Gosto imenso de recordar amigos que já não estão entre nós. Uns que se retiraram de cena, quando acharam que já não valia a pena continuar, outros pura e simplesmente que se desvaneceram sem terem outra opção.</font>
Apenas ficaram deles ténues lembranças, algumas boas outras más. Mas como amigos permanecerão sempre entre nós. Vou recordar uma pessoa apenas porque ainda hoje me faz rir quando me lembro de uma cena pitoresca que ela protagonizou.</font>
A Maria José, Zé para os amigos, alta, loira, bonita, mulher inteligente, recatada q. b., devido à educação que usufruiu, era incapaz de dizer uma asneira, a única mais forte que lhe saia, era porra, mesmo assim dita para dentro, por entre um ciciar pouco lúcido. A Zé trabalhava num local por onde passavam muitas senhoras, muito donas do seu nariz e dos seus pergaminhos. Não obstante ser filha de famílias bem, ela nunca o ostentou, bem pelo contrário era um bocado avessa a esse tipo de conotações. A Zé já andava farta de aturar uma dondoca, que todas as vezes que ela a atendia, passava o tempo todo a fazer comentários do género: Pois é de muito boa cepa é M da parte do pai e L da parte da mãe, e o irmão é embaixador em Paris..., depois de um esforço enorme para atender a tagarela, que lhe desbobinava toda a pedigree das famílias que conhecia e respectivos anexos, a Maria José ficava completamente fora de si e bastante incomodada. Nesta luta titânica e conflituosa, a Zé ficava sempre a perder, por um lado era uma cliente que estava a atender por outro não tinha já capacidade para aguentar tanta petulância. Até que um dia depois de ter aturado a cliente pacientemente e o seu desbobinar de árvores genealógicas, se virou para ela e disse:</font>
- Sabe eu também sou de muito boas famílias </font>
- Aí é, não sabia. Quem são os seus pais?- inquiriu a cliente.</font>
Com um rosto impassível e com classe, a Maria José respondeu:</font>
- Sou cona, por parte da mãe e caralho por parte do pai </font>
A outra aventesma, engoliu em seco, ficou sem fala, meteu o rabo entre as pernas e deixou de falar em boas famílias. Quando entrava no estabelecimento, e a Maria José era a única disponível para a atender, dava meia volta e desaparecia pela porta como se acabasse de ver o diabo. Garanto que foi a primeira e última vez que ouvi palavras de puro calão ditas por ela.</font>
In memória da Zé.</font>
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Nos bastidores da Guerra ...
. "Nada de novo na frente o...
. "Ladrão que rouba a ladrã...
. Crónicas de um Rei sem tr...
. Crónicas de um Rei sem tr...
. Crónicas de um Rei sem tr...
. Crónicas de um Rei sem tr...
. Crónicas de um Rei sem tr...