero bem que no dia em que o Emirato do Dubai tenha um cidadão preso, por ter fumado um charro, a nossa Comunicação Social e o nosso Governo interfira nos poderes judiciais deste País, à beira mar plantado, para dar o mesmo tratamento que deram ao caso Ivo Ferreira.
A outra coisa que me choca é a leviandade de todos os intervenientes: o consumo de droga neste País já foi despenalizado?
Desculpem, mas agora vou até ali a Espanha fumar uma ganza, só assim é que me vou aguentando por aqui
P.S.: Caso ninguém tenha notícias minhas dentro das próximas 24 horas, agradeço que informem a SIC, a TVI e a restante Comunicação Social, bem como Ministério dos Negócios Estrangeiros, para pedirem clemência ao Rei Juan Carlos e o respectivo indulto
Pensando bem, esqueçam, eu prefiro cumprir a pena, pelo menos evito ver televisão e ler as notícias dos jornais portugueses durante uns tempos, nada como umas boas férias pagas.
Bem, tem razão o pobre do Santana em dizer que gosta do estilo de governação do Sócrates
Na verdade a diferença é mínima, a história do Ministro que diz e é prontamente desmentido pelo seu Primeiro Ministro, foi uma prática corrente na governação do Pedro, já houve outras e nem três meses de governo temos.
Se bem se lembram foram essas confusões que ditaram a sua demissão, o Presidente da República nessa altura invocou essas mesmas para tomar tão credível decisão, acompanhado em coro pela nossa sempre isenta comunicação social e os partidos da esquerda portuguesa.
O mais interessante é que é preciso o nosso sempre viperino Prof. Marcelo lhe fazer referência para que o povo se comece a interrogar sobre os podres do poder instituído.
Convenhamos eu também não gostava dele, do Pedro, claro, mas gostaria de uma vez por todas que, aproveitando as palavras do George, que: Não houvesse animais mais iguais do que outros
Estranha-se ainda o facto do nosso Primeiro estar calado, os versos do António Aleixo, são inspiradores, eu sei, mas não devemos esquecer aquela máxima popular de que quem cala consente e de quem não sente não é filho de boa gente.
Claro que ele não sente nada, já que os únicos a sentir alguma coisa somos nós e a onda Rosa que varreu este País ainda nos vai trazer muitos amargos.
Bem para falar verdade também me deixa preocupada a Onda Laranja, têm um chefe de partido que para além de ser pequenino, fez escola nas pistas do Ateneu e leu Maquiavel como ninguém.
No entanto depois das batalhas perdidas com o Isaltino e com o Major, deveria mesmo era repensar a sua estratégia e de uma vez por todas entrar nos comerciais dos M&Ms, davam menos dor de cabeça e ficávamos todos mais felizes.
Os meus parabéns apenas a uma pessoa, com eles no lugar: o Jorge Coelho, que disse, que o referendo sobre a questão do aborto, deveríamos esquecê-lo e ser a Assembleia a legislar. Concordo plenamente com ele, apenas estranho o facto do PR e do partido do Governo não terem aproveitado a deixa e fazerem o trabalho de casa, de uma vez por toda ficávamos com o problema resolvido e sem as trapalhadas de uma consulta que para além de não servir de nada, só para gastar dinheiro, vai empurrando o assunto ad eternum para as nossas mãos. Aderimos à União Europeia a ao Euro sem sequer nos consultarem e agora querem fazer um sobre o aborto?
Se calhar e em opinião contrária ao que vai por aí a nossa Lei Constitucional deveria permitir dois referendos ao mesmo tempo e para que os portugueses não tivessem quaisquer dúvidas sobre a pergunta, esta seria apenas uma:
Concorda com o aborto da Constituição Europeia?
Mad: Para perguntas cretinas, respostas estúpidas
Apareceramm umas listas em posse da Maçonaria Portuguesa, que as guardou religiosamente durante 30 anos, a discussão que se instala na sociedade portuguesa é se as pessoas referenciadas nessa lista, são ou não antigos agentes da PIDE, correligionários da Legião Portuguesa ou informantes do ante 25 de Abril.
A polémica travada entre o Director da Torre o Tombo e o Grão-Mestre da Maçonaria é assaz interessante: são ou não antigos agentes, ou apenas simples moradas de pessoas que recebiam propaganda?
Como diz o José Júdice com algum cinismo é que os efeitos de serem ou não serem é irrelevante: elas só serão reveladas, porque estão abrangidas pelas regras da confidencialidade daqui a 50 anos.
O bizarro não é a tendência dos portugueses darem palmadinhas nas costas e caírem nos braços um dos outros , como ele diz mais à frente, o bizarro é ninguém perguntar é que uso a Maçonaria portuguesa deu durante 30 anos a esses documentos, ou para que fins foram utilizados?
É a própria Maçonaria que os põe a descoberto já que afirma a pés juntos que a lista é efectivamente de agentes do antigo regime.
Poderíamos continuar a falar de listas, e como diria o José Júdice temos ainda a lista da Dra. Catalina Pestana, que pelo andar da carruagem, deve ficar no segredo dos deuses ou da justiça, como preferirem, mais outros 30 anos, na esperança efémera de que sejam revelados os podres que partilha.
Bem, nada me espanta, já fizemos escola com o 4º segredo de Fátima, portanto já estamos habituados a estas andanças.
Na verdade deveríamos continuar à procura de listas, aquelas que foram piedosamente entregues pelo Partido Comunista ao KGB nos anos idos de 1974, e que eram compostas pelos arquivos da dita PIDE e que agora fazem parte do espólio dos arquivos dessa antiga polícia da extinta União Soviética e que nenhum político dos que estão no activo e daqueles que por lá passaram, ainda não pensou em pedir...
Perdoem-me a analogia, mas isto parece aquela desculpa muito british, dada por um museu, de que não devolve o espólio do antigo egípcio aos verdadeiros donos (os egípcios), porque em Londres o número de pessoas a visitar as múmias será sempre maior do que num museu do Cairo. Um dia destes tenho que utilizar esta desculpa para recuperar as pedras da barragem de Cabora Bassa ou o túmulo do Zé do Telhado
Infelizmente a essas listas ninguém se refere, mais ainda, ninguém pergunta a ninguém para que serviram, nem nunca serão assacadas as respectivas responsabilidades da sua entrega.
Sobre o fim que levaram é obvio, basta ler a história do antigo Secretário Geral das Nações Unidas, o austríaco Kurt Waldheim, que durante anos foi manipulado pelo KGB e que finalmente se demitiu da presidência do seu país, quando estes revelaram ao mundo que ele tinha pertencido às tropas de choque SS do regime nazi.
Este tipo de situações não é novo, sempre fez parte da guerrilha que se instalou após a Guerra Fria.
As listas da Maçonaria cheiram obviamente a outra coisa que não os interesses nacionais. Para que preciso eu de umas listas que só passados 80 anos vou conseguir ler?
Este episódio, ganha pelo caricato, mas (in)felizmente não somos os únicos.
O senhor que se segue da política americana consegue ainda ser mais eficaz, o relatório de 900 páginas que serviu de impulso para a invasão do Iraque, ao revelar que os iraquianos tinham armazenados milhares de toneladas de agentes patológicos, que davam para destruir não sei quantas vezes este mísero planeta foi literalmente reduzido a 99 páginas, onde se afirma que afinal o regime iraquiano já não era detentor desse material, mas que no entanto os terroristas que actuam no Iraque estão prontos a utilizar armas químicas para atacar as forças da coligação
Em é que ficamos?
Os EUA esqueceram-se entretanto de revelar quantas dessas toneladas foram vendidas por firmas americanas, mas aí só estavam a promover as trocas comerciais entre dois países, não é verdade?
Digam lá que eles não são tão bons como nós?
Tentei vender estas teorias ao Nuno Markl, foi recusado liminarmente por falta de provas.
Duvidando ainda, das minhas capacidades cognitivas, junto o "desenho" que enviei por mail ao suporte técnico da SAPO.
Continuo pacientemente à espera que me enviem um recibo do mail enviado à 24 horas atrás.
O meu heterónimo McClaymore alertou-me para o facto de ele ter passado pelo mesmo quando publicou uma fotografia sobre o monstro de Loch Ness donde ele é natural. Ele continua a insistir que eu devia ter juntado a foto dele ou então a foto da "esquadrilha" de OVNI'S (ou UFO), que ele tirou a semana passada a sobrevoarem a Câmara de Lisboa...
(Para proteger a entidade, tanto da parte dos operadores da SAPO, bem como dos utilizadores do SAPO envolvidos no incidente, depois de consultadas as Pedras, as Conchas e uma Cartomante, preferimos manter o anonimato das partes, os nomes usados não são os reais e por favor se os factos relatados forem uma cópia indevida de algum episódio da vossa breve passagem por este planeta, pedimos desde já as nossas desculpas pelo plágio).
I Tentativa de contacto em 2º Grau.
DEDO DO CLIENTE SAPO - Bip, Bip, Bip .
ATENDEDOR SAPO - Acabou de ligar para o número de assistência a clientes, se quiser saber mais sobre o nosso produto marque 1, se quiser saber mais sobre as nossas tarifas marque 2 se quiser
ATENDEDOR SAPO - Por favor marque o seu número de telefone
DEDO DO CLIENTE SAPO - Pi, PiPi, Pipi,
DEDO DO CLIENTE SAPO - Bip, Bip, Bip ..
MARTA - Daqui fala a Marta, em que posso ser útil?
(Pensamento censuráveis do CLIENTE SAPO Gaita, devo de ter ligado para o Seguro Directo. Bem vou ter que tentar novamente.)
CLIENTE SAPO - Desculpe Marta mas preciso de falar com o vosso serviço técnico. Estou a tentar aceder à página de clientes da SAPO e todas as vezes que o faço o meu antivírus avisa-me da tentativa da entrada de um trojan
MARTA - Lamento vai ter que marcar outro número e por favor quando ouvir a gravação marque o 5 para a assistência. O número é
CLIENTE SAPO - Obrigado Marta.
MARTA - Obrigado por ter utilizado a PT
II Nova tentativa de contacto em 2º Grau.
DEDO DO CLIENTE SAPO - Bip, Bip, Bip
MARTA2 - Boa tarde fala a Marta2, em que posso ser útil?
(Pensamentos indecoros do CLIENTE SAPO Decididamente hoje não era o meu dia de sorte. Outra vez uma miúda a tentar ajudar-me a mudar um pneu.)
CLIENTE SAPO - Boa tarde queria apenas notificar os seus serviços técnicos que todas as vezes que tento entrar na página de clientes da SAPO o meu antivírus notifica que estou a sofrer a tentativa de entrada de um trojan.
MARTA2 - Qual o nome de cliente?
CLIENTE SAPO - CLIENTESAPO@SAPO
MARTA2 - Um momento enquanto falo com o meu supervisor
(Esta parte é obviamente invenção da mente perversa do CLIENTE SAPO Parte I)
(em off) MARTA2 Ó Zé está aqui um maluco a dizer que tem um trojan. O que é isso?
(em off) SUPERVISOR Olha lá mas agora que estamos a ver o filme no canal 18 é que tu me vens chatear, olha, diz a esse tipo que não sei o que é isso, nem quero saber
(em off) MARTA2 Mas Zé não é melhor eu dar a resposta 5 dos procedimentos técnicos?
(em off) SUPERVISOR Essa não. O gajo ainda pode pensar que estamos a gozar com ele. Dá-lhe antes a resposta 10.
(em off) MARTA2 Tá bem, já agora que filme é que estás a ver?
(em off) SUPERVISOR Não sei, mas o gajo está quase a comer a gaja
(em off) MARTA2 Ah, estás a ver um filme sobre canibais
(Retomar a conversa de MARTA2 com CLIENTE SAPO).
MARTA2 - CLIENTESAPO@SAPO, lamento mas o meu supervisor diz que não temos vírus nenhum, no nosso servidor.
CLIENTE SAPO - Marta2, agradeço que diga ao seu supervisor que tem e que o meu antivírus está constantemente a abrir uma janela a notificar-me de uma intrusão, o nome do vírus é: trojan.byteverify
MARTA2 - Só mais um minuto por favor
(Invenção da mente perversa do CLIENTE SAPO Parte II).
(em off) MARTA2 Zé o gajo não me larga e a resposta 10 não resultou.
(em off) SUPERVISOR Porra um gajo não consegue ver um filme até ao fim Agora que isto estava a ficar bom
(em off) MARTA2 Então isso é só sangue?
(em off) SUPERVISOR Podes crer o gajo já comeu mais duas e ainda se está a preparar para terceira.
(em off) MARTA2 Que horror e o gajo ainda não está cheio?
(em off) SUPERVISOR Não isto ainda não acabou.
(em off) MARTA2 Mas o que é que eu digo ao cliente?
(em off) SUPERVISOR Olha diz-lhe para mandar um mail, assim quem o vai abrir é o gajo que me vai substituir e com sorte responde-lhe para a semana
(Retomar a conversa de MARTA2 com CLIENTE SAPO).
MARTA2 - Obrigado por ter esperado, o meu supervisor disse que temos mais de 500.000 utilizadores e só o senhor é que se está a queixar da situação, apenas podemos concluir que o seu antivírus não está bom.
CLIENTE SAPO - Desculpe Marta2, a ultima actualização do antivírus foi cerca de duas horas atrás e apenas na abertura da vossa página de clientes SAPO me dá esta mensagem.
MARTA2 - Importa-se de mandar um mail a reportar a situação?
CLIENTE SAPO - Claro que sim Marta2, já agora vou aproveitar e mandar um desenho do ecrãn. Boa tarde
III Tentativa de contacto em 3º Grau.
Envio do mail pelo CLIENTE SAPO com o respectivo desenho.
P:S.: Prometemos voltar ao assunto logo que o SAPO responda ao mail...
Passadas 5 horas sobre o envio do mail aguardo pacientemente que me enviem o recibo que pedi, para me notificarem que o receberam...
O melhor espelho da admiração é a imitação
A minha relação amor/ódio com os computadores começou aos 18 anos. Na época gramei um cadeira que se chamava Introdução à Programação, onde por força das circunstancias fui obrigado a aprender FortranIV, Para quem não conheceu esta linguagem, explico apenas, que as disquetes eram uma cartolina onde o infeliz que queria por exemplo escrever uma simples soma de um digito, passava uma tarde inteira a perfurar pacientemente as ditas cartolinas. Era o rudimento dos computadores e as resmas de cartolinas perfuradas ainda hoje me atormentam em sonhos.
Como era um rapazinho evoluído e já tinha trabalhado numa empresa que tinha um IBM e utilizava umas disquetes enormes de 8 e uma cartolinas A4 com banda magnética para me dizerem o que se facturava na empresa, quando me atrevi a perguntar ao professor do cadeirão de FortranIV porque é que eu estava a aprender uma linguagem que nem no 3º mundo já se utilizava, a nota máxima que me passou a dar foi um dez e só não me reprovou porque ficava mal na fotografia
Depois passados poucos anos apareceram os primeiros computadores pessoais, os Timex, uma maravilha, ligados a um gravador para ler umas cassetes que debitavam um ruído marciano e que depois de algumas tentativas goradas pelo meio, lá nos punham a jogar uns jogos fenomenais em frente de um televisor. Apareceram também os primeiros processadores de texto e as primeiras impressoras caseiras.
E o mundo lá foi evoluindo. Eu nem sequer sabia que o Bill Gates existia. As linguagens que existiam era poucas mas quem dava as cartas era a IBM, tanto em computadores pessoais como nos empresariais. A IBM estava em todas, era nos processadores de texto, era nas folhas de cálculo, era nas impressoras era nos monitores, enfim açambarcava o mercado com o seu símbolo e ninguém se queixava de nada, especialmente a IBM, um dos actos de sucesso era ter um IBM ou ter acções da IBM.
Lá havia uns malucos que compravam outras marcas, mas debalde, batíamos sempre à mesma porta.
Nestes entretantos apareceu um tipo que arranjou um produto que chamou de MS-DOS e que corria em qualquer computador pessoal e que permitia correr outros programas, inventou ainda uns processadores de texto e uma folhita de cálculo, juntou tudo e deu-lhe o nome de Windows.
A IBM nem reparou nele, mas entretanto foi perdendo o poder, deslumbrada com a sua posição e soberba deu-se ao luxo de ignorar o mercado e de perder a noção da realidade.
Não sem antes ter feito alguns estragos, comprou a Wang Tecnologies, refundiu a empresa aproveitou os seus melhores recursos e acabou com ela pura e simplesmente
Segundo a IBM eram as leis do mercado, para alguns (como eu) era a tentativa de continuar a dominar o mercado.
Mas os dados estavam lançados e o inexorável rolar dos tempos e da tecnologia fizeram recuar esse gigante para uma prateleira, até que
Até que descobriu como continuar a chatear: como o custo que pagava ao Bill Gates era muito caro (as companhias de hardware como a IBM, a HP e outros fabricantes de computadores pessoais pagam à Microsoft 5 dólares USA por cada licença de Windows que colocam nos nossos desktops ou portáteis, eu pago seguramente 20 vezes mais se o quiser comprar ), arranjaram uns gajos porretas que trabalham de graça, deram-lhes os códigos fonte do UNIX e eles arranjaram um sistema operativo que a rapaziada tratou logo de distribuir.
Bem o meu primeiro contacto com o invento a que deram o nome de LINUX não foi muito cativante, uns amigos meus que o distribuíam pela módica quantia de 1,5 (o custo da gravação de 2 CDs) juntamente com o hardware que vendiam, traziam-lhes alguns engulhos ou eram os modems que não funcionavam ou eram as placas gráficas que pura e simplesmente se recusavam a deixar transparecer qualquer informação no ecran.
Eu com isto não quero dizer que não tivesse os meus problemas com o WINDOWS e pelas mesmas razões, na verdade quando tentei meter na mesma board uma placa de vídeo e um modem do mesmo fabricante cheguei à brilhante conclusão, depois de ter migrado do Windows 98 para o XP, que os problemas que o LINUX tinha eram exactamente iguais aos meus e a solução foi fazer como eles, trocar de placa de modem
Mais, os meus problemas com a Microsoft vinham detrás, a minha opinião era de que estavam meteoricamente a tomar conta do mercado e a comportar-se exactamente como a IBM.
Nessa altura equacionei mudar de sistema operativo, não o fiz por falta de tempo e paciência, para além disso após umas quantas correcções o XP lá se instalou e passou a funcionar.
Não obstante ter corrigido a sua rota, face à concorrência que se tem vindo a impor, a MICROSOFT ainda tem um longo caminho a percorrer, assim como o LINUX.
Bem, esta é a minha posição como utilizador doméstico, mas o meu post é uma resposta que eu quero dar a um artigo de um Jornal que eu admiro e leio com frequência: o Bits e Bytes, de 15 de Abril e que tem um artigo de um senhor chamado Ricardo Oliveira.
Começo pelo título: Obtenha os factos Frio, Frio, Frio, nada melhor que publicidade a uma marca de congelados, de vodka ou de um bom vinho, servido bem gelado, para chamar a atenção do público português, se não estivesse inserido no Jornal em questão, pensaria que se tratava de uma nova campanha de marketing da COCA-COLA para lançar uma nova bebida.
Quanto à imagem dos pinguins do LINUX a usarem o símbolo da MICROSOFT para aportarem e fazerem de trampolim, tem apenas uma leitura: até os pinguins do LINUX precisam de boleia e de descansar. Pelos vistos para sobreviverem têm que usar a MICROSOFT como bóia no mar da informática (isso fica-lhes muito mal).
Quanto ao resto do artigo perde-se em conjecturas sobre o que levaram as empresas a migrar do sistema de LINUX para uma plataforma MICROSOFT deixando algumas frases soltas e inacabadas, inserindo outras no contexto que mais lhe convém, argumentando que a falta de assistência e os custos da mesma, nas chamadas plataformas abertas não é factor determinante para que se opte por outro produto (!?!). Acaba depois o artigo a falar em TCO (Total Cost of Ownership, custo total da propriedade) e em ROI (Return of Investiment, retorno após investimento).
Enquanto se deixou deambular pela parte técnica o caso até foi bem conduzido, e eventualmente as falhas da campanha da MICROSOFT até pareciam enormes, mas não resistiu, veio bater no ponto que considerava mais fraco e enganou-se.
Aquilo que deixa transparecer é que não foram feitas contas e que se optou por uma tecnologia mais cara e com suporte mais caro.
Que não foram feitas consultas ao mercado e que não se avaliou o impacto e os custos da nova implementação, mais grave ainda que foram deixadas de fora consultas a soluções ditas sem custos ou de licenciamento à borla.
A primeira lição que aprendi a sério na minha vida e que me foi dada por um gestor, é que os mercados a nível mundial têm tendência a não comprar qualidade, mas sim preço. O mercado português é então impossível de controlar porque aqui para além do preço os portugueses compram descontos
Mas pode ficar descansado, foram consultados parceiros que vendem plataformas LINUX e que não são tão baratas como se diz, mais ainda porque são honestos e devido às exigências que fazíamos, nos aconselharam, para não termos um mas vários produtos para fazer o mesmo que o da MICROSOFT, a optarmos pela solução que menos problemas nos traria.
Para além disso foi com agrado saber que algum desses desenvolvimentos são feitos em Portugal e por portugueses, aguardamos a sua evolução e estamos atentos à sua implementação e custos da mesma e do respectivo produto.
Perdeu ainda a oportunidade para falar do aproveitamento dos recursos do hardware, fez mal se calhar aí até teria alguns argumentos.
Pelo que depreendo das suas palavras é obviamente um elemento ligado ao LINUX, e faz muito bem em defender a sua dama.
Mas quando passa da defesa para o fanatismo e para o fundamentalismo, recordo-lhe que não estamos a falar de fé e ainda não temos santos informáticos ou se preferir informáticos santos
Como deve calcular nos vértices dos custos que sublinha está um que tem a ver com pessoal e a formação do mesmo (esqueceu-se dele), se opta-se pela plataforma livre, ficava escravo de um contrato de manutenção ou como opção teria que recrutar e formar um novo colaborador para me dar assistência no novo produto.
Utilizo uma plataforma LINUX que tem custos e que deve conhecer: o RED HAT e todas as vezes que tenho que instalar um servidor de testes vou com a corda ao pescoço pedir ao Director Financeiro que me autorize a verba e não lhe consigo explicar como é que eu pago em dois dias, para instalar um servidor LINUX, o mesmo que pago num mês ao colaborador que me instala um servidor MICROSOFT numas horas
Depois de consultar o meu Director de Recursos Humanos e o Director Financeiro, é com agrado que lhe transmito a minha intenção de o contratar, a custo zero claro, porque infelizmente é a verba que disponho para contratações de pessoal ou então de continuar com a plataforma MICROSOFT e a trabalhar com a prata da casa.
Claro que lhe deixo algum tempo para cobrar pelos autógrafos que der. Um homem, mesmo do LINUX tem que ganhar algum dinheiro para sobreviver (esta piada deixo-lhe a si o encargo de a explicar, o seu segundo sentido morre entre nós).
Victrix causa diis placuit, sed victa Catoni
latim A causa vencedora agradou aos deuses, mas a vencida a Catão. Lucano, em Farsália, I, 128, alude à fidelidade de Catão a Pompeu, quando este foi derrotado por César.
Emprega-se para expressar apoio a uma causa, embora vencida.
Eu fui daqueles que leu nas sebentas da escola a história épica de Viriato e de Sertório, de pequenos nadas que elevavam a nossa débil nacionalidade. Fui habituado a ter orgulho na padeira de Aljubarrota, no sacrifício de Martim Moniz, na obscuridade de D. Fuas Roupinho. Nas Cortes de Lamego, desculpa-me Alexandre Herculano, mas parece que foram inventadas
Nas campanhas de Mouzinho de Albuquerque, que como anti herói se suicidou, de D. Aleixo Corte-Real, que combateu os japoneses no longínquo Timor.
Ouvia falar de Gungunhana, que mesmo sendo um inimigo, o seu nome não foi riscado da história.
O desbravar de histórias fantásticas de Fernão Mendes Pinto, nas guerras nos confins do mar de Aden, em Afonso de Albuquerque, em lugares como Calecute ou Ormuz.
Nos inventos que deram outros horizontes à humanidade, no astrolábio dos decanos dos navegadores e na matemática com o Nónio de Pedro Nunes, de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral.
O orgulho de falar nas campanhas de descobrimento da África profunda, de Hemergildo Capelo, de Roberto Ivens e Serpa Pinto.
Eu tinha orgulho em ser português e ensinavam-me onde ficava o ponto mais alto de Portugal: o monte Ramalau em Timor, os rios de Angola, de Moçambique, onde ficavam as Cataratas do Duque de Bragança, onde ficavam enterrados os desterrados, mesmo aqueles que se haviam desviado das leis dos homens, como o Zé do Telhado.
Eu gostava dos filmes que mesmo politicamente correctos ainda hoje me fazem rir.
Eu tinha orgulho nos meus escritores, nos meus poetas como Camões, nas anedotas do Bocage, nos líricos como Luísa Toddi.
Nos meus ladrões, nas minhas prostitutas, nos meus corsários, nos meus Papas e nas minhas raízes de judeu, de almorávida, de godo, de romano e de suevo ou de alano.
Eu tinha orgulho nos meus reis, nos meus heróis que me davam uma perspectiva de nacionalidade arrebatada.
Onde estás tu D. Sebastião? Onde está a Encíclica Geração, os meus trovadores, os meus navegadores que deram novas terras ao mundo?
Onde estão os que penhoravam as barbas para manter a sua palavra?
Um professor disse-me um dia que a história é sempre escrita pelos vencedores
Nós perdemos a nossa história, onde é que perdemos a nossa guerra, em que campo sem nome é que fomos derrotados?
Mas o que mais me constrange é que metade dos nomes que eu invoco, são desconhecidos das gerações actuais e nada me leva a crer que os venham a aprender.
- Muito bom dia, eu sou o cidadão nº 666 Pode-me indicar onde fica a sala de tortura?
- Muito bom dia cidadão 666, na base de dados que acabo de abrir, o seu número diz-me que tem tendências autoritárias, narcisistas e melómanas, para além disso, não pagou os impostos de 1984 referentes a um sítio chamado de Inferno, a base de dados diz ainda que os seus genes não o deixam votar também no partido único: o Partido Nacional Socialista...
Lamento muito, mas como funcionário do estado, vou ter que o mandar prender.
- É, eu sou uma Besta.
- Desculpe Mestre, eu não sabia.
- Não faz mal meu filho, continua a cumprir o teu dever, que eu recompenso-te e um dia destes, mando-te de férias para Portugal
- Desculpe Mestre, mas prefiro que me mande para o Purgatório, não é por nada sabe, mas já me disseram que aquilo lá é um bocadinho pior que isto.
Artigo 35º da Constituição Portuguesa
1 - Todos os cidadãos têm o direito de acesso aos dados informatizados que lhe digam respeito, podendo exigir a sua rectificação e actualização, e o direito de conhecer a finalidade a que se destinam nos termos da lei.
2 - A lei define o conceito de dados pessoais, bem como as condições aplicáveis ao seu tratamento automatizado, conexão, transmissão e utilização, e garante a sua protecção, designadamente através de entidade administrativa independente.
3 - A informática não pode ser utilizada para tratamento de dados referentes a convicções filosóficas ou políticas, filiação partidária ou sindical, fé religiosa, vida privada e origem étnica, salvo mediante consentimento expresso do titular, autorização prevista por lei com garantias de não discriminação ou para processamento de dados estatísticos não individualmente identificáveis.
4 - É proibido o acesso a dados pessoais de terceiros, salvo em casos excepcionais previstos na lei.
5 - É proibida a atribuição de um número nacional único aos cidadãos.
6 - A todos é garantido livre acesso às redes informáticas de uso público, definindo a lei o regime aplicável aos fluxos de dados transfronteiras e as formas adequadas de protecção de dados pessoais e de outros cuja salvaguarda se justifique por razões de interesse nacional.
7 - Os dados pessoais constantes de ficheiros manuais gozam de protecção idêntica à prevista nos números anteriores, nos termos da lei.
O Governo acabou de confirmar que vai reunir todos os perfis dos cidadãos portugueses numa base de dados até ao final da legislatura, a notícia já obteve confirmação por parte do Ministro da Justiça António Costa.
O projecto anterior, previa apenas que esses perfis só incluíssem pessoas condenadas pela justiça, um conceito muito vago e abrangente como podem ver: uma multa não paga poderia estará incluir um qualquer cidadão nesta base de dados. Para além disso o nome de perfil é ainda mais vago.
O Governo propõe uma solução global que seria tutelada por uma comissão independente, não garante também a privacidade de ninguém.
A manipulação genética e a tentativa de controlar a humanidade através dessa faceta, teve o seu supra sumo numa figura de má memória que se chamava Hitler.
Foi continuada pelos regimes comunistas e pelos vistos quer ser aplicada neste País, as guerras tribais em África e outras que se passaram na antiga Jugoslávia, são a moeda de troca que são o culminar de limpezas étnicas e não só, poderão ser facilitadas pelo acesso a bases de dados circunscritas.
Poderão ainda ter outras implicações morais e patrimoniais, como por exemplo um filho, ou um pai descobrirem que não são parentes
Numa conversa banal com um amigo meu, que por acaso é amigo pessoal do Sr. Ministro da Justiça, confidenciou-me há muitos anos atrás que estava preocupado com o controlo descarado que os cidadãos estão sujeitos, qualquer instituição bancária consegue neste momento controlar onde compram os seus clientes, onde se vestem, onde almoçam, por onde viajam, basta seguir o cartão de crédito
Os telemóveis são outro factor de controlo, é possível neste momento saber por onde andam os cidadãos, basta localizar o número de telemóvel, num País onde existe quase um telemóvel por pessoa, essa tarefa fica mais facilitada.
O Ministro da justiça na sua passagem pela Comissão Europeia esteve no centro de uma polémica com os E.U.A. sobre o acesso deles a dados considerados confidenciais, depois calou-se. Gostaria muito que me explicasse onde param os dossiers sobre o Echelon e o Carnivore.
Sobre o Echelon:
"Echelon is perhaps the most powerful intelligence gathering organization in the world. Several credible reports suggest that this global electronic communications surveillance system presents an extreme threat to the privacy of people all over the world. According to these reports, ECHELON attempts to capture staggering volumes of satellite, microwave, cellular and fiber-optic traffic, including communications to and from North America. This vast quantity of voice and data communications are then processed through sophisticated filtering technologies.
This massive surveillance system apparently operates with little oversight. Moreover, the agencies that purportedly run ECHELON have provided few details as to the legal guidelines for the project. Because of this, there is no way of knowing if ECHELON is being used illegally to spy on private citizens.
This site is designed to encourage public discussion of this potential threat to civil liberties, and to urge the governments of the world to protect our rights."
Para quem não sabe o que é o Carnivore ficam estas linhas:
You may have heard about Carnivore, a controversial program developed by the U.S. Federal Bureau of Investigation (FBI) to give the agency access to the online/e-mail activities of suspected criminals. For many, it is eerily reminiscent of George Orwell's book "1984." Although Carnivore was abandoned by the FBI in favor of commercially available eavesdropping software by January 2005, the program that once promised to renew the FBI's specific influence in the world of computer-communications monitoring is nonetheless intriguing in its structure and application.
A minha insistência no assunto deve-se apenas ao facto, talvez banal para alguns, de uma imposição irreversível e que colide com a liberdades de todos os cidadãos.
Ainda não vi nenhum sinal de revolta ou de desconforto nesta sociedade adormecida e a nossa comunicação social, tirando honrosas excepções, ainda nem sequer deu conta do que se prepara com esta medida anunciada
Está na hora de acordarmos.
Segundo as últimas notícias o governo prepara-se para elaborar a nível nacional um banco de código genético.
A despreocupação banal com que nos brindam com esta informação, sem o mínimo de consistência, deixa-me assaz preocupado. Ainda não vi ninguém, nem a querida oposição a fazer as devidas perguntas para o que se está a preparar.
A maneira subtil e escondida com que nos querem impor uma nova maneira de controlo é demasiado grave para ter passado despercebida. A questão do aborto ou mesmo da Constituição Europeia, são bem mais simples de se referendarem do que aquilo que o governo com esta medida nos quer impor.
Qualquer estúpido sabe que se houver alguém com acesso a um banco de código genético, poderá manipular várias informações que vão contra o mais essencial das liberdades e garantias pessoais e consagrado na nossa Constituição, ainda em vigor.
Não vi aqui nenhum dos nossos pretensos, pseudo e iluminados constitucionalistas a fazer qualquer comentário.
A maneira irreflectida e irresponsável deste governo de anunciar a criação de um banco de dados genético serve os interesses de quem?
Eu vou apenas pegar no exemplo da Islândia.
Devido à particularidade do país, que só tem 280.000 de nacionais e sendo uma ilha isolada, o código genético é bastante restrito. As pressões por parte de um médico, dono de uma companhia que se dedica exclusivamente ao controle e angariação das bases de dados genéticos dos islandeses, levaram a que o parlamento desse simpático País e teoricamente uma avançada democracia, lhe desse o direito durante 12 anos de ter em exclusivo o acesso e a criação dessa base de dados. Conseguiu ainda mais, por ordem desse mesmo parlamento, que todos médicos lhe fornecessem os boletins clínicos de todos doentes da Islândia
Já começam a ver aqui os meus temores.
Para agravar mais a situação, não há lei nenhuma que impeça essa companhia de vender os dados que não lhe pertencem a terceiros, e sabem os meus amigos quem são os seus clientes: as companhias de seguros que operam nesse insular País.
Quando confrontado sobre a ética desse problema, o dono da companhia deu uma resposta muito em voga:
Eu não posso falar se é ético ou não vender o acesso a essa base de dados, já que não fui eu que dei autorização para fazê-lo
A resposta é definitivamente obra da escola de políticos que tomaram de assalto Portugal, em absoluto, este senhor tem raízes na política portuguesa ou teve lições pagas de políticos portugueses.
Para finalizar, e para constatarmos da falta de transparência deste banco de dados, perguntaram ao dono da companhia se os dados estavam a salvo de pirataria:
Como sabem qualquer base de dados pode ser roubada. Não, não garanto que não possa ser roubada
Tirem as ilações que quiserem, mas acho que devemos perguntar ao Engº Sócrates que futuro é que ele nos está a reservar
A história do cartão único e da base de dados genética interessa a que obscuros poderes?
Caríssimos continuo a insistir, tirem o pó aos livrinhos do George Orwell
A manhã de domingo corria lesta, o dia luminoso entrava pela janela da sala. O Pai, indolente, lia sem atenção as letras gordas do jornal, que tinha acabado de comprar no quiosque, depois do café tomado no balcão da esquina.
A Mãe qual formiga atarefada, já tinha enviado os miúdos para o banho, feito as camas, arrumado a cozinha, passado um pente no cabelo, rápido e seguro.
A hora do almoço aproximava-se, o barulho dos tachos e das panelas ecoava renitente na cozinha, entre os risos das crianças que depois do banho se esgueiraram para tomar o pequeno almoço.
De repente, olhos brilhantes, cara de safado, ar compenetrado de cima dos seus cinco anos de sabedoria ingénua, feitos à pouco tempo, o mais novo, olhando a mãe nos olhos rematou:
"- Mãe vamos ter que te comprar uma pilinha..."
As sobrancelhas interrogativas, que encimavam os olhos sem maquilhagem e cansados da Mãe, levaram uma resposta inesperada:
"-Só tu é que trabalhas nesta casa..."
PS: O meu contrato com o sapo obriga-me a escrever de vez em quando umas baboseiras, continuo no: Qualquer dia antes de morrer
Estou a mudar de casa, ando irritado com este sapo e não tenho paciência suficiente para me dedicar ao html. Se me quiserem visitar vão até: Qualquer dia antes de morrer
- Gomes trás aí os jornais, mostra-me o que dizem os blogs
- Mas Santana vais mexer nisto outra vez? Esta lista nunca mais está pronta
- Claro, temos sempre que estar à frente, não somos como os socialistas que ainda utilizam o velho sistema estalinista, não vês o Portas, até utiliza o sms
- Santana, o que é isso de sms?
- Boa pergunta Gomes, mas também não sei
- Parece uma sigla Deixa ver com que é que isso dá Não estou a gostar mesmo nada disto.
- Tens razão ó Gomes não queres ver que o gajo tá a passar uma mensagem subliminar ao País: santana mais sózinho
- Deixa estar Santana, pelo menos safamo-nos com o retrato do Cavaco nos nossos outdoors
Passamos mais um ano. Detesto as histórias repetidas, as frases feitas de improviso, mas sem sentido. A memória começa a falhar e como tal é meu dever recordar, escrever histórias e flashes para que pequenos nadas não morram.
Embora não goste de tertúlias ou esforços de cultura imprimidos, tenho que reconhecer que privei com algumas personagens que me marcaram.
Devo em sinal de reconhecimento, passar as suas palavras para este limbo, não porque eles, os que as proferiram, o quisessem, mas porque acho que alguém o tem que fazer para memória futura.
Nesta minha vida de salta-pocinhas, de eterno cigano, conheci um poeta popular nos Açores, homem de armas, desterrado. Era do Continente, apaixonou-se pelas Ilhas e por uma açoreana, e por lá ficaram as suas cinzas.
Para além de uma profunda e constante luta entre o dever de ficar e a vontade de partir, percorreu o mundo, esteve na Índia e na Guiné, finalmente acabou por assentar arraiais em S. Miguel.
Tinha um espírito cínico de quem nunca encontrou paz, apenas um papel militante que o mantinham preso à vida.
O seu percurso de poeta popular e de bêbado crónico começou na Índia, ainda pertença do nosso extenso Império Colonial.
O Esmeraldo, como era conhecido, fez uma comissão nessas terras do Oriente. Como todos os militares cumpriu para além do seu dever. Deveria ter feito uma estadia pelas terras dos marajás, de apenas 12 meses, mas o tempo foi passando e a guarnição que o deveria render, atrasou-se cerca de 6 meses. Depois de muitas peripécias, lá chegaram os homens que iriam substituir o batalhão do Esmeraldo. Aperaltaram-se as ruas, agalanaram-se as casas e as igrejas. Preparam-se lautos e grandiosos jantares. O Esmeraldo, sempre com um grão na asa, refastelado na cadeira, copo de vinho sempre à mão, entre donzelas, bispos e autoridades civis, viu o governador erguerse, saudar toda a sala num discurso de ocasião e no fim propor de copo levantado:
- e agora nesta hora de despedida, acho que deveria se feito um verso
Olhou profundamente para o lugar do nosso amigo e com um trejeito, deu-lhe a palavra. O Esmeraldo não se fez rogado, levantou-se, ergueu o copo, sempre semi vazio, na opinião dele claro e de improviso rimou:
Ormuz, Malaca e Ceilão
Goa, Damão e Diu
Já cá estou à 18 meses,
Prá puta que os pariu
Não houve relatos dos engasgos posteriores, esta despedida ficou bem marcada pela irreverência do Esmeraldo.
De castigo, foi o Esmeraldo mandado para as terras da Guiné. Descontente e sozinho o Esmeraldo, pediu à mulher que se juntasse no seu exílio forçado. O pai da sua esposa, um velho General, conhecedor da confrangedora terra e das doenças que aí grassavam, opunha-se veementemente que os dois se reunissem. Desesperado e imbuído pela sua cínica veia, depois de vários pedidos e rogos, decidiu-se em enviar um simples telegrama ao seu sogro e superior. Dizia apenas:
Exmo. Sr. General, ou vem mulher do quadro ou avança miliciana, a mensagem foi de imediato descodificada, a mulher do Esmeraldo levou o tempo da entrega do telegrama e da viagem de barco, a reunir-se com ele em Bissau.
Depois de vários percursos, acabou na terra da mulher, onde despachava ocasionalmente no bar, um dia de copo na mão e tendo como fundo um calendário de uma pin-up, mais despida do que vestida, entregaram-lhe uma punição relativa a dois mancebos que tinham sido apanhados em actos menos próprios e enquanto lia pensativo, olhava a musa enternecido e recitava:
Que olhos, que rosto, que lábios,
Que corpo que mamas, que rabo,
Ainda há reles filhas da puta,
ca mão, na pissa dum cabo.
Nem a adorada Natália Correia se livrou do seu cinismo militante, um dia no
Clube de Ponta Delgada, numa dessas tertúlias de intelectuais onde se liam e faziam uns versos e prosas, com a sua cigarrilha petulante, enfrentou o Esmeraldo e disse-lhe:
- Faz versos para toda a gente, menos para mim, se for falta de inspiração, até lhe dou o mote: só tu Natália, só tu
O Esmeraldo olhou para a Natália, remirou-a, olhou o fumo que ela retirava da longa boquilha, que lhe fazia descair ligeiramente o lábio e rimou:
É coisa que não me espanta,
ver hemorróidas no cu,
mas ver hemorróidas na boca,
só tu Natália, só tu
A Natália não gostou, o Clube inteiro desatou às gargalhadas, a tertúlia acabou aí, ninguém mais teve coragem de continuar a olhar a cara da Natália sem se rir.
O Esmeraldo era como podem ver um perito em estragar festas, e nessa sua tremenda queda para isso teve um ano em que lhe foi dado o título de inimigo público nº um de Ponta Delgada.
Manda a tradição que o Carnaval em Ponta Delgada seja passado no Coliseu da terra. Toda gente veste os melhores fatos para a folia, enfrenta rivais com bolas de parafina cheia de água e leva um lauto farnel para comer durante os intervalos do espectáculo que dura até altas horas no velhinho anfiteatro.
Nesse ano uma das cabeças de cartaz era um duo, marido e mulher que iriam brindar o público com umas valentes desgarradas. O azar bateu à porta e o membro masculino teve um ataque de tosse e ficou afónico. Entre o entrar em palco sozinha e enfrentar o público que já sapateava, ela, a outra parte da desgarrada depois de pensar um pouco e confiante na veia poética desse mesmo público, decidiu arriscar, entrou em cena e começou a cantar:
Eu cá sou muito cristã,
mas tão grande é minha cruz,
fui casada por três vezes,
estou como fui dada à luz
Por entre a multidão boquiaberta, levantou-se cambaleante o Esmeraldo e de garrafa na mão retorquiu:
Ai Jesus que Deus nos valha,
o que já vai nesta missa,
ou esta mulher nunca fode,
ou os homens não tem pissa.
As mães escandalizadas tapavam os sacros ouvidos das filhas debutantes, gerou-se o pânico, o Coliseu esvaziou-se em minutos, deixando a virgem cantora e os guitarristas no palco, apenas acompanhados pelo Esmeraldo, que teimosamente se mantinha em pé à espera da estrofe seguinte para poder responder
Numa das suas idas ao Nacional, café onde não são quase admitidos contenentais, o Esmeraldo tomava a sua bica, acompanhado pelo devido cheirinho, aqui o cheirinho era mais do que o café convenhamos. Nesse dia reparou que duas moças, já com idade de ter juízo, se riam, que cochichavam e faziam festas uma na outra, pouco complacente com estas situações, retrógrado, esperou que elas fossem à casa de banho e depois de pagar a conta deixou pendurado na chávena de café de uma delas um pequeno papel com os seguintes rabiscos:
Mas que grande aberração,
mas que caso nunca visto,
porque comem pão com pão.
Se é tão bom pão com chouriço.
Entre o seu espírito irreverente e a sua saúde intermitente, devido à quantidade de bebidas que ingeria, ia-se mantendo o Esmeraldo, um dia adoeceu, e antes de uma transfusão, teve ainda tempo de avisar o médico que lhe perguntava o tipo de sangue:
- Senhor Doutor, olhe que a quantidade de sangue no meu álcool circulante é mínima Veja lá o ano da colheita que me vai meter na veia.
Recuperou e num dia de procissão, quando o andor do Senhor se aproximava, deu voz a todos aqueles que sentiam isolados por aquelas paragens:
Ó Senhor do Santo Cristo,
que reinais cá nestas Ilhas,
porque não pois esta merda,
entre Lisboa e Cacilhas.
In memória do Esmeraldo, e de um contador de histórias que me fizeram parecer mais leves os anos forçados de ilhéu.
Há muitas coisas que me incomodam neste País de faz de conta, uma delas é a (in)cultura de certa faixa de personagens que se avistam nos telejornais e as reportagens assaz caricatas que alguns dos canais da nossa santa terrinha nos brindam. Algures num aeroporto português:
Repórter: - Vai para a Tailândia e não está preocupada?
Jovem pseudo-tia: - Estava. Mas recebi uma chamada no telemóvel, que dizia para não me preocupar. Então deixei de estar preocupada...
Repórter: - Mas sabe que vai encontrar a zona toda destruída?
Jovem pseudo-tia: - Pois, mas assim vou ver a paisagem mais natural
A repórter teve aqui o cuidado de infligir um pouco de auto censura, a marca do telemóvel ficou por desvendar e a do fato de banho também.
Palavras para quê?!
Vale a pena recordar a vida, a obra e as palavras de um Homem que imaginou a Grande Onda
Katsushika Hokusai nasceu em 1760, em Edo, sendo aparentemente filho de um artesão. Hokusai é um dos grandes mestres da gravura japonesa, e um dos grandes génios criadores e inovadores de todos os tempos. Sendo o mais célebre dos artistas japoneses, e tendo tido uma profunda influência na arte ocidental, nomeadamente no movimento impressionista, ele é, porém, pouco japonês no seu carácter e na sua obra, em particular pela importância que teve na sua obra a influência daqueles poucos aspectos da arte europeia conhecidos então no Japão. A obra de Hokusai estende-se ao longo de um período notavelmente longo, e, caracteristicamente, atingiu o seu auge já no final da longa vida do artista. Tendo iniciado aos catorze anos a aprendizagem como gravador, entrou, aos dezoito anos, no estúdio de Katsukawa Shunsho, importante autor de gravuras Kabuki. No início do ano seguinte, publicou os seus primeiros trabalhos, gravuras de actores, sob o nome Shunro. Hokusai produziu notáveis gravuras durante a década de 1780, influenciado por Shigemasa e Kiyonaga, mas os seus primeiros trabalhos importantes foram efectuados, sob o nome Kako em meados da década seguinte. Em 1797 adoptou o nome Hokusai, e iniciou o seu primeiro período importante de produção de gravuras e livros. Hokusai foi atraído por influências artísticas das mais diversas, que incluem a arte ocidental, que começava então a ser divulgada a partir do entreposto de Nagasaki, e chinesa. Estas influências tornam-no um artista cujo estilo se afasta do habitual (Ukiyo-e), ao mesmo tempo que alarga a sua universalidade.As suas maiores produções são os conjuntos de imagens de "Lugares Famosos de Edo", em 1800, os quinze livros de esboços publicados sob o título genérico de Manga a partir de 1814, e as duas séries de vistas do Monte Fuji, as "36 vistas do Monte Fuji", onde se inclui a Kanagawa-oki nami-ura (A grande onda de Kanagawa) do início da década de 1830, e os três volumes das "Cem vistas do Monte Fuji", de 1834-35. A energia de Hokusai era prodigiosa e a ele se deve, em grande parte, o estabelecimento da gravura paisagística e da gravura de flores e pássaros (kacho-e) como géneros autónomos e até mesmo dominantes das gravuras Ukiyo-e. A capacidade criativa de Hokusai está intimamente ligada à sua irrequietude, bem diferente do usual no Japão, e que pode ser ilustrada pelo impressionante número de nomes que utilizou ao longo da sua carreira (vinte seis) e pelo número de diferentes moradas que conheceu durante a vida (noventa e três). A sua veia artística ajudou-o a superar algumas das adversidades da vida, quase aos setenta e cinco anos, mesmo desgastado pela pobreza, o filho mais velho gastou toda a sua fortuna, levaram-no a recomeçar tudo de novo. É esta inquietação permanente que fazem dele uma figura ímpar na história da arte universal, e da gravura japonesa, em particular. Com essa idade, Hokusai resumiu assim, no prefácio às "Cem Vistas do Monte Fuji", a sua vida e o seu programa para o futuro:
"Desde os cinco anos de idade que tive a mania de desenhar a forma das coisas. Desde os cinquenta anos de idade que produzi um número razoável de desenhos, mas, no entanto, tudo o que fiz até aos setenta anos não é realmente digno de menção. Pelos setenta e dois anos de idade apreendi finalmente algo da verdadeira qualidade das aves, animais, insectos e peixes, e da natureza vital das plantas e árvores. Assim, aos oitenta anos de idade deverei ter já feito algum progresso, aos noventa deverei ter penetrado ainda mais no mais fundo sentido das coisas, aos cem anos de idade deverei ter-me tornado realmente maravilhoso, e aos cento e dez anos, cada ponto, cada linha que eu desenhe deverá possuir seguramente uma vida própria. Peço apenas que os homens de vida suficientemente longa tenham o cuidado de verificar a verdade das minhas palavras."
Katsushika Hokusai (1760-1849) - Kanagawa-oki nami-ura (A grande onda de Kanagawa)
Nunca nos sentimos tão pequenos em face da força bruta da natureza, é pena que nunca mais aprendamos a lição...
A beleza da imagem só nos relembra a fragilidade das nossas vidas e das nossas efémeras construções.
Somos uma gota neste oceano terrível de emoções, esta quadra nunca mais será a mesma, é bom que não o esqueçamos.
In memória daqueles que pereceram em 26Dec2004.
As cartas chegavam em catadupas, os gnomos, atarefados nos embrulhos e nos acabamentos das prendas, mal tinham tempo para respirar. Catalogavam, empilhavam por países, por temas e por pedidos.
O Pai Natal resmungava, este ano ia ser um ano difícil, nunca tinha havido tantos pedidos.
Ele era pedidos de bicicletas, de aviões, de carros de combate, de carros de corrida, de barcos, de submarinos, entremeados com pedidos bem incongruentes, na verdade havia alguns bem estranhos, nunca se vira nada assim.
O Pai Natal solicito e o melhor que pode lá foi distribuindo pelos sacos os embrulhos, verificando e arrumando, para não haver enganos.
Aproximou-se o grande dia. Lá ao longe, o sol da meia noite refulgia num manto de átomos de cor e claridade invernal, em ondas, que reflectiam nos flocos de neve branda que caiam em múltiplas espirais.
O trenó, cheio até mais não, dourado e brilhante, já tinha as renas aparelhadas, o último saco foi metido a custo. Era um saco enorme, verde e vermelho, quase cores de uma bandeira.
Ao estalar do chicote, aquele conjunto iniciou a sua grande tarefa. Era uma corrida contra o tempo e contra a lógica. Teriam que ser distribuídas todas as prendas que estavam no trenó.
O Pai Natal arfava, e a neve branca, teimosa, agarrava-se húmida e incomodativa confundindo-se com o branco das barbas.
O penúltimo saco foi entregue, faltavam poucos minutos para acabar tão árdua missão, o último saco teimosamente, o verde e vermelho, saltitava já sozinho no trenó.
O Pai Natal pegou nele para finalmente cumprir o sonho de alguns. Pegou na lista, por sinal a mais insólita que alguma vez lhe haviam mandado e começou pelo primeiro: Zézinho maioria absoluta, com as luvas brancas, procurou no fundo saco e enfiou pela chaminé um pacote, parecia uma urna de votos, e ainda se lia em cirílico Ucrânia. Depois passou para o seguinte do enorme rol, o "Pedrinho maioria absoluta", e repetiu a prenda que tinha dado ao José. Depois passou pela casa de um Jorginho um governo novo, da minha cor, aqui deixou um cheque vitalício para a reforma, tranquila e serena do Jorginho e ainda um cartão do partido, novo, brilhante e com uma fotografia a cores, ele não o tinha pedido, mas ele tinha-se portado tão bem que o Pai Natal achou que esta prenda não era demais. Finalmente a penúltima prenda, para o Paulinho um lugar ao sol, esta prenda foi a mais difícil, teve que usar imensa vaselina para entrar na chaminé do menino, mas por fim lá conseguiu enfiar o sol e um bronzeador para satisfazer os desejos mais íntimos do menino. O Thunder (Relâmpago em português) a rena aproveitou ainda para se aliviar na chaminé, o Pai Natal fez que não viu, já estava demasiado cansado para se arreliar com pormenores. Por entre palavras indecorosas que eu me esquivo aqui de repetir, o Pai Natal, deu conta que ainda lhe faltava uma prenda da lista: Os portugueses não queremos nada de material, mas por favor livra-nos deles.
O Pai Natal aflito, bem procurou no fundo do saco, mas nada encontrou. Subiu rapidamente para o trenó, chicoteou as renas com afinco, rumou como um raio para a Via Láctea. Tinha que rapidamente encontrar-se com o Menino Jesus, para entregar a última prenda, precisava desesperadamente de um milagre, pior que isso, um grande milagre e o Pai Natal nunca tinha deixado uma prenda por entregar
A neve derretia ao tocar a terra, lá ao longe, a tempestade corria, ribombava noutros lugares, pairava sobre os cumes como asas negras de tormenta.
Lá dentro, a Senhora, o S. José, o Burro e a Vaca, os três Reis Magos, adoravam as palhinhas nuas, ainda se sentia o quente do Menino, este travesso, ou mão travessa, tinha-o levado a passear.
Talvez voltasse mais tarde, muito mais tarde, constipado
Eu pelo menos imaginei-o a brincar alegre, por entre os arbustos que se espraiavam no santuário.
E quando voltasse, a mãe e o pai dar-lhe-iam uma pequena reprimenda, perguntariam por onde tinha andado e ele cansado da brincadeira, adormeceria de novo, exausto, ficaria no seu lugar eternamente
Ainda lá pensei voltar no outro dia, mas pensando bem, ele voltou
Para me penitenciar, do meu mau feitio claro, prometo que a partir de agora vou tentar que o meu fel não se sinta mais uma vez nas minhas palavras. Para além disso a minha saga atrás de causas perdidas levaram a que o meu blog se transformasse num pasquim político, a resposta a perguntas como esta: Oh pá, mas afinal isto não é um blog familiar?, levavam-me a mudar de rumo. E para me penitenciar, vou juntar uns quantos links de blogs que devem ser visitados: onde escreve a Dra. Ana Gomes e outros autores que devem ser lidos, é o Causa Nossa. Quero ainda deixar um link para o 100 Tretas, o Pensar Possibilidades e o Blue Shell. Prometi a alguém, meu amigo que lhe dedicava um conto de Natal, vou fazê-lo, para a minha redenção final. Desculpem apenas aqueles que acham que isto me transforma num animal politicamente correcto, não é nada disso, mas a quadra que se avizinha leva a que façamos as pazes e mesmo que nos custe, começam sempre por nós.
Relativamente ao meu "post" anterior, deixo aqui apenas duas pequenas reflexões. Em primeiro, mau grado as minhas tentativas de não o encontrar, o local onde a Dra. Ana Gomes escreve, esbarrei literalmente com ele. Em segundo o que o Prof. Vital Moreira intitula de Oxímoro, deveria ser Oximoro, mas para ser mais correcto ainda, do grego Oxymorun s. m., figura de retórica que consiste em associar palavras de sentido contraditório como inocente culpa.
latim "Somente para argumentar. "
Não suporto injustiças.
Ao tentar enviar um e-mail ao Prof. Vital Moreira, sobre o seu post: Oxímoro - Causa Nossa, deparei-me com um pequeno problema técnico, o seu e-mail só me permite escrever 300 palavras, parca coisa para as perguntas que quero ver respondidas, portanto para tornear esses efeitos, enviei um e-mail para o Prof., que espero que o leia e humildemente pedi ao JPP que me servisse de padrinho.
O e-mail que enviei:
Exmo. Sr. Prof.
Julgo que o seu "post", esse sim está ferido de uma certa "inconstitucionalidade". Como o seu mail só me permite 300 palavras, vou responder num "post" em... (passo a publicidade). Peço desculpa ao JPP mas julgo que será o único que poderá dirimir esta contenda.
As respostas que eu preciso:
Julgo que é o mesmo que me dizer que a partir do momento que me demitem eu tenho que me manter ao leme, mesmo não concordando com o comandante?
O homem manda-me afundar com o navio e o comandante ainda é ele Bonito.
Na nossa Constituição? Pelo menos, que eu saiba, ainda não conseguiram riscar aquela parte das liberdades individuais, ou já?
Aquilo Exmo. Sr. Prof. quer dizer é que: devido à trapalhada "constitucional" que o PR arranjou e a atitude do SL fosse a de se demitir, o PR tinha que a aceitar e nomear outro PM?
Claro que aqui o PR estava comprometido e o seu lugar também, ou então tinha que fazer como num consulado romano e transformar a presidência numa tirania (Isto ainda é inconstitucional, não é?)
Eu não gosto do SL, gabo-lhe a estoicidade apenas de se manter no lugar.
Eu não o faria independentemente da "inconstitucionalidade" da coisa.
Claro que o PR, podia sempre decretar que o SL ficasse preso à cadeira de PM? Podia? Pode?
O melhor ainda está para vir, imagine o Sr. Prof. que ao contrário daquilo que já pensam os seus pares, e as favas ainda não estão contadas, ganha outra vez o SL (com coligação, claro, só para tornar o caso mais difícil) e faço a pergunta que o meu amigo Binoc e muitos portugueses gostariam de ver respondida: e se o SL, nomear exactamente o mesmo governo, o que fará o PR? "Dissolve-se"?
Grato pela sua paciência,
Aguardado ansiosamente pelas suas respostas,
McClaymore.
latim Fiz o que pude, façam melhor os que puderem.
Quando o Eng. Guterres ganhou as eleições, as expectativas geradas no povo português foram enormes.
Em primeiro lugar pelo estilo de governação do seu antecessor, o Prof. Cavaco Silva, ter tomado as medidas impopulares que tomou, efectivamente governou com um sentido demasiado pragmático e sobretudo bastante economicista, o que levou a que o seu mandato e os seus objectivos não fossem cumpridos.
Critiquei sempre todo e qualquer modelo económico que se baseie num estilo macro económico, porque, ou as pessoas que o estão a aplicar não compreendem a nossa economia ou estão demasiado apegados a um estilo que não se coaduna com a nossa triste realidade.
Ao inverter os campos da economia e da reforma fiscal, que eram letra desde o tempo de Salazar e foram continuamente aplicados nos governos seguintes, o Prof. Cavaco Silva teve o condão de mandar a pedrada no charco, necessária para que todo o nosso sistema se renovasse e entrasse no bom caminho. Efectivamente critiquei os métodos do Prof. Cavaco Silva, não pela justeza da sua aplicação, mas pela forma. Poderia, sem por em causa os seus objectivos, que não os políticos, aplicar o seu modelo, com calma e parcimónia. Não o fez, quis mudar o sistema demasiado rapidamente, mas fê-lo tão rapidamente que os que o apoiavam, sentiram que se se mantivesse, sairiam com as suas imagens políticas chamuscadas.
O Prof. Cavaco Silva teve ainda o condão de começar uma reforma fiscal que de certo modo não interessava a certos sectores. Esse sistema enraizado e bolorento que após a sua saída regrediu e voltou ao início. Por incrível que pareça depois dele nunca mais houve governo que tivesse a coragem de a continuar. Bem pelo contrário, voltamos à estaca zero, voltamos ao modelo ante 25 de Abril. Os ditos socialistas, que depois dele tomaram de assalto o poder, regrediram no tempo e nas reformas. Elas eram mais do que necessárias e infelizmente passados estes anos todos continuamos exactamente no mesmo caminho: os sistemas fiscal e económico são retrógrados e terceiro mundistas, não devemos aqui alienar o papel do Eng. José Sócrates.
Após seis meses de governação do Eng. António Guterres, almocei com um amigo, cujo clube de futebol é o Partido Socialista (sic), e que durante o almoço me inquiriu sobre o meu estado de satisfação:
- Então deve estar contente? Agora o seu inimigo de estimação, o Cavaco, já lá não está. Vai ver agora com o Eng., isto anda para a frente.
Limitei-me a sorrir e a retorquir:
- Sabe perfeitamente que apenas critiquei o Prof. Cavaco Silva, não pelas medidas, mas pela rapidez com que as queria aplicar. Não aceito que medidas de fundo sejam aplicadas sem se satisfazer outras. O princípio dos vasos comunicantes é aplicado em economia também. Ao esvaziarmos um teremos que encher rapidamente os outros na mesma proporção. Mas desde já lhe digo, passaram seis meses, vamos deixar passar outros seis, aí julgo que pelo rumo que isto está a tomar ainda vamos os dois estar aqui a almoçar e a dizer: volta Cavaco, estás perdoado.
Bem esse meu amigo almoçou comigo passados meses, já não sei quantos, pagou ele, por vergonha talvez, e não tocou no tema que tínhamos discutido anteriormente, pela cara dele devia custar-lhe engolir aquela refeição. Eu educadamente não toquei no assunto, já me bastava ter razão.
O que me incomoda aqui na verdade não é propriamente ter ou não ter razão, é saber que com ou sem ela, os governos posteriores aos do Prof. Cavaco Silva, mesmo os do partido dele, e usando muitas vezes o nome dele, o fazem em vão.
Eu sei que muitos dos sectores da sociedade portuguesa, inclusive já vi o Pacheco Pereira a fazê-lo, o querem de volta, mas acham que o homem depois do que passou nos quer a nós? Acho até que o Salazar se ressuscitasse agora, tornava a morrer outra vez de riso claro.
Vamos ficar expectantes com o próximo governo. Se ganhar o Eng. Sócrates (eu já me estou a ver como o alentejano otro engenhero), espero que tenha a coragem de fazer alguma coisa e tenha a lição bem estudada. Quanto ao Santana, não quero sequer imaginar o seu regresso, é um quadro negro que agora não me interessa sequer extrapolar
Eu esperei pacientemente que o Presidente desta República das Bananas, me elucidasse sobre a decisão de dissolver a Assembleia desta República. Fê-lo de uma maneira ligeira e apoiado num pseudo Conselho, (terá sido o da Revolução?) e mantendo uma carga de incerteza sobre o futuro do Governo que, segundo ele ficaria preso a um mero encargo de gestão. Ao apoiar-se nesse dito Conselho, em que os seus apaniguados estavam em maioria só veio infelizmente demonstrar que as cartas estavam marcadas desde o princípio e na base de quem parte e reparte
O imbróglio constitucional que arranjou teria sido mais grave se o 1º Ministro dentro dos direitos que lhe são conferidos se demitisse. Atenção, quem se demitiu foi o governo, não o PM, esse estoicamente aguentou-se. Ao contrário do Prof. Vital Moreira (ilustre constitucionalista da família socialista), que afirmou que o 1º Ministro nunca o poderia fazer, pura demagogia, não lhes convêm, isso sim, ele é possível, é um direito de qualquer um abandonar ou aceitar o cargo que lhe impuseram ou ofereceram, felizmente o 1º Ministro não o fez, nesta altura o Presidente teria que repensar o seu futuro político, ou nomear um 1º Ministro socialista ou um amigo que lhe preenchesse o vazio da cadeira que lhe ficava nos braços, a não ser como tomada de posição extrema, e depois do que aprontou, se auto nomeasse também PM.
Não gostei do que foi afirmado pelo BE, queriam que ele não se demitisse porque?
Porque assim não poderia o 1º Ministro entrar na campanha eleitoral que se aproxima, afinal o homem já não mete medo a ninguém.
Sócrates foi um grande filósofo, este (o português) deixa-nos gregos com as suas tiradas infelizes, se pensa que vai fazer uma campanha ao estilo de um presidente, um partido, um governo, deve primeiro ter o cuidado de não fazer crer aos portugueses que está a ser levado ao colo por uma franja de interesses obscuros, o seu discurso aproxima-se muito de um de má memória: Ein Volk, Ein Reich, Ein Fuher. Conto com a inteligência do povo português. O Eng. Guterres já lá se aguentou com esse sistema e deu no que deu.
Quanto ao Dr. Paulo Portas que se cuide. Fica-lhe mal ir buscar os interesses de uns senhores que sempre fizeram o possível e o impossível para ir sacando uns milhões a este País, onde as empresas lutam com dificuldades e eles fogem aos impostos. Só agora é que viu isso? Na altura em que, com o Partido Socialista e o Dr. Mário Soares (PR da altura), se atirava ao Governo do Prof. Cavaco Silva, defendia os interesses de quem? Os meus não, nem o dos portugueses. Esse nacionalismo nasceu-lhe só com a sua ida para o governo?
Na verdade e como já se vai afirmando devemos desde já começar a pensar o que o futuro nos reserva e os cenários são tentadores:
- O Partido Socialista ganha as próximas eleições, com maioria até. Enquanto o PR se mantiver o mesmo, nada acontece. Imaginem porém que ganha o candidato de outro partido. Se não gostar da cara e do Eng. Sócrates, demite a Assembleia da República e força de novo o povo a escolher outro partido, este cenário, repetir-se-á até o partido que convier ao PR ir para o poder. Foi este o precedente exacto que o PR actual conseguiu. Veremos o que dizem nessa altura os nossos soberbos constitucionalistas. Gosto sempre de os ver às voltas para enquadrarem as suas posições ao que mais lhes convém.
Como já fiz referência anteriormente, não votei, portanto estou completamente à vontade para dizer que nem o PR está lá com o meu voto, nem o actual PM, até por sinal não gosto deles.
Talvez, neste momento difícil deste País, mude de opinião quanto ao voto. Nunca fui apologista de ditaduras socialistas, nem de putchs à velha maneira soviética. Já passamos por isso à muitos anos atrás, o PREC, os SUV, a tentativa de assalto ao poder de uma minoria com fim de impor uma ditadura comunista. O mau exemplo do Presidente leva-me a crer que é esse cenário que está a ser testado.
Espero sinceramente que seja apenas um pequeno equívoco meu.
Vou falar de um tema que nem sempre temos coragem de abordar: o racismo.
Li um post que me deixou bastante apreensivo. Em primeiro lugar porque vi nele algumas das opiniões que neste momento são sussurradas por algumas pessoas descontentes. Os portugueses de um modo geral são pessoas afáveis e com um grau de integração e integradores que deviam servir de exemplo a muitos povos. Nos tempos idos dos saudosos governos do Prof. Cavaco Silva (desculpem-me aqui a minha deambulação, mas ela é importante para a verificação dos factos), vieram a terreno zurzir várias personalidades de esquerda contra o que se chama de racismo português. Foi orquestrada uma campanha, bem apoiada por algumas franjas desse sector, partilhadas várias entrevistas, dados motivos e até do Presidente da República da altura o fez. Fiquei extremamente chocado, não com o facto de me incluírem numa chusma de pseudo racistas, tribais e apoiantes do Ku Klu Klan. Na verdade deram uma imagem de que eu e outros tantos estávamos numa cruzada contra as minorias que se encontram neste País, mas o choque maior foi ver os que deviam dar o exemplo e acima de tudo manter uma certa distância, vir dizer alto e bom som que os portugueses eram racistas. Imaginem que até chegaram ao ponto de convidarem um cantor negro, que por acaso tinha ganho um ou dois discos de platina, dizer na nossa televisão, que efectivamente os portugueses eram um povo racista. O que ele não explicou e nunca nos foi explicado é que tendo em conta a quantidade de pessoas da cor dele, sendo uma minoria em relação à compra dos seus discos, como é que ele ganhou as duas platinas e quem efectivamente os tinha comprado, provavelmente os espanhóis? (desculpam-me aqui o meu racismo certamente).
O que se passa neste momento e julgo que não só sou eu que tenho essa opinião, é que os portugueses se sentem incomodados pelo estado em que o País se afundou: faltam os empregos, a precaridade do posto de trabalho é uma constante e sobretudo o poder real de compra tem diminuído nestes últimos anos.
É fácil culpar ou arranjar culpados, aqueles que representam uma série de ameaças ao nosso conforto do dia a dia, começando obviamente pelos motivos económicos, as ditaduras do século passado, recentes, apostaram fortemente nesses motivos para se apoderarem do poder. Nos somos um exemplo vivo disso.
Vou apenas fazer uma referência a dois episódios que me marcaram, o meu pai que fez uma série de comissões no Ultramar, combateu ferozmente os grupos que queriam a autodeterminação, nunca em circunstancia alguma o vi tratar com menos respeito outra pessoa fosse de cor fosse, bem pelo contrário, um dia apontou-me com o dedo um camarada, um igual a ele que combateu do outro lado e disse-me: A este fui eu que o ajudei a fazer os estudos que tem
Um grande homem, muito inteligente e depois sem rancor acrescentou Pena que estivéssemos em campos opostos
; uma outra vez disse-me Vez além aquele senhor, é meu camarada, lutou nas matas da Guiné comigo, é o militar mais condecorado do exército português, é preto, mas vale mais que muitos brancos juntos.
Na verdade só vemos racismo quando confundimos a cor dos olhos com a cor do sangue, quando arranjamos desculpa para os nossos males influenciados por uma tonalidade de incompreensão. Compreenderão isso quando num dia, nesses tempos quentes de intoxicação, se estivessem no meio de uma rua e só porque não foram rápidos a afastar-se dos passos apressados de um transeunte, ele se virasse e dissesse: Racista, os portugueses são todos iguais
, claro que me apeteceu fazer-lhe a pergunta do que ele fazia na minha cidade e no meu País, contive-me a tempo, não quis retorquir com as armas mais fáceis que tinha na mão, perguntei apenas, olhos nos olhos: Por acaso é português? Sabe o que é o racismo?
.
Ainda hoje aguardo pela resposta. Eu adivinhei qual era: é fácil jogar com a ignorância das pessoas, é para isso que servem os políticos.
Nota do autor: Sou branco, caucasiano, português, sangue vermelho espesso, sangue árabe, negro e judeu, provavelmente correm nas minhas veias, e em alguns reis que nos governaram também, mas sobretudo sou humano como os outros que vagueiam neste planeta. Apenas, como bom português, continuo a não gostar de "nuestros hermanos".
latim "Deve-se dar crédito a quem é perito em sua arte. Ouvir os especialistas na matéria."
Os exemplos vêm de cima, o decano da política portuguesa promoveu mais uma vez a economia. Convidou 1999 amigos para uma jantarada, que botou discurso e tudo a troco de 55 palhaços (leia-se euros). A Associação de Actividades Hoteleiras e Afins agradece. Aquilo parecia uma reunião dos amigos da Ordem da Jarreteira e da Maçonaria. Ele tinha prometido que se retirava da política quando acabasse o seu mandato de Presidente da República. Deu o dito por não dito e lá foi buscar mais uns trocos à União para a sua parca reforma. Agora prometeu que só mandava uns bitaites quando lhe apetecesse. O homem é republicano e ateu, mas não é parvo. A entrada ao som do hino dos congressos socialistas, não pronuncia nada de bom. O discurso do Basta, está gasto, serviu apenas para mais uma vez mandar recados, deveria trocar o a pelo e e teríamos Besta, alguns dos presentes enfiariam o garruço. Os elogios foram muitos, veja lá se não o convidam outra vez para se recandidatar. Dois dos convidados não apareceram, o General Ramalho Eanes e o Prof. Cavaco Silva, pelo menos salva-se a honra do convento, alguém que mantêm a sua postura ao longo dos tempos é coisa rara nos tempos que correm.
Já agora aproveito para fazer um elogio ao camarada com nome de guerra índio, um pouco nervoso, directo, mesmo não gostando da sua linha política, gostei do seu discurso terra a terra, mudou a camisa aberta, pelo fato e pela gravata, fica-lhe bem.
Aguardo pacientemente pelas explicações do Presidente da República. Já tinha previsto esta crise num anterior post de 10 de Julho deste ano, tem o título de: Carta aberta ao Exmo. Sr. Presidente da República, nessa altura tomou a decisão de nos impingir um governo, após consultar o dito Conselho de Estado, agora tomou a sua célere decisão sem o consultar. Em que é que ficamos? Para quê a audição dos Conselheiros, para se justificar ao País? E nós para é que servimos? O tom paternalista do Salazar e do Caetano continuam a fazer escola neste cantinho. Até quando?
Sabendo de antemão que os meus amigos gostam da política, de preferência da politicamente incorrecta e na minha saga marcelista de divulgar o pessoal que nos vai dando umas alegrias com aquilo que escrevem neste universo, aconselho vivamente que visitem um novo blog que foi criado por um bom amigo, gabo-lhe a paciência, mas isto de dar pérolas a porcos e alimentar burros a pão-de-ló, tem que se lhe diga.
PS: O mais importante o link para
O arrumar da roupa, despreocupado, para apanhar a boleia do meu avó, o viajar por atalhos, entre os muros e silvedos, em caminhos há muito percorridos por viajantes desconhecidos.
O parar lesto e despreocupado, para apanhar umas amoras silvestres, fugidias e defendidas, que retintavam as mãos de cor e açúcar.
O rilhar dos grilos, que se calavam tolhidos, o saltar dos gafanhotos que fugiam de uma qualquer sardanisca mais espevitada.
O olhar sobre os lameiros verdes, os regos cheios de água pura, onde alguns girinos se escondiam céleres à passagem da nossa sombra.
O sol da matina estival, que já ia longo e gasto.
O repicar de algum sino de uma aldeia ao longe, entremeado pelo som do vento quente, a esbracejar nos castanheiros velhos e cansados, cheios de pontos reluzentes e defendidos, que espreitavam latejantes o anunciar de mais um Verão efémero de S. Martinho.
O bater do pica-pau nos troncos dos pinheiros e dos carvalhos rasos de bolotas.
A erva verde que crescia, salpicada aqui e ali com o amarelo e roxo das flores. As abelhas, rápidas, sem cerimónia, sem tempo para se cumprimentarem, a pular de estigma em estigma, por entre dedaleiras e malmequeres selvagens.
O entrar no portão, velho, repintado de verde-garrafa, sempre entreaberto, percorrer os bardos, as estacas e conhecer de cor cada casta e cada cepa.
A sombra fresca das ramadas que se revezavam, os morangos, já selvagens que pintavam de encarnado, maduros e roídos pelos pássaros.
O sorriso da criada ao por em frente de cada um a malga com a sopa, onde o garfo dificilmente entrava e saia cheio de sabores quentes da terra.
A sacada em pedra, recoberta de madeiras antigas, secas e acolhedoras, sustentada pelos pilares do granito frio.
O espraiar ao longo do verde dos vinhedos, o rio lesto, calmo e profundo que corria nas gargantas, lá bem longe, em curvas e contracurvas sensuais.
O redondo das encostas, tolhidas pelos socalcos, as casas brancas, senhoriais que entrecortavam a paisagem, onde o fumo dos velhos fogões, anunciavam os afazeres de mais uma vindima.
As mulheres a cantar ao desafio, a rir de piadas brejeiras, o tomar de um gole só, um pouco de vinho retinto que pingava pelos cantos da boca, o passar a mão pelos lábios para retirar o ultimo pingo, teimoso, que caía na frente da camisa, quente e suada, do homem ajoujado pelo peso do cesto de verga, cheio do brilhante de cada cacho.
O bater do aço contra aço, da tesoura, que cortava impiedosamente, entre o restolhar de cada parra.
O lagar onde tudo começava e tudo acabava.
O olhar de aprovação quando se levava um bago à boca, doce e enjoativo, prenuncio de uma boa colheita.
O jantar iluminado pela lareira e pelo petromax, por onde se desfaziam as traças bamboleantes e encandeadas.
O entrar no lagar, já noitinha, o espremer, entre a pedra de cada bago, as cócegas por entre os dedos dos pés, que se prolongavam nas pernas, pintadas pelo mosto, cansadas e tolhidas, apenas comandadas pelo cantar dos homens entrelaçados, calças pretas arregaçadas em dobras mal feitas e pouco vincadas, mãos nos ombros do companheiro do lado, para suportar o compasso ritmado do feitor, avançando e esmagando, como se de um exercito se tratasse.
O acabar o dia entre lençóis de linho, branco e alvo, o quente dos cobertores de papa, antigos e amarelados.
O acordar com o raio de sol que batia no soalho velho, corrido, mal encerado. Abrir as portadas de carvalho e sentir o calor do dia.
O correr para a cozinha negra pelo fumo, o sentir as vozes de quem acordou à muito, o agarrar a tigela cheia de leite quente, acabado de tirar, cortar uma fatia de pão de milho fresco e barrar sôfrego a manteiga que derretia.
Os sons da casa, que imprimiam em ebulição, um novo dia, entrecortados pelo chiar das giestas que reacendiam a lareira, crepitantes, uivantes, a contorcerem-se, por entre as labaredas que esbarravam contra a parede enegrecida.
O retomar dos mesmos passos, o calor do trabalho, entre cada gesto que já se conhece de cor.
O voltar, o saber que para o próximo ano, o ritual se perpetuaria
Deixei correr a tinta nos jornais, os rasgos de absoluta lucidez que tentaram explicar de todo a atitude do nosso Presidente. Eu não gostei deste 4 meses de desgoverno, mas dificilmente apoio a decisão dele.
As razões apontadas prendem-se com:
- Os problemas na colocação dos professores.
- A entrevista do Prof. Cavaco Silva.
- Os sinais dos empresários portugueses.
- A indigitação de um madeirense para o Governo da República (este Jardim mata-me).
- O episódio Prof. Marcelo.
- A carta de demissão do amante do tiro aos pombos.
- A demissão do amante do tiro aos pombos.
Acontece que dentro deste enquadramento, ainda não vi razão nenhuma a suportar a decisão do nosso Presidente. No tempo do Eng. Guterres demitiu-se um ministro em escândalo e ainda não tinham passado meia dúzia de meses de Governo, houve outro que nem chegou a tomar posse. A lavagem de roupa suja com o Eng. João Cravinho e a Dra. Manuela Arcanjo foi quanta se quis, o Presidente à data era o mesmo. Nenhum destes Governos era suportado por uma maioria. Não vi sinais de Belém a acenarem com uma qualquer dissolução.
Esse Presidente ainda pensa sozinho e a decisão de ordenar a dissolução da Assembleia da República, com uma maioria Parlamentar em exercício, não consta dos manuais de qualquer democracia, e foi só dele, pelo que o compasso de espera a que ele nos quer fazer crer só será completado com a reunião do Conselho de Estado, não pega. De duas, uma, fê-lo com plena consciência ou fê-lo por motivos menos claros. Nesse caso em concreto, se tal se vier a revelar, não fico com apreço pela atitude do Presidente, pelo contrário cola-o a uma imagem de vulgar politiquice a que deveria estar completamente alheio.
Bastava que o Presidente dissesse aos portugueses que não achou nenhuma piada ao tratamento que quiseram dar à demissão do Ministro Chaves, à sua substituição apressada, e a um Primeiro Ministro que não cancela uma viagem à Turquia num momento grave e de completo desnorteio do País, sendo essa atitude de uma irresponsabilidade tal, que demonstrava apenas uma vontade de cumprir calendário, não de cumprir um mandato.
Esta era a única razão válida que eu esperaria que ele me apresentasse para esta extemporânea dissolução, se outra for, espero bem que não, deixei de o ver como garante da nossa democracia, mas apenas como um dos filiados políticos de um vulgar partido.
Aconselho nesse caso e se tiver alguma réstia de dignidade, a de tomar a difícil decisão de se demitir.
O que me preocupa aqui não é tanto mais a posição pouco responsável do Primeiro Ministro, mas a pouca consistência da sua demissão. Para além disso por incrível que parece é um Presidente que demite, mas que exige ao mesmo tempo que esse mesmo governo demitido, leve a aprovação um Orçamento para outro qualquer governo, a desculpa que estão ainda em exercício é falsa. Não está aqui em causa se é um bom ou mau Orçamento. Não está em causa se vai ser o mesmo ou os mesmos partidos a governarem o País futuramente, o que está em causa é o de exigir o Presidente da República uma responsabilidade sobre um acto que está nitidamente ferido de incapacidade de ser posto em prática.
Aqui quem é o irresponsável. Julgo que ninguém. Somos todos nós que ano após ano elegemos uma data de tipos que põem em prática exercícios de governação completamente de terceiro mundo e baseados na premissa efectiva que nunca nos revoltaremos.
Pela lei fundamental portuguesa, só os partidos legalmente constituídos podem concorrer aos lugares da Assembleia da República. Como cidadão nas plenas faculdades e direitos constitucionais tenho uma de várias opções que passo a exercitar:
- Voto no partido que mais se identifica com a minha cor política. (Azar, a cor do meu clube é verde, sou lagarto, mas não pago quotas pelo que esta opção é obviamente um exercício de masoquismo. Deveria segundo a cor, votar nos ditos verdes, mas ideologicamente falando, eles não são verdes, são melancias, verdes por fora e vermelhos por dentro, não sou adepto dos lampiões portanto não voto neles).
- Voto no partido que melhor me informa sobre as suas ideias e programa de governo. (Isto ainda se torna mais difícil porque nunca vi nenhum a fazer isso).
- Voto em branco (Mais masoquismo: segundo a lei eleitoral os votos em brancos ou nulos contam para apuramento dos nossos devotos representantes, até ganham dinheiro para o partido com isso).
- Voto nulo (escrevo umas baboseiras no boletim de voto, voto em todos, voto na minha avó, voto no Salazar, basicamente efeitos iguais ao do voto em branco).
- Não voto, ao contrário do que nos venderam é legítimo, representa uma opinião de um eleitor que não quer ninguém a representá-lo, não por falta de opinião mas porque quer expressar uma opinião contrária àquela cáfila interesseira que se quer eleger e mesmo que eles se digam meu representantes, eu não os considero como tal. Não têm perfil, honestidade e capacidade para o fazer.
Podem os amigos que me lêem, pensar que eu aqui entro em contradição, bem pelo contrário, pergunto a cada um de vocês se conhecem o deputado que os representa no Parlamento, façam por favor o vosso acto de contrição, digam-me o nome dele e o que é que ele já fez por vocês, excepto o de levar um ordenado para casa. Já pensei como vocês. Acredito na democracia quando ela me dá o direito de escolher entre o mais e o menos bom, não entre o mau e o menos mau, deixei de acreditar quando ela se constituiu numa feira de valores que nada me dizem e que servem apenas para eternizar o clientelismo, a corrupção, a inépcia e acima de tudo a continuação de uma cambada de incapazes que adoptaram a política para subir na vida e que efectivamente a todo o custo se querem perpetuar no poder. O voto nas urnas seja em que circunstancias for apenas serve para credibilizar aqueles que se dizem representantes de alguém. Isto não é democracia, isto chama-se ditadura: Salazar arranjou um esquema igual, quem não votasse não podia ocupar cargos públicos, pelos vistos ninguem inventou nada.
Poderia ainda ter mais uma data de opções: fundar um partido, ir para a estrada e conseguir uma nova maioria. Acontece que me poderia tornar como os actuais governantes ou então chegar à mesma conclusão que eles: Cada povo tem os políticos que merece, eles merecem-nos agora têm que nos aturar.
Eu pensei seriamente em convidar todos os bloguistas, mesmo aqueles que estão na política em constituir um governo sombra, ou então como alternativa final a imigrar e deixar apenas neste País os políticos e as suas bacocas ideias. A outra alternativa que me agradava um pouco mais era pegar nessas excelentes pessoas enfia-las num barco a remos e obriga-los a imigrar. Têm o meu voto seguramente
Os políticos deste País têm a ideia errada que o povo português deve ser tratado com benevolência, paternidade e inconsistência cerebral.
Como português tenho que expressar a minha mais profunda indignação, já nos calhou um Almirante a falar do canário, outro a falar-nos de conversas em família, para termos um nos tempos que correm a falar da família.
Desculpem-me as mães que produziram tais abortos, eu sei que os filhos não devem pagar pelos erros dos pais, mas será que os pais têm que pagar pelos erros dos filhos?
Será que eu, que nem votei e que não tenho ninguém que me represente nessa casa de vastas e inócuas ideias, chamada de Assembleia da República, tenha que aturar uns gajos com sede de poder e de poleiro? E ainda ter que lhes pagar pelo mau serviço que me prestam?
Puta que os pariu (o Fernando Rocha que me perdoe pelo plágio), e uma vez mais, desculpas aos ventres que geraram estas execráveis criaturas.
A parte do é pró bujão não, muito obrigado, estou farto, já está na hora de ir o deles ao castigo, "mais nada".
Peço imensa desculpa mas não resisto, o que vi ontem na RTP levou-me às lágrimas. Especialmente quando a Judite de Sousa, perguntou ao 1º Ministro se lia jornais:
-Claro que leio.
-Então não diz como o Prof. Cavaco Silva que não lia, já agora quanto tempo?
-15 minutos.
- Mas isso é muito pouco
-Já estou habituado.
O Teatro Fechado tem a honra de levar à cena: O Auto do Milagre dos Cravos
Todos os personagens pertencem ou pertenceram a uma história de ficção, qualquer coincidência com a realidade, é mesmo e só uma mera coincidência. Aconselhamos ainda que as cenas pouco dignas não sejam vistas por menores.
Cenário:
Os actores encontram-se em pleno deserto com um fundo de um castelo medieval, encimado por aves negras e relâmpagos trovejantes. O séquito da rainha, pouco e mal ataviado, segue-a por entre os cactos e as silvas que se interpõem no caminho. Encontra-se em romaria, para inaugurar mais uma obra de caridade. Ao seu encontro, sem ela saber, vai o seu marido e o seu filho.
Este acto desenrola-se numa época muito conturbada em que os animais falavam e os cargos e honrarias eram herdados por nobre sucessão.
Personagens:
- D. Marocas, rei de um povo à beira mar plantado, gordo, anafado e bochechudo, retirado das lides, o seu maior empenhamento é o de dar entrevistas para a televisão. Quer ainda que o filho lhe suceda na condução dos assuntos do reino.
Vestes de safo, olhos brilhantes marotos, cabelos brancos de profundas arrelias. Viajante de mares nunca dantes navegados. Constantemente ateu, poliglota e republicano q.b. Frase célebre: O meu reino por um avião
- D. Maria, santa de serviço, génio transviado do teatro para os palcos da vida, mãe extremosa, casada com D. Marosca. Tendência para se alapar a lugares que lhe foram confiados. Mau génio quando contrariada. Demonstra uma admiração sobrenatural pelo marido, mas não concorda com as suas herejes tendências. Frase célebre: Mais vale presidente toda a vida do que ex-presidente de cousa nenhuma.
- D. Marocas, Jr., príncipe encantado desta nossa narração, viajante inconfesso de lugares exóticos. Edil de uma cidade de mil cores, dificuldades em arrastar o nome da família que o precede. Tendência em ter desastres em locais ermos e pouco comuns. Retrato fiel do pai, apenas na figura e nos modos. Militante de causas perdidas. Não tem frases célebres.
Capítulo I
Cena I e única.
Narrador (de braços abertos e ar dramático): D. Maria acicatava o condutor do seu coche, último modelo, para que se apressasse, aquela estrada desértica era um mau prenúncio de maus encontros e más recordações.
D. Maria (aos gritos): - Obrigue-me esse burro a andar mais depressa.
Fiel Cocheiro (a cofiar o bigode): - Mas Senhora, tive a liberdade de lhe comprar algo
D. Maria (continua aos gritos): - Meta o algo no cú e a cenoura no burro para ver se nos despachamos, ainda quero ir ao cabeleireiro hoje.
O Burro: (ar assustado): - A cenoura aonde?
Fiel Cocheiro (ar preocupado): - Cala-te, não, não era para si Senhora. Mas e os seus seguidores? Não vão aguentar.
D. Maria (ar de desprezo): - Claro que vão, ande mas é lá mais depressa
O Burro (ar cansado): -Eu é que não aguento
O fiel condutor, qual fiel palafreneiro, chicoteia o burro que de repente desata a correr desalmadamente. Mas eis senão quando, numa curva do caminho, lhes aparecem pela frente dois vultos, fantasmagóricos, envoltos em negras e deslavadas vestes.
O burro estaca, insólito e fremente, o condutor ainda a tremer, houve num repelão D. Maria a reclamar de dentro do coche último modelo.
D. Maria (mais uma vez aos gritos): - Meu grande filho de uma criada, que maneiras são essas de se conduzir, parti umas costelas, e agora? Sabes bem que não tenho assistência hospitalar, vetaram-me as quotas na Cruz Vermelha, meu cocheiro de segunda
Fiel Cocheiro (ar muito preocupado): -Mas Senhora, tibetuou o fiel condutor dois vultos se atravessam no nosso caminho e o burro com o susto parou
O Burro (a verter águas pelo meio das pernas): -Mijei-me .com o susto, esses dois gajos são mesmo feios.
D. Maria salta do coche, levanta as saias, e altaneira dirige-se para os dois vultos.
D. Maria (ar furibundo, aos gritos): - Desimpedi-me o caminho maltrapilhos, tenho que me despachar.
O primeiro vulto faz uma vénia e numa voz sibilante, qual mordaz bobo da corte, pergunta.
D. Marocas (incógnito de todo): - Já não reconheceis a família, Senhora minha?
D. Maria (ar cínico): - Mas não estavas em Bruxelas a comer Belgas (leiam-se bolachas e não liguem ao trocadilho), ou nas Ilhas Caimão a andar de tartaruga? Divino esposo.
D. Marocas (sem incógnito): - Esta mulher está a gozar comigo?
Dirigiu-se D. Marocas para o segundo vulto.
D. Marocas, Jr. (ainda incógnito): - Pai, - disse o segundo vulto pergunta-lhe o que ela leva no real regaço?
D. Marocas (menos incógnito): - D. Maria o que levais no vosso real regaço?
D. Maria (ar de sonsa nº1): - No quê?
Retorquiu D. Maria fazendo-se de sonsa.
D. Marocas, Jr. (pouco incógnito): - Pai, ela está mesmo a gozar contigo
D. Marocas (a espumar de raiva): - Brincais comigo?
D. Maria (ar de lerda): - Não excelso esposo, sou um bocadinho lerda no meu português, desculpai-me. Por momentos pensei que falasses em outra cousa.
E num repente, teatralmente, D. Maria abre o seu regaço, caindo deste uma data de G3, uma quantidade enorme de granadas de mão, umas quantas bazucas, e mais armas do que qualquer humano possa imaginar.
Boquiaberto o Rei, D. Marocas, ajoelhou-se, obrigou o segundo vulto a fazer o mesmo e exclamou.
D. Marocas (branco como a cal): - Mas Senhora, são armas, estais a pensar nalguma revolução? E essas granadas têm cavilha, espero?
D. Maria (ar de sonsa nº2) - Claro D. Marocas tenho-vos ouvido com atenção e ando a tratar de tudo Cavilha é alguma coisa que se coma?
D. Marocas (sobrancelhas arqueadas) - Minha fiel esposa, desculpai-me, mas por momentos pensei que leváveis cravos.
Entretanto esbaforidos e de língua de fora, foram-se aproximando os seguidores de D. Maria que ao inteirarem-se da situação, gritaram em coro.
A Turba e o Burro: (língua de fora e a arfar, o burro de joelhos) - É uma santa
O Rei bem que ficou desconfiado, mas como era ateu, retirou-se prudentemente para a sua Fundação, depois de ter feito umas tantas considerações sobre revoluções e cravos para as estações de TV que entretanto tinham aparecido como por milagre
Fim.
O pano baixa, o único espectador ainda presente, chora comovido desalmadamente.
No final viemos a saber que era surdo, mudo, cego e paralítico, que tinha apenas entrado no teatro porque andava à procura de uma casa de banho e que tinha encravado o pirilau no fecho eclair, também não tinha conseguido fugir porque lhe haviam subtraído as muletas.
Nota do Produtor: Não devolvemos o dinheiro dos bilhetes caso tenha desistido a meio do espectáculo.
Corria o ano do Senhor de XXXX, , quando uma cegonha descuidada, se lembrou de aterrar, numa linha de alta tensão, provocando mui estragos, entre eles uma falta de ACDC, durante várias horas. Ao princípio julgou-se que se tratava de um acto de sabotagem para tomar o poder. Os governantes, cuidadosos e bem avisados, retiram-se para os seus bunkers, não fosse verdade que havia uma revolta militar. Felizmente encontraram as cinzas da cegonha, a autópsia revelou que havia morrido electrocutada. Não foram revelados quaisquer outros resultados e a Quercus, nunca se manifestou sobre o perigo para as aves do Baixo e Alto Alentejo dos postes de alta tensão mal sinalizados, também nunca mostraram o corpo de delito, as imagens deviam ser demasiado chocantes para passar no telejornal da noite, cegonhas a deixar cidades inteiras sem luz, à aí ao pontapé, se fosse um elefante com asas, já era notícia. Felizmente, como dizia um senhor um destes dias na TV, estamos na CEE, senão já tinha havido mesmo uma revolução. Porra, matamos uma cegonha, para justificar um apagão. Não se faz, é uma espécie protegida. Vamos ter que pagar uma multa a essa de CEE, mas os meios justificam os fins. Na verdade, matar uma cegonha é bem mais lícito do que encontrar nestes momentos desculpas para o mau estar que vai neste cantinho. Pena é que esse senhor que tão impadamente fala de revoluções, seja da mesma cor daqueles que nos governaram durante uns anos e deixaram a herança que sabemos.
O mau estar que ele fala e a falta de confiança nos governos, foram provocadas pela sua governação à frente dos destinos do País. A sua actuação nas Presidências Abertas, levaram a que o governo de então, se demitisse e abandonasse a sua linha. Eu acho imensa piada, ver uma pessoa que sabe como actuou, vir agora hipocritamente falar de revoluções. O seu cinismo só é ultrapassado pelo do senhor que está no governo nesta altura, e que nesses tempos imemoriais, zurzia no governo de então, através do jornal que dirigia. Agora faz birras, mas ainda terá de engolir um sapo maior, pois aquele que ajudou a derrubar, virá a ser apoiado por ele e pelos seus seguidores para o cargo de PR.
As voltas que a vida dá, isto sim, é que é uma verdadeira revolução.
Aconselhamos serenamente que continuem à espera de novas, e para melhor compreenderem esta novela aconselhamos como trabalho de casa:
- Lerem atentamente o jornal Independente dos anos de 1987 a 1994.
- Verem com atenção as imagens de arquivo da RTP, sobre as Presidências Abertas, do Exmo. PR da altura.
- Lerem ainda o livrinho vermelho de Mao, o Mein Kampf do tio Adolf, as ultimas publicações no exílio de Marcelo Caetano onde referencia os políticos que agora nos governam, o Príncipe de Maquiavel e ainda o Trópico de Câncer do Henry Miller.
Este último como é óbvio é apenas para depois de tão indigesta leitura, colocar alguma leveza na nossa cabeça, em alternativa aconselho pudicamente que leiam o próximo orçamento de estado ou a pergunta que nos vão fazer no próximo referendo.
Claro que isto tudo se passou e passa num País que não existe, com um governo de faz de conta e com um povo que só vê e acredita em telenovelas.
Aproveito para mais uma vez me penitenciar e do meu desmazelo crónico relativamente ao universo que nos rodeia. Continuando o meu trabalho (baseado no do saudoso Professor), quero deixar aqui o meu sincero agradecimento a uns quantos bloguistas que tiveram a ousadia de me espreitar enquanto eu andava em crise: o Contra indicado para Diabéticos, de uma miúda gira que perdeu a cabeça e se casou, enfim que faça feliz o caramelo que escolheu (vamos lá a tratar bem o piqueno senão dou-lhe a morada de um bloguista nessa situação para ele aprender alguma coisa), depois temos ainda O ser Intemporal (anda um bocadinho baralhada com o HTML, já passei pelo mesmo e só apetece acabar com tudo, força miúda, isso passa), o Azul do Mar, o My World, a Indolentia e por fim a Panpanisca.
Tenho que começar a fazer estes exercícios de agradecimento com mais frequência, bloguemos, pessoal, bloguemos
Esperei ansiosamente o desfecho da telenovela do nosso amigo Prof. Marcelo, o inevitável aconteceu e o absurdo também, continuo sem perceber muito bem a razão de todo este folhetim. Acontece que como bloguista sei ler nas entrelinhas e tenho boas razões para ficar preocupado, o José Magalhães num suplemento de um diário fazia referência às fontes anónimas que os nossos isentos jornalistas usam como manancial íntegro das suas notícias: os nossos blogs. Surpreendente até para um defensor da privacidade como eu, que essas fontes apareçam como anónimas
A outra, também surpreendente, parece tirada de um qualquer boateiro de mau gosto mas a distinta Ana Gomes ofereceu numa das páginas do referido jornal, o seu modesto blog para que o Prof. Marcelo pudesse continuara zurzir no governo
Vou guardar religiosamente esta edição, em primeiro lugar para me lembrar sempre do trabalho de pesquisa árduo, laborioso e bem fundamentado dos jornalistas que nos entopem com as suas notícias. O segundo como bom exemplo de marketing indirecto: a Ana Gomes tem blog (espero nunca lá ir parar por engano) e o Prof. Marcelo não. Viva a publicidade
latim "Mudando-se o que se deve mudar."
Eu ainda não compreendi uma coisa que me está a deixar completamente confuso. Em primeiro lugar porque como todo o português que se preze, admirava e continuo a admirar a veia comentadora do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Como tal não gostei da maneira como ele foi tratado. Mas aqui ficam uma série de perguntas sem resposta: o Prof. Marcelo era comentador ou jornalista?
Se era comentador, e como tal era pago para isso e estava integrado nos quadros de uma empresa é obvio que a latitude a que estava habituado um dia ia ficar com uma malha mais apertada. Quando uma pessoa tem uma relação de trabalho com uma empresa, independentemente do tipo de relação, ela não lhe permite de modo algum entrar em confronto com a política de gestão da mesma, pelo que só tem um caminho ou aceita que os seus parâmetros sejam restringidos ou não os aceita e pede a demissão. Foi sempre o que fiz na minha vida, quando não concordava com aquilo que me queriam impor, apresentava a minha demissão, logo que achasse que o conceito dessa restrição ia contra aquilo que eu achava correcto. Por isso acho que a demissão do Prof. Foi um acto puramente administrativo: ele não concordou com as baias que lhe impuseram e demitiu-se. Não vi e não continuo a ver qual a falta de liberdade de imprensa que justifique o alarido feito pelos políticos, pela classe jornalística, nem pela que intervenção da Alta Autoridade para a Comunicação Social. O Prof. Marcelo não dava notícias, era comentador, portanto não tinha que ter isenção e como tal ela só lhe foi negada por interesses da empresa que lhe pagava o trabalho.
As intervenções do Governo não são desculpáveis, de modo algum, ainda não aprenderam a não dar tiros nos pés, estão verdes. Também coitadinhos são poucos os que não pertenceram ao elenco de um filme do Walt Disney: Branca de Neve e os sete anões, O Rato Mickey e os seus amigos, O Dumbo, escolham vocês pelo menos vão rir um bocadinho.
O Sindicato dos Jornalistas e alguns jornalistas, tão rápidos a criticar este caso e outros mesmo a nível internacional, esqueceu-se de criticar o que alguns jornais nos E.U.A. transmitiram esta semana, o apoio incondicional a Kerry. Ainda bem que esses mesmos jornais não apoiaram Bush, teríamos durante semanas manchetes de jornalistas isentos a criticar a falta de isenção da imprensa dos E.U.A.
Este tipo comezinho de contradições demonstra bem o empolamento, a falta de honestidade que grassa numa classe que deveria ser isenta, mas que faz como os árbitros do nosso futebol, ou não vê porque está a olhar para o ar, ou finge que não vê.
Fico triste que o Prof. nos deixe de brindar com as suas brilhantes alocuções, mas deixem estar se ele se candidatar a Belém ainda vamos pedir de joelhos à TVI para o receber de volta.
Na verdade eu não deveria estar a falar sobre este assunto mas um que infelizmente é bem mais grave e foi nitidamente abafado pelo caso anterior.
Lembram-se do Zé Manel, aquele tipo que emigrou para Bruxelas para ser Presidente duma comissão qualquer?
Tenho a impressão que lhe vão dar o bilhete de regresso e os cenários que se avizinham não são nada prometedores. Se ele perder o lugarzinho ainda vem outra vez para 1º Ministro. Temos que rapidamente arranjar uma lei que nos permita devolver produtos e Primeiros-Ministros com prazo de validade ultrapassado.
E meus amigos, este filme é muito sério, de autêntico terror e não tem mesmo nenhuma piada
A Lique tem toda a razão em dizer que não quer nenhum país a servir de polícia do mundo, ainda por cima governado por um imbecil. Concordo perfeitamente com ela.
Ontem o meu filho perguntou-me se o Kerry ganhar o que é que muda. Comecei por lhe fazer uma análise mais consistente do problema global que é a política do governo americano. Expliquei-lhe que o que ainda me confunde e que ninguém ainda compreendeu, salvo raras excepções, Portugal é o único País nesse mundo fora que muda a sua postura internacional todas as vezes que temos novo governo. As linhas condutoras dos nossos políticos dependem sempre do estado em que se encontram: oposição ou poder.
São incapazes de concluir algum projecto em termos nacionais, quanto mais a nível internacional. A arrogância de quem está no governo é apenas comparada a bestas de carga em que apenas se lhes permite ver em frente, manobradas por umas rédeas soltas e que lhes deixa olhar de vez em quando para o próprio umbigo. Aqueles que tentam mudar um pouco as coisas, normalmente, e infelizmente, desistem pelo cansaço de tentar que a manada os siga.
Quanto aos Estados Unidos o caso muda de figura. Aqui contam os interesses do país e não os interesses individuais de quem está no poder, nem as suas linhas políticas, os democratas e os republicanos poderão não ter as mesmas ideias de como se conduz o País internamente, mas continuarão na mesma linha de controlar o poder a nível mundial.
Mesmo que alguma coisa venha a mudar podemos colocar uma série de cenários: o Bush ganha, tudo vai continuar na mesma, os países da OPEP vão continuar a puxar os preços do petróleo para cima, de forma a que, quando o Iraque começar a vender a sua produção eles já tenham conseguido aumentá-lo o suficiente para que não baixe mais. É essencial que todo o dinheiro que conseguirem agora, continue a jorrar e a alimentar o fausto de alguns, o poder militar de outros, no fundo e seguindo o exemplo dos políticos portugueses: o povo que se lixe, logo que os nossos rendimentos continuem iguais.
Cenário dois, o Kerry ganha, há um aumento significativo de vendas de maionese e de ketchup. A Microsoft e a Coca-Cola, vão à falência porque os países árabes e Portugal, deixaram de comprar os seu produtos. Os soldados americanos, depois das eleições, abandonam o Iraque à sua sorte. O Irão e os radicais do islamismo tomam conta do país, Israel fica cada vez mais isolado, a OPEP continua a aumentar os preços. O Santana Lopes na sua ânsia de fazer buracos encontra petróleo e os nossos problemas ficam resolvidos. O PS ganha as eleições e manda retirar a GNR do Iraque, para nos defender da próxima invasão por parte dos americanos, aliados aos espanhóis que querem tomar de assalto as nossas reservas petrolíferas.
Portugal e os portugueses, eu incluído devemos ter em conta o seguinte, não representamos qualquer contra poder a nível internacional. Mesmo em bicos de pés a nossa opinião não conta. Infelizmente temos que viver com esse estigma e na certeza que ganhe quem ganhar nos E.U.A. continuamos pequeninos e sem qualquer influência na condução do xadrez mundial. Admiro alguns dos nossos políticos que esbracejam contra o Bush e contra a sua política mas são incapazes de lidar com os problemas nacionais. Eu tenho uma pergunta que gostaria de deixar e que ainda ninguém me conseguiu responder: O Mayor de Nova Iorque tem mais habitantes, mais departamentos, mais polícias, mais bombeiros, mais soldados, etc., para gerir do que o primeiro-ministro de Portugal. Ele consegue fazê-lo. Não está na hora de nós lhe pedirmos para ele se candidatar por cá?
latim</span></i> "O homem é lobo para o homem."
Li, como leio sempre, com muita atenção as linhas que o Miguel Portas escreve no DN. Não é preciso fazer elogios à sua escrita, está na massa do sangue, é de família. Mesmo não tendo grande consideração pela classe política deste País, levo em consideração as ideias que ele imprime.
Noutro artigo, menos recente passou também pelos meus olhos um artigo que se referia a um homem do Vaticano, onde ele dizia que já havia começado a 4ª guerra mundial. Eu tenho por hábito guardar as minhas opiniões e não expô-las a terceiros. Mas acho que depois de ouvir este dois senhores, tenho o direito de me manifestar.
O que o Miguel Portas diz está correctíssimo em alguns casos, concordo literalmente com ele quando se refere ao tipo de guerra que existe no Iraque, brutal, sem apoio do povo que supostamente está a ser libertado e em defesa de interesses económicos obscuros.
Discordo em algumas, que passo a explicar:
Essa guerra só existe porque a clivagem entre o mundo árabe e o ocidental foi sendo acicatado ao longo destes últimos dois séculos. Foi também por motivos que aparentemente se concentram no aspecto religioso, mas são bem mais profundos. A Bíblia e o Corão estão ligados por laços mais fortes que escapam a um simples leigo ou a fundamentalista radical. Mas são utilizados como armas, Napoleão classificava a Bíblia e o Corão como livros políticos e com toda a razão. Infelizmente não aprendemos com ele, não tiramos suficientes lições na história para saber até que ponto, a fissão religiosa iria transformar este mundo num caos. A manipulação de ideais sempre funcionou perante a pobreza e a desilusão. Os fundamentalistas que utilizam os versículos de um e outro lado, esquecem que por detrás das guerras ditas santas, existe uma outra guerra de poder. Esse poder suportado por um ideal feudal, tribal e arcaico, sustenta há gerações senhores que se dizem os únicos detentores da verdade e da representação do povo que agrilhoam. Nunca vi o Miguel Portas revoltar-se contra isto e é aqui, passo a expressão, que ele peca. Como pecaram os antecessores dele que nos quiseram dar uma imagem lavada de pureza, liberdade e democracia, onde ela não existe e nunca existiu.
O Miguel sofre de um mal, talvez inculcado pelo seu passado revolucionário e igual a de alguns partidos de esquerda que preferem defender ditaduras, relegando para trás outros aspectos, logo que elas estejam contra a política dos E.U.A.
Não concordo com o postulado dos Estados Unidos em se arrogarem os polícias de todo os males do mundo em que vivemos, mas tenho que concordar com uma coisa: se não fossem eles eram outros, e diga-se de passagem prefiro que sejam eles do que outros que utilizam métodos estalinistas e purgas sistemáticas para arrumar a casa.
Quanto à Igreja Católica pergunto quem lhe deu o direito de se exprimir contra supostas guerras quando foi ela ao longo de séculos que as alimentou e provocou: Olha para aquilo que digo e não para aquilo que eu faço.
Não posso acreditar, nem aceitar opiniões de pessoas que nunca se retrataram e apoiaram perseguições, que torturaram, que baniram e que detiveram o poder só para impor dogmas.
Entre eles e a esquerda radical, entre eles e os fanáticos que se matam a eles e a inocentes, existem poucas diferenças: apenas a de esgrimirem as suas políticas e defenderem os interesses obscuros de uma elite que nunca dá a cara.
latim Descanse em paz.
Estou a ficar nitidamente farto deste País de faz de conta. Desta mentalidade mesquinha que nos atacou. Destes políticos brejeiros que fazem promessas que sabem que nunca vão cumprir.
Isto traz-me sempre à lembrança pequenos farrapos de conversas entre amigos, a um com a sua sabedoria feita de batalhas políticas de ideais perdidos, perguntei-lhe um dia a opinião sobre o seu modelo de 1º Ministro, a resposta assaz rápida dele deixou-me perplexo:
Eu quero um 1º Ministro, que seja rico, rico monetariamente e de ideias.
A resposta dele deixou ainda no ar outra pergunta:
Nuno mas tu és comunista, então como é que é? Essas fórmulas da classe operária, aqui não funcionam?
A contra resposta deixou-me ainda mais pensativo:
Sou, sou comunista e com muito orgulho, mas não sou parvo. Sabes um 1º Ministro rico tem sempre pena dos pobres. Não quero ninguém para mandar neste País que precise da política nem para subir na vida, nem para ganhar dinheiro.
Este meu amigo nestas horas amargas que o País atravessa, devia estar a dar voltas na tumba, felizmente quando nos deixou, foi cremado.
In memória do Nuno, um amigo de causas perdidas.
latim "Outros tempos, outros costumes."
E cada vez mais, se vê mais do mesmo.
Eu perco-me por uma boa discussão, faz-me vibrar a paixão das palavras tiradas em supetão e isentas de censura. Já tenho a minha e basta-me, faz-me sempre lembrar uma entrevista dada por um actor, que ao recordar o traço azul que cobria os seus textos, estranhou que um dia lhe cortassem num excerto apenas a palavra tacho. Desculpa sensata do censor que servilmente se redimia: não é que esteja fora de contexto, mas pode ser interpretado como alguma referência pouco ortodoxa.
Já não leio George Orwell à muito tempo, tenho que rapidamente tirar a poeira do seu épico Triunfo dos Porcos, parece que ainda tenho muito que aprender.
latim "Erro de pena, um lapso no escrever..."
Cometi um lapso enorme, esqueci-me completamente de colocar nos meus links uma grande amiga e este post é única e exclusivamente para me penitênciar.
O último post dela é uma pérola, aconselho vivamente que passem pelo sítio da Inconfidente.
Lamento profundamente a polémica relativa ao meu post anterior. Depois de ter visto os comentários relativos ao assunto lá exarado, fiquei com a sensação que a mensagem que eu quis transmitir não foi compreendida. O meu machismo deixa-me discernimento suficiente para afirmar o seguinte: todos nós de uma maneira ou de outra defendemos a vida. Não discuto quando ela começa e quando ela acaba. O assunto é demasiado delicado para ser tratado neste simples post.
Se me perguntarem se sou contra ou favor do aborto é obvio que tenho a minha opinião, mas ela baseia-se em causas e não na nossa realidade. Em primeiro lugar acho que o aborto deveria ser despenalizado, eu como homem tenho uma intervenção meramente básica e reprodutora. Desenganam-se os meus amigos que pensam o contrário, é claro que esse patamar é sobreposto a outros quando inseridos na sociedade em que vivemos. Esta particularidade redutora não nos tira a importância de sermos pais, somos, quando nos responsabilizamos, tanto na concepção, tanto como na educação dos filhos. Se por acaso a nossa classe política estivesse mais preocupada em educar do que em trazer à baila temas que eles sabem de antemão trazem fissuras no relacionamento entre as pessoas, teriam a coragem de admitir que o tema não tem discussão. Os mesmos que defendem a vida, os mesmos que defendem a não utilização de contraceptivos, deveriam fazer um exame de consciência relativamente à posição extremada que têm. Deveriam antes que tudo de garantir um futuro para aqueles que irão nascer e não uma quantidade enorme de dívidas e dúvidas sobre o que será a sua vida no amanhã. Como pai estou profundamente preocupado, a mãe dos meus filhos obviamente também. A concepção deles foi um acto pensado e reflectido, estavam em causa outros sentimentos também que obviamente pesaram no nascimento deles, mas isso não invalida de que se a determinado momento da sua gestação eu tivesse por exemplo de escolher entre a vida deles e a continuação da vida da mãe, julgo que seria desnecessário perguntar qual delas escolheria. Não estaria a fazer o papel de Deus, estaria apenas a optar entre ter uma mãe para os meus filhos ou ter um filho sem mãe. É aqui, que as opiniões divergem, eu sei, mas os do sexo masculino deveriam sempre, outra vez, de ter em conta que o aborto, quer queiramos quer não é um problema no feminino, elas é que deveriam dar a sua opinião. O acto em si é uma opção que nos podemos considerar certa ou errada, nada mais. O acto de legislar pertence aos políticos, gostaria que eles e alguns de opinião contrária, as deixassem a elas como pessoas responsáveis que são, que decidam o seu futuro e o direito de ter ou não ter filhos, que não nos tratem, a nós como futuros e actuais pais, e a elas como futuras e actuais mães, como objectos de uma disputa irracional e sem nexo. Nós sabemos o queremos, portanto temos o direito de as deixar optar. Elas sabem o que querem, deverão de ter o direito de optar. Não é por considerarmos que esse acto como um crime que deixará de se praticar.
No meu post anterior quis apenas atacar a classe política que desde os tempos da outra senhora nos trata como irresponsáveis, incultos, e pior ainda sem o direito a ter opinião. Infelizmente este é o quadro, tanto à direita como à esquerda que nos é apresentado. Não quero fazer disto um panfleto político mas este caso é só mais um para que as nossas atenções deixem de estar centradas no essencial.
Já se perguntaram qual vai ser o nosso futuro? Qual vai ser o futuro dos nossos filhos? Quem é que me manda a mim meter-me nestas discussões? Que pena vai ter o Bibi? O Ferro também é culpado? E o Pedroso? E o Benfica é desta que ganha o campeonato? Quanto é que ganha o Pinto da Costa? E o gestor da EDP? O que é que eu ganho com isto? O Binoc já conseguiu ter sexo? Sexo, o que é isso? Porque é que deram o nome de um gajo russo a um furacão? Afinal quem manda nos EUA? E no Iraque? Quem é que precisa de petróleo? Bush ou Kerry, qual dos ketchups é que escolhia?
Sorry, this mission is aborted , try another round , game over...
Sou um defensor profilático da vida. Eventualmente aqueles que dizem mal dele devem sempre dar graças a Deus, pois se na altura em que foram concebidos essa prática fosse corrente e permitida, dificilmente estariam entre nós a lutar contra ele. Na verdade, pensando bem eu sou defensor do aborto, com ele não teríamos a quantidade enorme de abortos na vida pública e política que mais parecem defensores e irmãos de uma qualquer espécie em vias de extinção. Defendo ainda a eutanásia e o seppuku, em casos extremos, os nossos políticos são exímios a utilizar esses métodos, no entanto e para nosso mal continuam, qual almas penadas, a infernizar as nossas vidas e a levar os lautos ordenados para casa.
latim Disto e desta. Discorrer alguém sobre o que não entende.
O termo hermenêutica provém do verbo grego herméneuein e significa declarar, anunciar, interpretar ou esclarecer e, por último, traduzir. Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão". Não há certeza filológica, mas só probabilidade de que o termo derive de Hermes, o mensageiro dos deuses, a quem se atribui a origem da linguagem e da escrita. O certo é que já exprime a compreensão e a exposição de uma sentença dos deuses o qual precisa de uma interpretação para ser apreendido correctamente.
Estranhamos sempre todo o sentido da vida. Questionamos com fervor, cada loquaz momento em que nos defrontamos com alguma dificuldade. Tentamos sempre que os outros transportem um pouco da nossa culpa, é mais fácil do que suportá-la sozinhos.
Quando nos deparamos com alguma dificuldade, atribuímos sempre a terceiros os escolhos que nos barram os caminhos da glória ou da perdição.
Gostamos de jogar, mas jogar pelo seguro, distribuímos as cartas, guardando sempre as melhores para nós. Acreditamos em espíritos desde o homem das cavernas, acreditamos em política, nos políticos, pagamos-lhe para eles terem ideias, damos-lhes cargos e honrarias, suportamos as suas decisões sem revolta, instituímos nos tempos que correm um novo tipo de Idade Média, mas mais civilizada. Esquecemos os valores básicos de toda a nossa existência. Deixamos de acreditar em impossíveis, mas quando olhamos para o lado e vimos a miséria, a falta de cultura, a falta de paixão em toda a humanidade e não nos perguntamos a nós próprios qual o nosso papel, qual o sentido para onde caminhamos. Rotulamos novos conceitos, novas ideologias, novas doenças, novas ciências e até novas religiões. Transformamos o mundo num autêntico caldeirão de demagogia, sustentada por um capitalismo feroz, uma ânsia de viver à custa de resultados infinitos e de um usurpar de identidades. Fenecemos lentamente à procura de uma eternidade que tarda, e de que como seres humanos sabemos que é impossível de alcançar. Morremos num obscurantismo atroz a discutir notícias e factos que não interessam a ninguém, mas que nos afectam dia a dia. Fazemos filosofia barata na esperança que de algum modo alguém nos leia, que alguém nos imprima alguma luz. Essa filosofia que enaltece as almas, que nos obriga a pensar, já não é, felizmente, apanágio e redil de alguns iluminados, propagou-se, tornou-se propriedade freeware. Defendemos sempre a propriedade material, mas transformamos a propriedade intelectual num monumento ao plágio. Acabamos de criar um monstro, não aceitamos a critica como um simples acto de recriar e outros criticam só por criticar. Muitos, e não são tão poucos como isso, já se julgam Deus ou pior ainda pegam no telefone e pensam que estão a falar com Ele.
Enlouquecemos lentamente e transmitimos a nossa loucura como um vírus, esquecemos que estamos irremediavelmente perdidos, nesta nossa ânsia de agradar e sermos imortais.
Seria mais simples reconhecer que somos um pontinho no universo, que não interessamos a ninguém e que as nossas palavras, se alguém as ler, terão o efeito de uma gota de chuva no meio de um oceano batido por um furacão.
Ao defendermos as nossas ideias, estamos de forma a tentar que os outros pensem o mesmo ou as sigam. Não aprendemos com os erros da história. É verdade que nem sempre aquilo que nos transmitem é a realidade. Nunca devemos esquecer que essa verdade, essa parte da história é sempre escrita pelos vencedores. Tentamos responder às nossas necessidades com mais necessidades. Não havendo limites, os fortes impõem aos mais fracos, independentemente da sua identidade, ou dos meios utilizados, a sua vontade. Podemos sempre falar em casos extremos, vimos isso acontecer em pleno século XX, continuam por este século fora. Quando pararmos, talvez seja tarde demais, eu já não acredito na redenção, simplesmente acredito, espero que haja alguns com eu, que o simples facto de transmitirmos alguns valores aos nossos filhos e àqueles que nos lerem, que talvez consigamos sobreviver, talvez com um bocado de boa vontade e de fé, alguns de nós renasçam e continuem a saga que começamos à milhões de anos atrás, não como macacos, mas sim como simples seres humanos.
PS: Perdoem-me os meus amigos seguidores de Merleau-Ponty e aos defensores da Fenomenologia como extensão da Hermenêutica. Continuo a achar que as leis de Murphy são a melhor maneira de combater os Darth Vader do Universo.
latim Talvez algum dia nos seja agradável recordar estas coisas.
Agradeço os vossos pedidos para voltar. Como qualquer bloguista maníaco que se preze (detesto o papel de Prima Donna que volta ao palco 10 vezes para agradecer), fiz uma pausa de reflexão. Sobretudo porque sou um perfeccionista, não confundir com narcisista, ambos gostam da perfeição, só que os últimos só se revêem nela ao espelho. Acontece-me, como a qualquer ser humano, que estou numa fase má: tenho as ideias e os ideais que me norteiam um bocadinho baralhados, para além disso estou numa fase de laissez faire, laissez passer. Continuo a visitar regularmente os vossos blogs e a ler atentamente os vossos post, já sei que vai haver para aí uma jantarada promovida pelo Finúrias, aproveito para linkar esse blog ao meu. O blog dele tem um nome pouco simpático mas é deveras interessante, que mais não seja vai tentar meter no mesmo restaurante pessoas que só se conhecem pelas ideias que extravasam no teclado (espero sinceramente que corra pelo melhor). Eu não vou estar pelo menos fisicamente, mas vou estar em espírito (gosto imenso de preservar a minha intimidade e como sou coxo, vesgo e barrigudo, iria certamente transformar esse jantar numa reposição do Notre Dame, com efeitos colaterais funestos para futuras reprises). Mais um bocadinho de publicidade agora às Palavras ao Vento, que merece efectivamente uma visita mais demorada, a uma luzinha ao fundo do túnel chamada À Luz de uma Vela e ao Azul do Mar. Tenho ainda mais uns quantos para divulgar nesta minha saga, mas para não os cansar mais deixo apenas estes.
PS: Qualquer efeito de cinismo nas minhas palavras, deve-se única e exclusivamente a uma descarga de bílis mal controlada. Mais uma vez as minhas desculpas, os post scriptum, costumam ser mais leves e efectivamente não escrevi este para duplamente me justificar, apenas para que os meus amigos não se sintam abandonados pelas minhas palavras e não me julguem pela falta de inspiração.
E vamos lá a continuar f.f., lá por morrer uma andorinha não acabou a primavera.
É a mesma que preenche na noite escura, os meus e os teus sonhos.
Gosto imenso de recordar amigos que já não estão entre nós. Uns que se retiraram de cena, quando acharam que já não valia a pena continuar, outros pura e simplesmente que se desvaneceram sem terem outra opção.</font>
Apenas ficaram deles ténues lembranças, algumas boas outras más. Mas como amigos permanecerão sempre entre nós. Vou recordar uma pessoa apenas porque ainda hoje me faz rir quando me lembro de uma cena pitoresca que ela protagonizou.</font>
A Maria José, Zé para os amigos, alta, loira, bonita, mulher inteligente, recatada q. b., devido à educação que usufruiu, era incapaz de dizer uma asneira, a única mais forte que lhe saia, era porra, mesmo assim dita para dentro, por entre um ciciar pouco lúcido. A Zé trabalhava num local por onde passavam muitas senhoras, muito donas do seu nariz e dos seus pergaminhos. Não obstante ser filha de famílias bem, ela nunca o ostentou, bem pelo contrário era um bocado avessa a esse tipo de conotações. A Zé já andava farta de aturar uma dondoca, que todas as vezes que ela a atendia, passava o tempo todo a fazer comentários do género: Pois é de muito boa cepa é M da parte do pai e L da parte da mãe, e o irmão é embaixador em Paris..., depois de um esforço enorme para atender a tagarela, que lhe desbobinava toda a pedigree das famílias que conhecia e respectivos anexos, a Maria José ficava completamente fora de si e bastante incomodada. Nesta luta titânica e conflituosa, a Zé ficava sempre a perder, por um lado era uma cliente que estava a atender por outro não tinha já capacidade para aguentar tanta petulância. Até que um dia depois de ter aturado a cliente pacientemente e o seu desbobinar de árvores genealógicas, se virou para ela e disse:</font>
- Sabe eu também sou de muito boas famílias </font>
- Aí é, não sabia. Quem são os seus pais?- inquiriu a cliente.</font>
Com um rosto impassível e com classe, a Maria José respondeu:</font>
- Sou cona, por parte da mãe e caralho por parte do pai </font>
A outra aventesma, engoliu em seco, ficou sem fala, meteu o rabo entre as pernas e deixou de falar em boas famílias. Quando entrava no estabelecimento, e a Maria José era a única disponível para a atender, dava meia volta e desaparecia pela porta como se acabasse de ver o diabo. Garanto que foi a primeira e última vez que ouvi palavras de puro calão ditas por ela.</font>
In memória da Zé.</font>
latim O amigo certo manifesta-se na ocasião incerta.
Há dias em que acordamos sem sentir o significado de cada uma das palavras que quisemos esquecer.
A vingança e a raiva são demasiado profundas para saber quem magoamos.
As loucuras que cometemos têm sempre uma razão, mesmo que ela não seja transparente.
As lágrimas que vertemos, a saudade que sentimos, nem sempre vêm do fundo do coração.
Os lugares que visitamos já mudaram quando lá voltamos uma segunda vez.
As rugas que ganhamos e que fazemos ganhar, fazem parte dos sulcos da vida que trilhamos, muitas vezes sozinhos, muitas vezes acompanhados.
Não ganhamos com a tristeza dos outros, qualquer sorriso na nossa face.
Não escolhemos os amigos, não escolhemos as mãos que nos amparam na dor e nas desilusões, elas aparecem simplesmente.
Juntei mais uns quantos ao meu Vale a pena lá ir: o Fábulas, pertence a uma dona de casa muito atarefada, mas é surpreendente como entre os tachos e as panelas ainda tem tempo de nos brindar com algumas palavras; o Pandora Box´s é como diz o nome uma autentica caixinha de surpresas; ainda o Poemas de trazer por casa e outras estórias, genial e muito bom; and the last but not the lest o do JPP, não precisa de publicidade, esse Abrupto, mas devemos lá ir de vez em quando por em dia a nossa cultura e os devaneios justos de alguns leitores que o JPP pacientemente publica.
Toca a blogar pessoal.
Estive durante muitos anos ligado às actividades castrenses, mais propriamente oito anos e uns meses. Sou filho e neto de militares, portanto um bom curriculum para secretário de estado da defesa, mas com pouca vontade de ingressar num ministério onde há muitos amigos. Mas não foi isso que me levou a escrever este post.
Estávamos quase a entrar no perímetro, a noite, bastante escura e sem lua era a ideal para cumprir a missão que nos haviam confiado. Avisei os meus homens que se preparassem para o assalto final. Nos rostos pintados de negro apenas o brilhar dos olhos demonstrava o acabar da missão. Aperrei a minha arma e preparei-me para dar o sinal para avançarmos. No acampamento inimigo, não se vislumbrava vivalma e as sentinelas que o guardavam já estavam para trás a alguns metros, teoricamente eliminados. Quando dei a ordem, por gestos, algo me disse que alguma coisa estava errada, mas mesmo assim, confiante, mandei continuar. Aos gritos irrompemos para o centro do acampamento. O Bexigas, a alcunha que demos ao nosso instrutor, já estava à nossa espera. Com um sorriso cínico deu-me o bote final:
- A sua secção é uma merda, já estávamos à espera dela à muito tempo, foram todos eliminados, a sua missão vai ter pontuação zero. Podem ir comer qualquer coisa e depois podem ir dormir. Alvorada às sete. Briefing às oito com os chefes das outras secções. Pode mandar dispersar.
Seco e eficaz, este Bexigas, nem me deu tempo de reclamar. Quem tinha sido o filho da mãe que nos tinha denunciado, eu tinha quase a certeza absoluta que o inimigo nem nos tinha visto. Em dado momento tinham passado dois tipos por nós, junto a um muro e um deles, ao mijar quase o tinha feito para cima de mim, quase me ia pisando e não me descobriu. Iria dormir e amanhã com um bocado de sorte saberia o que tinha feito falhar aquela missão. Avisei os meus colegas de tenda, digo camaradas, porque na nossa linguagem, colegas são as putas e amigos os paneleiros, o KK, diminutivo de King Kong e o Modess que teria que acordar às seis para ir dar um giro. Queria verificar o caminho que tinha feito até ao acampamento e saber o que me tinha traído. Às seis em ponto recebi uma cotovelada do KK, acordei de imediato e sorrateiramente saí do acampamento. Esgueirei-me pelos caminhos que evitavam as sentinelas, não estava com pachorra para dar explicações ao Bexigas, sobre o meu desenfianço. Andei ás voltas durante um bom bocado. Não descortinava nada que me levasse a imaginar como me tinham apanhado. Estava quase a desistir quando numa vala cheia de erva, descobri a pista que queria, um bocadinho de bolacha. Fiz o caminho inverso todo a imaginar o que ia fazer ao sacana do Geleia. Aquele corpinho com um metro e noventa, era difícil de alimentar, o estupor tinha de certeza enfiado um pacote de bolachas na mochila e tinha durante o percurso todo andado a encher o estômago. Ainda por cima descuidado, tinha deixado cair bocados, que o Bexigas devia ter descoberto e seguido. Estava a rir-se por dentro mas devia ser por pouco tempo. Quanto ao Geleia iria tratar-lhe pessoalmente da saúde, uma dieta era o ideal. Cheguei a tempo do briefing, onde fomos notificados que a missão iria ser repetida face aos maus resultados, pelo que às zero horas deveríamos ser deixados outra vez a três quilómetros do acampamento para a repetirmos. Lá fomos abandonados à nossa sorte, antes de começarmos a caminhada, e a pretexto da verificação do equipamento, mochilas, enchimento dos cantis, peças soltas nas armas e a bater, quando chegou a vez do Geleia, calmamente, abri-lhe a mochila que ele levava nas costas, retirei-lhe o pacote das bolachas que o animal escondia, tornei a fechá-la sem ele dar conta e fiz sinal à secção para avançarmos. A dieta forçada do Geleia tinha começado. Pelo caminho fui comendo bolachas e deixando migalhas, na esperança que mais uma vez o Bexigas seguisse o trilho. Quando nos estávamos a aproximar do acampamento, fiz sinal ao KK para me acompanhar e ao resto da secção, Geleia incluído, que se mantivessem sem se mexer, à minha espera. Foi aproveitando e espalhando mais bocados de bolacha. Fiz um desvio para as latrinas do acampamento. Eram umas quatro, retirei com o KK as lonas e os paus que as rodeavam. Começamos a apanhar ervas e enchemos os buracos mal cheirosos quase até ao cimo, mas sem acamar. No final e no seguimento do trilho que tinha deixado, la piece de resistance, uma bolacha inteira no meio de uma das latrinas. A parte final do meu plano, estava a compor-se, contava com a argucidade do Bexigas em apanhar as pistas deixadas por mim, para depois eu não desconfiar como me tinha descoberto. Voltei para junto dos meus rapazes, segui por outro caminho e esperei pacientemente que o Bexigas experimentasse na pele a minha armadilha. Não precisei de esperar muito, um vulto a correr, depois de umas asneiradas, largadas ao acaso, entrava no acampamento. Eu aproveitei a confusão que ele levantou para entrar triunfante com a minha secção toda atrás. O Bexigas ao amanhecer, depois de se ter desfeito da farda e das botas todas sujas e de um bom banho em água fria, chamou-me à parte e confidenciou-me:
- Só ontem descobri porque lhe chamam Brains, está de parabéns.
Estendeu-me a mão para um aperto, eu olhei desconfiado enquanto estendia a minha, ele com aquele sorriso malandro que eu tão bem conhecia, disse:
- Esteja descansado já está lavada e desinfectada com álcool
Ao KK, Copo de 3, Fritz, Geleia, Calimero, Modess, Pintinhas, Jimmy, Sardinha, Peles, Catatau, Comanche, Soviético, Contraplacado e outros tantos irmãos de armas.
Qualquer coisa me dizia que devia ter acordado mais cedo, uma delas era o despertador, já tinha tocado seguramente mais de vinte vezes, aquele desenho animado a puxar do martelo para desfazer aquele toque inoportuno já tinha repassado pela minha cabeça todas as vezes que aquela peste electrónica se punha a desbobinar um sinal intermitente. O subconsciente continuava a tentar tirar-me daquele torpor, mas nada feito.
A noite tinha sido longa, os copos também, as noites de pecado na Costa são longas e quentes.
A campainha tocou e eu tacteei uma ou duas vezes para tentar perceber se a Sofia ainda estava deitada ao meu lado, abri uma pálpebra e vislumbrei apenas um bilhete do lado dela que indicava a sua saída. Leria as suas reclamações mais tarde.
Puxei umas cuecas com os pés, do meio da cama e sem tirar os lençóis, vesti-as rapidamente. A campainha continuava a tocar e a retinir na minha cabeça, fazendo um eco enorme como se o corredor que eu percorria nunca mais acabasse. Apenas de trajes menores e completamente absorto no meu letárgico acordar, premi o botão para abrir a porta, quem era o chato que se lembrava de me vir incomodar às onze da manhã. Não lembrava a ninguém. Ouvi bater na porta do apartamento e uma voz conhecida avisou-me que já estava mesmo ali. Mais uma chatice, alguém na próxima reunião de condóminos iria reclamar sobre portas de prédios mal fechadas. Absorto nesta malfada noção, apercebi-me que só estava de cuecas pelo que ao mesmo tempo que abria a porta, retirava-me estrategicamente para o quarto.
O raio do corredor era mesmo comprido, ainda tive tempo de ouvir a voz da minha mãe nas minhas costas:
- Ó João António, se não te conhecesse, diria que estás a ficar um pouco esquisito. Essas cuecas às florzinhas devem ser moda por cá, não?
Só ao passar frente ao espelho do quarto e desta vez, já bem acordado, pelas gargalhadas da minha mãe, reparei efectivamente, que o meu gosto por cuecas estava a ficar em decadência, as que usava não eram minhas de certeza, ainda bem que a Sofia não usava fio dental, as explicações sobre o uso indevido de lingerie iriam prolongar-se mais do que o necessário, também, nunca mais ia deixar de dar importância aos bilhetes da Sofia, este dizia apenas:
Beijos meu Amor. Não te esqueças que hoje chegam os teus pais.
P.S.: Não encontrei as minhas cuecas, passo aí mais tarde para vesti-las.
Foi aqui que partiram os meus sonhos, que regressaram em branco, que se esfumaram em desilusão profunda.
Quem quer fantasias sem sentido, quem quer viagens sem regresso, quem quer ficar no ponto de partida?
Quem quer beber sonhos de garrafas estilhaçadas e copos vazios?
Quem quer saber se chegaste, se ninguém te viu partir?
Exmo. Sr. Dr. Santana Lopes,
Agradeço desde já a formação tão rápida de um governo. Infelizmente julgo que a velocidade com que fez as nomeações levaram-no por caminhos atrás bastante percorridos, os anteriores governos provisórios, de má memória, também eram rápidos a ser nomeados e mais rápidos a serem demitidos. A dança das cadeiras nas secretarias de estado, também não foi muito abonatória, mas que o Jorge Sampaio merecia, merecia. Então ele não esteve todo aquele tempo a deixá-lo sofrer, aqueles 55 minutos da sua vingança foram também oportunos. Continuamos sem vislumbrar ainda o perfil dos nomeados e as (im)competências deles, mas para um período tão curto de governo, quando ele acabar, já também ninguém se lembra disso. O meu avô contou-me um dia, uma história de um pobre homem que por um crime qualquer de lesa-majestade, foi chamado ao rei. O rei homem bastante cruel condenou-o à morte, ele humildemente pediu a prorrogação do prazo por dois anos, visto ter um burro que estava a ensinar a falar. O rei mesmo incrédulo, deu-lhe o benefício da dúvida e impôs-lhe como condição, que ele ao fim dos dois anos teria de mostrar tão extraordinário fenómeno e que a pena que lhe deu, fosse aplicada. Quando o homem se retirava, um dos espectadores perguntou ao homem se este não havia ficado preocupado, visto nunca ter visto um burro a falar. Este replicou: - daqui a dois anos, ou morro eu, ou morre o burro, ou morre o rei. O governo de V. Exa. não sei ou se é o burro ou se é o rei, mas eu é que já me estou a ver lixado, eu e mais uns quantos portugueses, porque daqui a dois anos vamos ter mais uma pena ou uma factura para pagar.
A minha outra preocupação prende-se com os buracos que V. Exa. deixou nesta cidade, o buraco orçamental, que é um bocadinho inquietante e os outros que mandou abrir, eu sei que é especialista em tapar buracos ou cobri-los, conforme o ponto de vista, mas estes não devem ter merecido a sua devida atenção e o seu sucessor na câmara, não sei se terá efectivamente a sua apetência em tapá-los.
Desejo ainda que V. Exa. continue na sua saga de abrir buracos, pode ser que um dia destes, bem próximo espero, descubra petróleo e tenha assim oportunidade de resolver os problemas que afectam o País, mesmo que isso não aconteça, não deixará obra feita, mas deixará trabalho para os que lhe sucederem.
Eu já perdi a conta que me candidatei a cargos públicos, aceito qualquer vaga disponível numa qualquer secretaria de estado que esteja ainda em pensar criar, logo que não seja para trabalhar com o seu amigo Paulo Portas. Espero ainda que aquela sua ideia de transferir os ministérios para fora da cidade, que veemente defendeu como Presidente da Câmara, esteja em pé, aquele para onde me vai nomear, pode mudar-se para as Seicheles.
Sem outro assunto de momento,</span>
Para o bem da Nação,</span>
McClaymore
A Lique acusou-me de estar a prestar um serviço público de divulgação de blogs, independentemente do serviço que presto à comunidade, acho que blogar é mais do que escrever, é também ler e divulgar, gostemos ou não daquilo que lemos e sentimos. Aproveito para fazer publicidade do Vida de Casado e do Pichas Moles, o primeiro já conhecia o segundo agradeço o seu descobrimento à Explanada, no segundo terão que ter um espírito mais aberto, pois o nome diz tudo, se bem que algumas das considerações sejam fortes demais e a linguagem à moda de Braga, bastante explicita. Portanto vou juntar mais estes dois aos meus links e tratem de lá ir.
E continuamos a blogar
Aquela fotografia a preto e branco, sempre me intrigou.
Estavam lá todos, a Isabel, a Paula, a Teresa e o Rui, o que eu não conseguia identificar era quinta personagem que se encontrava numa das pontas desse idílico quadro. A Isabel com um vestido aos folhos, muito em moda nesse tempo, a Paula e a Teresa com vestidos às florzinhas e o Rui de camisa e calções. A outra figura com um vestido largo, um ar misterioso e embaraçado, contrastando nitidamente com o ar de gozo dos outros. Atrás da fotografia uma data, e uma localidade: Torreira. Todos sentados no alpendre da casa do meu avó.
Tentei nas minhas memórias encontrar uma resposta para a incógnita que me atravessava o espírito. Quem era a quinta figura. Depois de muitas voltas, não encontrava qualquer solução. Até que enchendo-me de coragem perguntei á minha mãe:
- Armanda, nesta fotografia tirada na Torreira, quem é esta menina loira que se encontra nesta ponta?
A minha mãe antes de me dar uma resposta começou por me perguntar:
- Lembras-te da casa do teu avó?
- Claro que me lembro.
- Lembras-te que a casa da Torreira tinha uma piscina, onde vocês em alguns dos dias que não queriam ir à praia tomavam banho?
- Lembro, mãe, lembro. Mas o que tem a ver a piscina com a fotografia?
- Bem filho a menina loira da fotografia és tu, sabes, como sempre com a tua mania da água, num desses dias em que chegamos à casa, decidiste mandar-te de cabeça para a piscina. Nós ainda não tínhamos descarregado as malas todas e a única roupa disponível era a da Paula, e para não passares frio, a Marília vestiu-te com aquele vestido.
E depois num ar de gozo, rematou:
- Diz lá que o teu pai não dava um excelente fotógrafo.
Eu, encavacado jurei que ia enterrar aquilo, bem fundo num álbum qualquer e todas as vezes que alguém a encontrar, vou dizer que aquela menina era uma amiga, não vou ter coragem de explicar que aquele personagem de folhinhos e tafetá é a minha excelsa pessoa.
Estou nitidamente com falta de inspiração. Eu diria mais, estou sem pachorra para blogar. Os meus amigos que me perdoem, há fases de profundo pesar e autentico martírio. Lamento estar a passar por um deles. Preciso urgentemente de umas férias instantâneas. As minhas ideias continuam a fluir, eu não tenho é paciência para as escrever. Os meus dedos estão presos e o meu cérebro não lhes consegue dar ordens.
Julgo que é um mal que se transmite, a doença das férias, é uma epidemia que nunca será controlada.
Prometo recomeçar, mal tenha alguma disponibilidade.
Eu blogo, blogue você também
Adoro histórias com um final feliz. Não sou moralista, mas nas linhas que escrevemos e que lemos, vemos sempre algo de mais profundo do que um simples repassar de palavras.
Uma banal letra de canção tem por detrás mais do que a voz que a canta, ou a música que nos atinge:
Im still young, but I know my days are numbered
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 and so on
But a time will come when these numbers have all ended
And all Ive ever seen will be forgotten
Wont you come
To my funeral when my days are done
Lifes not long
And so I hope when I am finally dead and gone
That youll gather round when I am lowered into ground
When my coffin is sealed and Im safely 6 feet under
Perhaps my friends will see fit then judge me
When they pause to consider all my blunders
I hope they wont be too quick to begrudge me
If I should die before I wake up
I pray the lord my soul will take but
My body, my body thats your job
I cant be sure where Im headed after death
To heaven, hell, or beyond to that Great Vast
But if I can I would like to meet my Maker
Theres one or two things Id sure like to ask
In The Ghosts That Haunt Me by Crash Test Dummies.
- Passam cinco minutos das oito, pode começar a servir o jantar.
Matemático, o relógio do meu avô acabava de ditar que quem se atrevesse a entrar na sala, depois de ele dar ordens para servir o jantar, o melhor era dar meia volta, contar com a generosidade da cozinheira e comer na copa.
Às vezes eu fazia de propósito, então quando a ementa não me agradava, limpinho, lá chegava eu atrasado. Não que eu gostasse muito de comer na copa, porque quem normalmente lá estava era a Marília, aquela do rabo grande, e aproveitava bem o meu anterior devaneio para se desforrar:
- Ou o menino come tudo ou eu vou fazer queixa ao seu Avô.
Normalmente referia-se às verduras e à sopa, eu engolia em seco, engolia as verduras e a sopa com os olhos fechados, enfrentar a fúria do meu avô por ter chegado atrasado, ainda aguentava, agora por não ter comido tudo, era melhor pensar duas vezes. Nem queria pensar no castigo que me poderia calhar. Desterrava-me de certeza para casa da mãe, a minha bisavó e podem crer se a Marília gostava de fazer a vida negra, a Esmeralda a criada da minha bisavó ainda gostava mais de mim, já lhe tinha feito umas quantas, já nem eu sabia quais. Não é que a casa, ficasse longe, na verdade ficava em frente à do meu avô, mas para além da Esmeralda eu tinha ainda que enfrentar os dentes dos dois pequinois que a minha bisavó adorava. Esses eram bem piores que a Marília e a Esmeralda juntas, partilhávamos um amor profundo entre nós, eu aproveitava cada distracção da dona para lhes dar uns valentes pontapés e eles retribuíam, quando eu estava distraído, com umas valentes ferroadas nas canelas. De vez em quando, lá conseguia livrar-me deles, antes de visitar a minha bisavó, tocava à campainha, abria a porta ligeiramente e sabendo de antemão que o garoto e o lord gostavam tanto de mim, mal me pressentiam, desatavam num berreiro e numa corrida para ver se me apanhavam.
Os bichinhos, de dentes arreganhados e com as ganas todas para me arrancar um bocado, mal viam a porta aberta, fugiam. Apareciam normalmente passados dois ou três dias quando do canil da Câmara, telefonavam a avisar para os irem buscar ao hotel, bastante escanzelados, todos sujos e depois de terem andado a tentar comer todas as cadelas com cio das redondezas. Também não deviam comer nada, mas disso eu não tinha culpa, tivessem umas perninhas maiores, e não obstante eu lhes dar oportunidade de uns devaneios sexuais, nunca me ficaram gratos por isso.
Depois de os soltar, eu aparecia meia hora mais tarde, para que a Esmeralda ou a minha bisavó não desconfiassem do pequeno favor que tinha feito às duas carpetes com patas.
Para piorar a minha triste sina, se o relógio do meu avô era mau, o da mãe era bem pior, era um relógio de cuco que quando soavam as oito, aqui não havia tolerância de cinco minutos, estava tramado, quem chegasse atrasado, normalmente comia só sopa, e guardado sempre pela cara de pau da Esmeralda, que na vida anterior devia ter pertencido à Gestapo. Apenas me livrei do maldito cuco, quando lhe enfiei um bocado de algodão no buraco, naquele dia comemos quase às nove, o raio do cuco não cantou.
Estava eu a pensar como é que eu mandava a Marília durante uns tempos para casa ou para a cama, quando me ocorreu uma ideia. Tinha recebido no Natal, um porta-aviões enorme, quase com um metro, com uns aviões que aterrava e descolava, como nas aventuras do Major Alvega.
O casco do porta-aviões era escuro, e virado para cima, assentava perfeitamente nos degraus das enormes escadas da casa do meu avô. Coloquei o belíssimo navio, perfeitamente camuflado num dos degraus e comecei a chamar pela criada:
- Marília, Marília, Mariíilia
Tenho a impressão que exagerei, porque passados segundos, ouvi alguém a pisar o porta-aviões, uns berros e um bater de traseiro espectacular, que até a mim me doeu.
Quando me apresentei diante da figura que havia tropeçado na minha armadilha, decidi emigrar voluntariamente por quinze dias para casa da minha bisavó, quem havia caído na minha esparrela, não tinha sido a Marília, eu devia saber que o cu da Marília quando batesse no chão deveria ter feito mais barulho e também não devia ter levado aquele sorriso parvo nos lábios. Os cães, a Esmeralda, a minha bisavó e o cuco dela pareceram-me mais fáceis de enfrentar que a fúria da minha mãe com o rabo dorido.
P.S.: O porta-aviões foi abatido ao serviço, nunca mais o vi, julgo que foi fazer a felicidade de outro petiz, e eu também nunca perguntei qual, por motivos óbvios.
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