A nostalgia que nos acompanha leva a que cometamos algumas loucuras, queremos ser tudo, até compreendermos que nunca conseguiremos alcançar aquilo que desejamos. Os altruístas estarão a um passo de o conseguir mas falharão sempre a ultima etapa. Um meu professor, padre austero e estudioso, chamou-me um dia à atenção que no mundo temos muito a tendência para criar ismos, correntes de pensamento ou antologias que geralmente se transformam em metas ou espelhos de uma vida ou razão que nunca iremos compreender mas que gostaríamos de seguir. Normalmente os ismos são inofensivos, mas têm tendência a servir de base a uma legião de seguidores de um líder que se aproveita das fraquezas dos seus acólitos para lhes impor uma lobotomia estática que leva muitos à loucura e ao seguidismo exacerbado, à anulação e ao fraquejar das ideias próprias e pior ainda, leva a uma ditadura de minorias, que manipulam, se impõem aos nossos ideais, os substituem pela colectivização de um pensamento que muitas das vezes é oco e sem nexo. Nunca numa discussão filosófica com este professor, eu senti que ele como padre, ultrapassasse os seus limites como homem, dizia-me sempre que não gostava de meios termos e que aqueles que concordavam com tudo, eram tão bons ou piores do que aqueles que não sabiam com o que concordavam. O truque era manter sempre a chama da dúvida, manter sempre uma questão. Nunca lhe perguntei se duvidava da sua fé, do caminho que seguiu como padre, mas aposto que como homem que era, porque como padre não o poderia fazer, duvidou sempre, transmitiu ainda às pessoas que conviveram com ele, um sentido de vida pragmático, ajudou-nos a crescer e a ver o mundo em que vivíamos de outro modo, transmitiu ainda uma sensação de equilíbrio que normalmente nos homens de fé é pouco clara e muito tendenciosa. Não encontrei muitos como ele, mas encontrei alguns, os suficientes para me considerar um afortunado. Os meus ideais passam sempre por um acordo. Não discuto com ninguém se estão certos ou errados, questiono sempre a minha posição como a de alguém que já teve fé mas que precisa de redimir pecados obscuros. Fui criado num contexto católico mas na minha família sempre me ensinaram a ser tolerante e equilibrado, a respeitar os outros, mas sem dar a outra face. Sem sentir necessidade de me defender ou conquistar. Este equilíbrio tem uma tradução exacta numa palavra anglo-saxónica: balance, este termo traduz perfeitamente o ideal, julgo que não há palavra mais pura para definir a rectidão e a justiça do que por em dois pratos o mesmo peso e a mesma medida.
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